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domingo, 28 de novembro de 2010

A Convenção de Executivos - Série: Os Executivos - Cap. 16

O Departamento de Recursos Humanos tem duas atividades fundamentais na corporação: a primeira delas é encontrar o mecanismo perfeito para garantir o maná dos executivos, ou seja, o Prêmio de Resultados, tenha as empresas, lucros ou não. Alguns RHs são muito eficientes, como por exemplo, o da AIG, por que após ter mamado 170 bilhões de dólares do governo americano, para escapar da falência iminente, ainda pagou polpudos bonus (Prêmio de Resultados) aos seus executivos, provavelmente por terem se desempenhado tão bem. O executivo de RH da AIG é hoje disputado a tapas no mercado das grandes corporações. Conhecido como o mago Prêmio Impossível, seu passe vale milhões. 


A outra atividade principal do RH é organizar a convenção anual de executivos. Claro, o RH também organiza a convenção de associados de final de ano, mas a logística desta é fácil: se não encontrar um local de eventos adequado disponível, basta alugar uma quadra de futebol de salão, enfeitá-la com balões e enchê-la com mesas e cadeiras de plástico de boteco. As cadeiras, por sinal, devem ser escolhidas a dedo pois, elas devem ir se quebrando compassadamente ao longo do evento, provocando quedas dignas de cinema pastelão dos pobre associados que vão caindo em piruetas elaboradas, dignas de dubles de cinema e assim, vão garantindo o único divertimento real dos infelizes ao longo do dia de espetáculos e palestras chatíssimas. 


Mas a convenção de executivos é um acontecimento único e todos esforços que restaram do RH ficam concentrados na sua organização muito embora, qualquer perigo real e imediato que ameace o Prêmio de Resultados, pode exigir o recrutamento total do imenso contingente do RH e assim, tirar um pouco do encanto e da magia da convenção de executivos daquele ano. 


Primeiramente se define o local da convenção pois todas as apresentações e os shows deverão estar adequados ao ambiente do local paradisíaco escolhido naquele ano, pois o Recursos Humanos, embora não seja formado por socialites, também é fashion, é elegância, é sofisticação. Como eles vivem dizendo, o RH é luz, estrela e luar, meu ioiô, meu Iaiá. 


Grandes corporações escolhem locais sofisticados como o Principado de Mônaco. O Cassino de Monte Carlo é o preferido, muito embora alguns diretores de RH menos familiarizados com o Jet set internacional, gastem um tempão tentando localizar o Casino Rayale, que eles conheceram num filme de James Bond. Chegam até enviar os agentes secretos do RH para Monte Carlo na tentativa de achar o tal casino. Tudo em vão. No final nem localizam o cassino e nem seus aloprados agentes que acabam boiando no oceano, depois de darem um calote na máfia local e perderem muito mais do tinham, apostando nas roletas de Monte Carlo. 


Outras escolhem a Africa, em algum Casino Resort seis estrelas localizados no coração da selva africana, como o Sun City, na fronteira de uma reserva contendo milhares de animais selvagens prontos para devorar alguns executivos, de preferência os Low Fat. E lá vão eles, num magnífico safari ecológico, preparado pelo RH. Escoltados pelos guias profissionais, os festivos executivos turistas seguem pela savana, enclausurados dentro dos carros, no conforto do ar condicionado, se livrando do calor infernal e dos mosquitos vorazes, na tentativa de ver algum animal selvagem e tão logo eles aparecem, fazem uma tremenda confusão, para irritação do experiente guia, um antigo caçador de leões aposentado. Elefantes viram hipopótamos, hipopótamos viram rinocerontes, leopardos viram onças e crocodilos viram jacarés da Lacoste. Definitivamente não é fácil a vida de um guia. 


O padrão é sempre alojar os executivos em duplas nos hotéis. Mas estes resorts africanos têm algumas peculiaridades, alguns possuem quartos single amplos, com camas de casal e então o óbvio acontece: algumas duplas femininas e masculinas, disputam a tapas estes quartos. 

Médias corporações escolhem o Caribe como o local ideal. E ai, acontecem algumas tragédias, como a do diretor de RH, que queria mostrar serviço economizando no orçamento e sem saber direito o que era o caribe marcou,  a convenção, por uma pechincha, em um Hotel em Porto Príncipe no Haiti. Até que as coisas não estavam tão mal, tirando a falta de comida, acomodações adequadas e energia. O problema mesmo foi o terremoto. Pobres executivos. Para muitos era sua primeira convenção e para muitos foi a última. Como recordação, ficaram algumas lápides na poeira caótica de Porto Principe, logo saqueadas. 


