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domingo, 21 de agosto de 2011

Terrores da Noite

“Aquilo que mais secretamente tememos sempre acaba acontecendo. Albert Camus. Esta bela frase do Camus sempre me perseguiu como uma sombra. Eu sabia que ela estava alí em algum lugar, a me perseguir e por isto mesmo evitava ao máximo possível, olhar para trás. Mas o que eu não sabia é que, também acontecem coisas que sequer imaginamos e elas, talvez por serem surpreendentes, são ainda mais assustadoras.


Mas, só agora eu percebo que, durante toda minha vida, sempre agi como se fosse um highlander, um ser imortal que desprezava olimpicamente as fraquezas das demais pessoas, que muitas vezes precisam recorrer a medicamentos para vencer medos imaginários como o sentimento de pânico, muito comum nas pessoas, embora cada uma com uma razão específica. Do meu Olimpo, eu achava tudo aquilo muito primitivo e superficial e tecia meus comentários às vezes irônicos sobre uma fraqueza que eu julgava muito fácil de ser controlada.

Até que um dia, 10 anos atrás, sorrateiramente, no silêncio da noite, estando sozinho em minha cama, fui tomado por um sentimento inexplicável de pânico. Era madrugada e eu estava só e não sabia exatamente o que eu estava sentindo, era uma sensação completamente nova, algo assustador e sem controle que me fazia parecer minusculo num quarto imenso e o pior, a sensação e a de que estava sendo esmagado por alguma coisa invisível , sobrenatural e terrível, que eu queria  evitar, não havia como fugir.
Mas passou e considerei aquilo um episódio isolado, uma destas coisas inexplicáveis que nunca mais irão se repetir, até que ela acontece pela segunda vez. 


“O medo tem muitos olhos e enxerga coisas nos subterrâneos.” Esta frase de Cervantes é eterna e se encaixa em nosso mundo atual. Dois mil e dez foi um ano marcante para mim, com uma série de acontecimentos e que me trouxeram alguns medos e esperanças que eu nunca havia experimentado. E 2014 foi um ano assustador no qual perdemos uma filha, num desses acasos do destino pois, as piores coisas acontecem quando menos se espera.

Resta-nos então a verdade terrível, de que tudo acontece ao acaso, dominado por forças que sequer podemos compreender mas, era bom crer, que podemos de alguma forma traçar nossos destinos.  Depois,  os medos acabam por nos limitar ao espaço que efetivamente podemos controlar e ele é muito restrito mas, felizmente somos movidos a vaidades e sonhos que vão nos devolvendo uma confiança ilusória, de senhores do destino até que seja necessário uma nova queda para recuperarmos a realidade.





quarta-feira, 22 de junho de 2011

Anjo Vingador

Ao abrir meu Facebook hoje meus olhos se detiveram num post de uma amiga:  Homem chora morte de égua atropelada em beira de estrada no interior de São Paulo. Nele havia uma foto, triste, do homem chorando abraçado ao corpo já sem vida do animal, que ele conhecia desde os 15 anos. Talvez para a maioria de vocês isto pareça sem sentido e mesmo surpreendente, mas eu já experimentei esta dor e posso lhes assegurar, fujam dela, pois ela é como os lugares gelados e úmidos, nos quais o frio parece  penetrar até nas nossas almas.

Certa vez, quando já havia me mudado para a fazenda, uma vaca dali adoeceu e não houve o que se pudesse fazer para salvá-la. Para o leitor entender, mesmo entre os animais existem aqueles que são extremamente dóceis e pelos quais desenvolvemos uma afeição especial, talvez pelo fato de vermos neles um esboço de algo genuinamente humano, que são os sentimentos.  E eu a vi definhar lentamente e o pior,  eu podia ver toda a extensão de sua dor e da sua luta desesperada pela vida, pois os animais, diferentemente dos seres humanos, não desistem jamais, se agarrando a toda e qualquer esperança, por menor que seja. Instinto ou pureza de sentimentos?

