Quem teve o privilégio de ler O Grande Gatsby, de Francis Scott Fitzgerald, one of my favorites, que por uma destas incríveis coincidências do destino, vim a descobrir que ele nasceu e está sepultado numa cidadezinha, chamada Rockville, MD na qual morei por dois anos com minha família nos EUA.
Minha esposa que, tem o estranho gosto de visitar cemitérios, conheceu o tumulo de Fitzgerald, e voltou encantada com a beleza insólita do pequeno cemitério em que ele repousa.
Confesso que meu interesse por Fitzgerald se limita a seus livros, mas fui forçado a levá-la a Arlington, o famoso cemitério militar americano. Tem uma beleza despojada e ao mesmo tempo sombria e sem dúvida alguma histórica, pois ali repousam as mais altas personalidades americanas.
Mas o livro Grande Gatsby inicia-se assim e eu nunca me esqueci disto, coisa que assombrou minha esposa certa vez, como eu poderia lembrar uma frase completa de algo que li na minha juventude. Como eu disse num post anterior, certas memórias, às vezes permanecem por muitos anos, às vezes por toda eternidade.
“Em meus anos mais juvenis e vulneráveis, meu pai me deu um conselho que jamais esqueci : - Sempre que você tiver vontade de criticar alguém - disse-me ele - lembre-se de que criatura alguma neste mundo teve as vantagens que você desfrutou.”
Bem, meu pai nunca me disse algo parecido, mas eu conhecia ou imaginava algumas vantagens minhas, que não eram materiais como no caso do Gatbsy, mas que me permitiram olhar a vida de uma maneira mais ampla, mais espacial e menos limitada, me possibilitando um controle maior sobre o meu destino e sobre as pessoas com quem me relacionei.
Mas isto ao mesmo tempo me tornou uma pessoa um pouco diferente do padrão. Tive poucos amigos íntimos, mais especificamente na adolescência e na juventude, antes de constituir minha família. Depois que me casei, foi afastando lentamente até que, eu me lembre, não restar um único amigo intimo.
Mas sempre tive um carinho especial pelas mulheres, talvez pelo fato delas terem mais sensibilidade e os assuntos não ficarem limitados a futebol, cerveja, churrasco e mulheres. Nunca entendi os três primeiros, na verdade até a faculdade gostava de jogar futebol, mas foi só mas também sei nunca esta coisa limitada e sem sentido é a alegria do povo: eles precisam de tão pouco!
Como eu disse, acho as mulheres muito interessantes, mas não para ficar comentando numa rodinha de marmanjos, mas cada um vive da forma que gosta.
E lá ia eu por caminhos desconhecidos, me inebriando com coisas absolutamente sem sentido para maioria dos mortais. Certa vez, na minha juventude e me lembro de ler Suave é a noite de Fitzgerald, um belo livro ao som da Flauta Mágica de Mozart, o meu primeiro contato com esta ópera. Foi uma experiência insquecível. A música consegue transformar um romance e eternizá-lo em nossas mentes como se tivessemos vivido tudo aquilo. Não sei se as pessoas sentem algo assim, mas só o que eu posso lhes dizer é que, são coisas que definitivamente tornam esta nossa vida, algo extraordinariamente mágico e belo, alguma coisa que já nos faz sentir saudades antes mesmo da partida.
Mas ela também sabe ser cruel. Olhando algo que escrevi em 1982, mais exatamente em agosto, 21 que, felizmente, não lembro mais o motivo, mas com certeza algo muito doído. Felizmente tenho péssima lembrança para as coisas ruins.
“Estas são as palavras mais amargas que já escrevi. A dor que se prenunciava, irrompeu numa intensidade quase insuportável, sepultando, num repente, dias verdadeiramente felizes.
Sempre que estruturamos razoavelmente nossas emoções, que articulamos nossos sentimentos, há um desmoronar súbito, lançando por terras as ruínas que nos sustentam.
Há uma profunda perversidade nas pessoas. A crença no gênero humano é tarefa para néscios.
Como é fácil destruir e como é difícil renascer. Morremos várias vezes e nascemos diversas outras. Não saberia dizer qual a mais dolorosa. Somos meros espectadores diante da realidade dos fatos.”
Felizmente não encontrei muitos relatos assim, o que mostra que a vida em geral é muito mais interessante do que as pessoas em geral dizem, reclamando de não terem mais contentamento e de viverem num imenso vazio.
E o mesmo Fitzgerald disse:
“Os guardas mais fortes são colocados ao portão que a nada conduz. E isto talvez pelo fato de ser o vazio uma coisa muito vergonhosa para ser divulgada.”
Já conheci a muitos e já senti que uma imensa maioria vive sem ambições, sem grandes objetivos ou objetivo algum, completamente perdidas no vazio que assomaram. As vezes isto me choca, tento mas não consigo ajudar. Uma coisa aprendi, se você tem seus sonhos, isto não lhe dá o poder de ser um vendedor de sonhos. Invariavelmente faço o esforço e invariavelmente não consigo transmitir aquela centelha que vai modificar a vida de uma pessoa. Não consigo transmitir ao mundo a beleza de nossa existência. “Ao mundo” é exagero poético, pois nem mesmo aos mais próximos tenho conseguido êxito.
Às vezes, por um minuto, temos a esperança, mas sempre sei que, logo, a pessoa irá retornar para sua realidade cinzenta e sem esperanças.
Esta falta de sonhos, de ambições, de vaidades, de desejos, fé, a despeito de todas as dúvidas, todas as oposições, parece ser cada vez mais comum no universo feminino. No masculino, não tenho a menor idéia. Talvez o futebol, cervejas e outras bobagens ajudem, não sei.
Em meus anos de trabalho em empresa telecom, pude sentir o imenso vazio que havia atrás dos olhares de companheiras de trabalho: a melancolia do irrealizável, da desesperança, da solidão, das ilusões perdidas, a descrença do amor e ao mesmo tempo na sua única esperança. Compreendi que , para uma mulher, o segredo da felicidade reside em encontrar o verdadeiro amor, esquecendo-se que, a felicidade está dentro de nós. Se não sabemos ser felizes conosco, não seremos com mais ninguém.
Um amor pode nos dar a felicidade plena, a confiança, a segurança para os momentos difíceis, mas não pode dar a felicidade para quem não a possui. Ela pode até acontecer, mas vai desaparecendo lentamente e se perde, às vezes para sempre.
To Be Continued
This article is copyright to the author and may not be reproduced without permission.
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