As pequenas empresas, fazem suas convenções no Brasil mesmo, ou no máximo em algum país do Mercosul sempre aproveitando as milhagens junto as empresas aéreas nacionais. Pontos de cartões de créditos corporativos são também utilizados para a aquisição de passagens. E, às vezes, acontecem as pequenas decepções, pois cliente de milhagem, não têm lá muitas regalias e podem ser impedidos de voar  por overbook e ou qualquer outro motivo. Por esta razão, às vezes, estas convenções começam apenas com a metade dos executivos, enquanto esperam o ônibus com os demais chegar, que às vezes nunca chegam. 


As convenções tem certos padrões que se repetem, qualquer que seja o tamanho da organização. Nos 2 primeiros dias elas primam pela monotonia, com apresentações chatíssimas sobre o desempenho de cada uma das empresas do grupo no ano. Conta-se os feitos e os mal-feitos de cada uma. Histórias de sucesso e tragédias espantosas. As piores sempre levam um pergaminho enrolado, que é utilizado no momento da apresentação do cash flow daquelas empresas. Como o telão é limitado, coloca-se o pergaminho logo abaixo do telão e então ele é desenrolado até o chão. Nele, existe uma linha que se estende até o carpet da sala e que mostra os resultados desesperadoramente dramáticos das ex-empresas.


Tão logo o CEO delas termina a apresentação ele já guarda os papeis com suas anotações e a carteira de trabalho em sua mala de viajem e sai a procura de um novo emprego. Para quebrar o clima de velório, entra em cena o abominável mister M, que chama a platéia para mais uma seção de ginástica rítmica. E os executivos ficam lá rebolando enquanto lutam para esquecer que, os próximos a irem para o mercado de trabalho podem ser eles. 


O penúltimo dia da convenção é o mais ansiosamente esperado. Sempre tem algum convidado estelar para uma palestra. E dependendo do tamanho da organização temos personalidades como: Bill Clinton contando suas aventuras amorosas nos jardins da Casa Branca; Lula falando sobre os prazeres do trabalho; José Serra dissertando sobre a gripe suína e os três porquinhos; Dilma Roussef ministrando aulas prática de homem bomba. 


Nas empresas menores, os executivos têm que se contentar com celebridades de reality shows, jogadores de futebol, astrólogos, estrelas de novelas e pagodeiros. 


E finalmente, no último dia, a informalidade entra em cena. Ela começa com os jogos de confraternização e estratégia. E a ai, a criatividade do RH é explosiva. Se o evento ocorre nas Bahamas, os executivos mergulham com os tubarões para que eles aprendam a lidar com concorrência. Se é em Las Vegas, os executivos são postos a caminhar no deserto, mais especificamente no Vale da Morte, como uma preparação para os momentos de crise que virão. Se em Brasília, os jogos se realizam no congresso nacional, para se aprender as artimanhas das negociatas, dos concorrências fraudulentas e da arte do suborno. Ou seja, o RH consegue extrair de cada local, valiosas lições que ajudarão os executivos a serem, no mínimo,  o que eram e no máximo, muito piores do que eram. 

E a noite, sempre tem os teatros dos executivos, nos qual eles improvisam situações vividas pelas empresas no seu dia a dia. Certa vez meu CEO se disfarçou de Empresa e uma Diretora, de Cliente e metade dos executivos eram coadjuvantes de Clientes e a outra metade de Empresa. Nós, os outsiders, uns três ou quatro que não acreditávamos, pois aos piores sobra intensidade apaixonada e aos melhores falta convicção, ficávamos lá atrás numa mureta assistindo o triste espetáculo: o cliente gritando, reclamando e a empresa se defendendo. E o  negócio estava pegando fogo, parecia um jantar de italianos, aquela gritaria incontrolável. 


De repente, o CEO estaca e olha para nós, os outsiders. Seus olhos vermelhos em fúria e disse: 


- Vocês aí, sem comprometimento, por causa de vocês a concorrência blá, blá, blá.... 


Seu simples olhar transformou em estátua de sal,  três dos executivos que estavam ao meu lado e eu escapei, me protegendo atrás de uma mesa, como num filme de bang bang tupiniquim. Não é fácil a vida de executivo.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Rogerio, garantir o maná, jacaré da Lacoste e outros diamantes verbais são otimos, e o aprendizado que depende do local do evento, voce nao faz outro, foi muiiiiiito bom! Tudo! Continue!
    Porque voce traduz estes textos para o Ingles, lá, teria o maior sucesso! Aqui, bem, o humor anda baixo no Brasil, ou sempre foi assim ou talvez cultura de um povo...ihhhhhhhhhh agora mesmo sou deportada! Beijos

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  3. Rogério,

    Muito bom mesmo o seu texto!
    Porem concordo com a Lana que vc deveria escrever em inglês, acho que até te convidariam para escrever um livro quem sabe não se tornaria um best seller....

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  4. Daddy, você só esqueceu de comentar que quem sobrevive para ir nas convenções pode-se considerar empregado por mais uns 6 meses. A Grande Mudança acontece logo antes da convenção. Beijosss

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