Mas chegou o momento, não havia mais nada a fazer, era preciso tirar-lhe vida para evitar um sofrimento maior.  E é justamente a contemplação da dor sem esperanças que  nos dá a força necessária pela  solução mais radical e sem volta: a morte. Peguei a injeção e preparei a solução que  ia lhe proporcionar um fim rápido e sem dores.

Mas naquele instante, fui surpreendido,  ela me olhou direto nos olhos, um olhar triste desamparado,  como se soubesse do que estava prestes a suceder. Aquele olhar jamais esquecerei pois ele vasculhava bem no fundo de minha alma, a procura de uma explicação talvez. Eu podia compreender o seu pavor e ouvir seus gritos no silêncio, o seu choro quase infantil, a  sua súplica para que eu a salvasse, mas eu não podia. Meu papel alí  era outro: eu era seu anjo vingador.  

E então  eu introduzi a agulha  em sua veia  e  o liquido incolor e aparentemente inofensivo deslizou suavemente em sua corrente sanguínea. Por um segundo eu quis parar e salvá-la, mas a lucidez retornou rapidamente me lembrando que não havia mais esperanças. E  como um carrasco, eu pude contemplar os leves  tremores se iniciarem e se espalharem por todo o corpo expulsando a vida. A morte avançava lentamente de dentro para fora e logo já dominava os olhos que ainda, num ultimo ato de cruel coerência,  perscrutavam os meus. Mas agora não havia mais súplicas no ar, mas a desolada e cinzenta certeza da morte e sua desesperança. Eu tentei me esquivar, mas não pude,  era mais forte que eu e subitamente não pude mais conter a emoção  e as lágrimas irromperam incontroláveis e um choro doído e silencioso  se apossou de mim. Foi uma das poucas vezes que chorei, mas durou o que me pareceu uma eternidade. Talvez por isto eu compreenda tão bem o que sentiu o homem da reportagem.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Marcha das Vadias e as Redes Sociais

É inegável a contribuição que as redes sociais prestam ao nosso enriquecimento cultural. De todas elas o Twitter é o mais completo, e utilizando bem suas listas, que nos permitem separar o joio do trigo, podemos nos manter atualizados com aqueles assuntos que efetivamente nos interessam. Mas ele é menos friendly, e o Facebook tem este ambiente mais grande família e é ali que encontramos o que existe de mais heterodoxo. 


Dias atrás meu Face foi inundado de posts de uma tal marcha das vadias que, a princípio pensei que era de representantes da mais antiga profissão do mundo reivindicando seus direitos, como CLT, FGTS e aposentadoria precoce por periculosidade, mas não, no dia 18 de junho mais ou menos, ocorreu a famosa e importantíssima Marcha das Vadias (Slut Walk) em todo território nacional. 

O Movimento teve origem em Toronto, Canadá, quando um policial aconselhou às mulheres que evitassem se vestir como "vadias" a fim de evitar a violência sexual. Esta declaração infeliz, gerou uma série de protestos em cascata no mundo todo, contra a declaração infeliz do policial que inverteu a ordem dos fatores, ou seja a vitima se tornou culpada da agressão. Mas, eu suspeito que, também é uma luta pela preservação do estilo vadio de ser, modelito que nunca saiu de moda na verdade. 

No intuito de apresentar ao leitor um painel fidedigno de como foram as manifestações em Pindorama, busquei junto a minhas X-9 (informantes na gíria jornalística) um relato sucinto das manifestações em diferentes pontos do território nacional: 

São Paulo 
A cavalgada das Valquírias, quer dizer a Marcha das Vadias, transcorria dentro da mais absoluta paz quando, na Esquina da Av. Ipiranga com a São João, as Vadias cruzaram com a Marcha das Pessoas Diferenciadas. Vendo aquela mulherada em trajes mínimos, turba diferenciada partiu obviamente para aplicar a teoria do policial canadense, buscando o sexo fácil com as "vagabundas" asi no mas, que responderam imediatamente com pedradas e coqueteis molotov. A confusão foi num crescendo tal até que os manifestantes foram contidos pelas balas de borracha, cassetetes, cães raivosos e gás mostarda disparados pela tropa de choque do governo. 

A turba protestante, temendo ser massacrada, saiu em disparada no meio do rush paulista, e muitos acabaram pisoteados pelos elefantes de um circo das redondezas que, assustados com o tiroteio, trataram de se safar também, acompanhando a multidão galopante e saltitante. No final da farra do boi, quer dizer, do elefante, não se sabia mais, quais manifestantes eram vadios e quais eram diferenciados e pelo sim pelo não foram todos taxados pelo delegado de plantão, Sr. Otoridade da Silva, como vadios diferenciados. 

Curitiba 
A Marcha ocorreu sem maiores sobressaltos. Ela começou no estádio do Cocha, com pelos menos 112 vadias e muitos vagabundos simpatizantes. Em pouco menos de 30 minutos no entanto, mais da metade das vadias, foram vitimadas pelo frio glacial curitibano e cairam como galinhas congeladas no macadame envenenado das ruas curitibanas. A outra metade foi atacada ferozmente por um grupo de neo-nazistas e somente uma manifestante conseguiu terminar a marcha pela vitória galinácea: uma velhinha de 92 anos, ignorada pelos neo-nazi, que havia entrado na manifestação por engano, achando que era alguma procissão de São Lutero. 

Brasilia 
Tudo ia muito bem pela esplanada até que a líder das vadias botou a boca no megafone conclamando as vadias de qualquer raça e credo a se juntarem a marcha vagabundícea. O políticos que ainda estavam no congresso e nos ministérios ouvindo aquela palavra mágica, vadias do mundo, uni-vos, pensaram que o negócio era com eles, alguma luta da corporação pela melhoria de seus aviltantes salários e desceram em disparada rumo a marcha messalínica. Nos bordeis próximos, as vadias profissionais também resolveram aderir aquela manifestação amadora e abandonaram o restante dos políticos de Pindorama de mão e bilaus abanando, saindo em correria,  deixando um rastro de destruição e óleo Johnson pelos corredores dos covis

Rio de Janeiro 
A vadiagem saiu pelas areias de Copacabana peladas e gritando palavras de ordem. Subitamente o pelotão de frente foi dizimado por uma saraivada de balas perdidas disparadas por um chefe traficante que estava testando seu novo fuzil automático. Como o bando saiu na correria temendo coisas piores, foram atacados por um pelotão do Bobe confundidos com arrastão. O Caveirão entrou arrasando em alta velocidade atropelando as vadias ao mesmo tempo que lançava granadas de em todas as direções. A única vadia sobrevivente acabou sendo trancafiada por vadiagem.

domingo, 19 de junho de 2011

Profissão Repórter e a Voz do Povo

Deixei de ver jornalismo na TV há um bom tempo. Tudo no Brasil e talvez no mundo parece seguir modismos e o mais irritante deles em minha modesta opinião é a enxurrada interminável de entrevistas com gente comum, o famoso POPULAR, que palpitam sobre qualquer assunto. 

Se o Copon sobe os juros, lá vem ele, o Popular, no meio da reportagem dar sua insuspeita opinião. Enquanto a repórter loira e fake  ainda está falando coisas óbvias e ululantes sobre a decisão do Copon,  a imagem capta lá no fundo uma camisa amarela em zig zag, cambaleante como um bêbado na ventania. É o nosso herói popular que se aproxima para seu momento de glória. E ele vem absorto em seus poucos pensamentos, assoviando uma musiquinha sertaneja qualquer. Sua barriga avantajada de cerveja e cachaça avança na frente com pelo menos uns 4 palmos de vantagem, mas ele é um brasileiro e não desiste nunca. Logo ele alcança a repórter, mas infelizmente em segundo lugar, e a encontra  estatelada no chão, atropelada pelo seu barrigão popular. 


Ela se levanta num pulinho e atira o microfone na cabeça do infeliz ao mesmo tempo em que acerta um potente chute nas suas virilhas adiposas protegidas por air bags estruturados com a gordura de ensebadas picanhas de pingaiadas churrasquícias dos fins de semana. 

Mas a repórter tem um clic, e percebe que o popular se encaixa perfeitamente nuns dos modelitos recomendados pela emissora para o recheio das reportagens incompetentes, conhecido pelo curioso jargão técnico de A Voz do Povo. 

Se a equipe de reportagem é do Rio de Janeiro, eles sacam suas pistolas e obrigam o pobre infeliz a participar, se de outros estados, eles ameaçam o pobre e relutante coitado de entregá-lo para o SPC caso ele não dê seu depoimento. 

Rapidamente eles ministram mini-curso básico de taxas de juros, Copon e sua influência no cliclo menstrual das baleias assassinas para o abestalhado popular. 

Assim que ele volta a si, depois de ter um surto cerebral provocado por tamanha quantidade de informações de uma vez só, estimulado por uma dose de cachaça que lhe foi enfiada goela abaixo com garrafa e tudo, a reportagem reinicia. 

A reporter loira e fake pega o microfone que estava caído no macadame envenenado e diz: 

- E vamos saber o que o POVO ( elas dizem isto com imenso prazer, como se estivessem entrevistando uma cabra cega do Lula), pensa a respeito do aumento da taxa básica de juros: 

- O senhor ai , o que acha do aumento da taxa de juros do Copon? ela diz de sopetão para o Popular que ainda está com os olhos esbulhados tentando engolir a garrafa da marvada pinga. Ele ameaça sair correndo mas a vaidade fala mais alto e ele pergunta: 

- É pro Fantástico? 

Recebe novamente a tradicional bofetada e outro chute, desta vez nas canelas, pois estavam em cadeia nacional, da repórter sanguinária, para que ele se comporte. 

O Popular olha para a câmera como se fosse um pelotão de fuzilamento e começa a balbuciar algumas palavras, deixando assim sua valiosa contribuição para à humanidade. 

- Eu acho que o Copão num podia fazê isso agora não. Eu tava para comprar  o ingresso da final do campeonato in 12 parcelas. Político é tudo safado mesmo. 


sexta-feira, 17 de junho de 2011

O Som do Pará ( Call of the Wild)

Minha filha agrônoma e aventureira na Selva Amazônica,  que inspirou a mini-série  Marina Jones deste blog,  me trouxe de presente um CD de músicas do Pará. Pois bem, é muito interessante, é a primeira vez que vejo um gênero musical cujo som vem de um DJ, economizando assim, os instrumentos musicais.  Isto talvez motivado por alguma crise econômica que se abateu no meio musical Paraense gerando novas oportunidades e impulsionando a arte alí.


O  curioso é que as Bandas do tal Techno Melody, o novo ritmo Paraense, são invariavelmente lideradas por mulheres, normalmente com formato de pão francês mas quem rebola no palco é um bando de marmanjos, que dançam desesperadamente como se fosse a última vez ou talvez por receberem de acordo com a quantidade de reboladas que dão no palco sem se despencarem no meio da turba dançante. 


Estes eventos musicais ocorrem nos Risca Faca, locais onde a galera paraense se reune para desgustar o novo som do Pará, rebolar as cadeiras, flertar adoidado e praticando a fina arte de atirar facas uns nos  outros.

Sem dúvida Pará e Bahia são os estados mais musicais do país. Os baianos chegaram a desenvolver a grande invenção musical brasileira: o Berimbau, que tem uma nota só por pura preguiça. Mas, depois que Dorival Caime se aposentou, uma nova geração de baianos mais dispostos, desenvolveu o Axé Music e os trios elétricos, que relegaram ao ostracismo nossa grande contribuição a música mundial.

O pessoal do Pará pode ser até primitivo em termos musicais, mas sem duvida alguma eles têm lá seu ritmo contagiante,  sua jinga sensual e selvagem. São definitivamente um povo musical. Se o Rio de Janeiro inventou aquela coisa insossa e irritante que é o samba, que nem mesmo eles ouvem mais, o Pará inventou a festa musical. Claro, quase sempre acompanhada de duelos com pistolas, pelejas com armas brancas e emboscadas com dardos venenosos. Mas é pura nitro-glicerina.


Outra curiosidade Paraense, quem toma iniciativa da conquista amorosa são sempre as mulheres. Os homens só duelam depois para lavar a honra. Oh vida triste.

sábado, 11 de junho de 2011

Eu contra a VIVO 3G ou O Velho Guerreiro contra o Dragão da Maldade

Coletânea de posts publicados no Facebook ou no Twitter contra a Vivo 3G, em minha cruzada santa para a inclusão digital. Falando nisto, cadê o Sr. Ministro da tal inclusão digital. Aquele, marido da ministra bonitona.

Acesso VIVO 3G: a caminho do IML.
por Rogerio Rufino, sexta, 10 de junho de 2011 - Facebook
Tenho um Vivo na fazenda há mais de um ano, e me contentava com a estonteante velocidade de 50 Kbps. Pois bem, parece que a Vivo achou que isto era muito veloz e decidiu reduzir a velocidade para meros 10 Kbps. Reclamei 4 vezes: os atendentes parecem não saber bem o que é um acesso internet. Nada resolvido, reclamei na Anatel. Várias pessoas da Vivo me ligam mas ainda nada resolvido. O defeito, é na base station, mas eles continuam pedindo para eu desligar o modem, dar um reload na máquina e claro, ver se não tem nenhum sinal de mau olhado ou olho gordo na sala. Enquanto isto , no apartamento na cidade, compartilho um poderoso acesso ADSL CTBC, e já vi taxas de download de 20 Mbps. Cadê o tal ministro da inclusão digital? 

Missa de Sétimo dia de meu acesso VIVO 3G:
por Rogerio Rufino, sexta, 10 de junho de 2011 - Facebook
É com a alma consternada e traumatizada em terceiro grau, que venho convidá-los para a missa de sétimo dia de meu pobrecito acesso 3G, vitimado por febre dum dum, que o deixou em estado letárgico e catatônico nos últimos meses. No final da missa serão distribuídos santinhos do Barrichelo para próximo presidente da VIVO.

Extra. Extra. Extra. Deu no New York Times: 
por Rogerio Rufino, sexta, 10 de junho de 2011 - Facebook
Operadora VIVO 3G contrata estagiários para contar os bits trafegados pelos seus clientes. Exige-se primeiro grau e desenvoltura para contar até 60 em 1 minuto, que é a velocidade média dos acessos super-velozes da Vivo.


Finado VIVO 3G inaugura Cemitério de Sucupira! Vejam o discurso de Odorico Paraguassu
por Rogerio Rufino, sábado, 11 de junho de 2011 - Facebook
" É com a alma lavada, enxugada e constipada pela geada da madrugada, que tenho o dever funéreo e a honra de cumprir o ritual sepultaticio desta figurinha calamitosa e rastejante que é o nosso Finado VIVO 3G. Mas, vamos botar de lado os entretantos e partir para os finalmente. O nosso defunto compulsório ViVO 3G, desde sua meninice, já se enveredava pelo tráfico de dados de baixa velocidade. Nunca teve maiores ambicionamentos. Sempre foi um tipinho com grande futuro pelas costas. E agora, como antes, repousa em velocidade constante."

Extra. Extra. Extra. VIVO 3G Inova no Serviço Internet

por Rogerio Rufino, sábado, 11 de junho de 2011 - Facebook
VIVO 3G acaba de me enviar centenas de envelopes selados (com foto de uma tartaruga artrítica) para que eu possa enviar meus emails pelo correio. Certamente poderei comunicar com maior velocidade agora. Junto aos envelopes, veio uma correspondência com a missão da VIVO 3G: Conectar o maior número de pessoas em Qualquer Lugar. Se alguem souber onde fica esta cidade chamada Qualquer Lugar, me avise, pois não é aqui. 
Mas não é só isto, para cada cartinha que eu enviar, estarei concorrendo a modernas máquina de escrever, para substituir meus obseletos computadores, completamente inúteis, segundo os técnicos da VIVO 3G.
E não é só isto, juntamente com a máquina de escrever, receberei gratuitamente um mimeográfo para imprimir meus documentos. Você não se ufana? Eu me ufano. Thanks VIVO, you are my Hero.



Extra. Extra. VIVO 3G restaura a velocidade de meu acesso 3G
por Rogerio Rufino, sábado, 11 de junho de 2011 - Facebook
Após uma intensa batalha campal realizada no Facebook, Twitter e no meu Blog, a VIVO 3G, atende as minhas súplicas e desde as 13 horas de hoje, tenho acessado a Net com velocidade estabilizada em 100 Kbits, o que se trata de uma maravilha em termos de internet rural. Na fazenda o acesso ainda é 2G pois pego sinal de uma pequena cidade. Há promessa de acesso 3G ainda este ano. Thanks VIVO 3G. Now you really are my hero!.


Lamentavelmente meu acesso continua como antes e a Vivo me disse que a prioridade deles na minha área é atender o serviço de voz. No entanto, vendem o acesso Internet e cobram caro por ele. Isso num país mais sério daria cadeia.

segunda-feira, 28 de março de 2011

O que é que o Rafinha Bastos tem que eu não tenho (by Rogério Rufino)

Dias atrás o comediante brasileiro e apresentador no Brasil, do programa Argentino CQC, foi considerado pelo próprio Twitter, o homem mais influente daquela rede social no mundo. Sim senhores, ufanem-se, este desconhecido, que se auto descreve como: Funileiro e atriz, venceu Barak Obama e uma infinidade de outras celebridades mundiais. 

Ele não é o primeiro em número de seguidores, posto ocupado por uma tal de Lady Gaga, que deve ser parente contemporâneo de Lady Godiva, aquela que andava nua em seu cavalo, se cobrindo somente com seus cabelos. Eu não sei se a Lady Gaga tem cavalos ou cabelos, mas ela sempre está meio pelada, o que significa que ela tem 50% de chances de ser uma descendente direta  da doida Godiva. 


Mr. Rafinha Bastos tem apenas 1,7 milhões de fanáticos seguidores, números aparentemente modestos se comparados ao de Lady Gaga, mas que fazem dele uma personalidade com mais seguidores que o Bispo Macedo, que tem meros 35 mil fieis no Twitter,  ou mesmo o pobre Bin Laden, que tem a merreca de 622 seguidores. 

Mas o Twitter criou um a novo método de classificação para definir a personalidade mais impactante ou mais influente, o qual avalia a quantidade de vezes que aquele indivíduo foi mencionado por outros usuários ou teve seus Tweets replicados. E neste quesito, nosso Bravo Rafinha Bastos venceu, alcançando o invejável score de 90, enquanto a pobre Lady Gaga com seus milhões de seguidores conseguiu apenas 41. Mr. Bastos deixou o homem mais poderoso do mundo, o Sr. Obama, em sétimo lugar, uma humilhação. 

No New York Times de 24 de março saiu uma nota sobre o feito do Sr. Rafinha, e explicando a metodologia. Dá até  mesmo um site para que nós, mortais comuns, possamos  medir nosso grau de influência no Twitter. http://www.twitalyzer.com/

Sou relativamente novo no Twitter, alguns meses apenas, mas fui testar minha incrível influência e claro, o resultado foi zero. O site é até educado, ele não disse que não tenho influência alguma, ele simplesmente disse que minha influência é zero. 

Sem desanimar, andei dando uma checada no site para ver a força de alguns de meus competidores, embora eles não saibam que sou um concorrente. O pacifista Bin Laden tem um grau de influência 0.5, o grande Millor Fernandes 27 e o Bispo Macedo 12. Como estou a apenas 0.5 ponto do Bin Laden fiquei motivado, e decidi fazer uma reposicionamento estratégico em meus tweets para que eu tenha melhores chances de derrotar meus competidores. Vou começar com um planejamento estratégico, com plano de marketing detalhado, uma missão e negócio up-to-date com a  geração Twitter. 

Primeiramente resolvi fazer um levantamento dos riscos e oportunidades. Como meu risco é zero, pois já estou no limbo, deduzi que eu só tenho oportunidades. Minha mulher disse que era uma ótima ocasião para eu ficar calado e sair de fininho, mas ela é muito derrotista. O Sr. Rafinha que me aguarde. Continuando minhas pesquisas, tracei um paralelo entre entre meus tweets e o do Sr. Rafinha, para ver exatamente onde estavam minhas fraquezas e limitações e quais são as forças e as qualidades do Sr. Rafinha. 

Postei a minhas primeiras mensagens no Twitter em setembro de 2010, e pensei, vou agradar o pessoal do PSDB. Elas diziam: 

# Vi o presidente o presidente Lula na TV dizendo que estudar é a coisa mais importante. Não para ser presidente do Brasil ou da Bolivia. 

# Mas estamos progredindo: camarada Dilma é formada em economia com PHD em guerrilha pelo exército Cubano. Certamente um upgrade presidencial! 

E esperei animado alguma repercussão. Minha cunhada me enviou um adesivo da Dilma e uma cartilha do PT, falando de seus princípios e valores (nas Ilhas Caimãs). Meu numero de seguidores subiu para 2, minha esposa e uma freira lusitana, que serviu no Brasil com o famoso religioso brasileiro Beto Carrero. Freira Selumrai atirava panfletos enrolados em rapadura nos nativos nordestinos durante a militância do frei e só parou quando este se tornou coordenador do programa fome zero do Lula. Irmã Selmurai, decidiu então trocar o movimento social pelos pobres pelo movimento social do facebook e voltou para Portugal. 

Enquanto isso o Sr. Rafinha Bastos angariava mais 50 mil seguidores com os seguintes tweets: 

#Mulher com hiperlordose = gostosa q deu errado 

#Captei R$ 1 milhão pra minha exposição de caralhos de argila. Valeu Ministério da Cultura 

#Falta de dignidade é andar pela casa c/ as calças pelas canelas procurando um banheiro q tenha papel 

Revoltado com o fraco desempenho, decidi mudar de tema e tweetei  a seguinte mensagem em português e também em inglês esperando alguma repercussão nos EUA.

#O grande problema dos avanços na medicina é que você pode dormir sadio e acordar com uma doença recém identificada. 
Recebi uma mensagem de uma astróloga indiana oferecendo seus serviços for astrology and vastu consultancy, tarrot reading, gems stone, rudraksh, yantra, tantra, mantra, puja, jap and such other things. E deu numero de telefone e uma conta no punjab national bank. 

Mudei radicalmente minha estrtégia e decidi então lutar contra os ecologistas que, ameaçam a parar a produção agrícola no Brasil. 

#Ecologistas dizem que os 1700 mortos na tromba d'água na Serra das Araras em 67, é culpa do novo código florestal a ser votado ainda este ano. 

#Se o governo dissesse a um fazendeiro americano que ele deveria preservar 80% de suas terras ela pegaria em armas e derrubaria o governo. 

#No Brasil, governo, ONG´s, Verdes dizem o que nós, fazendeiros, devemos fazer e a gente ainda paga para se enquadrar nos modelitos deles. 

Recebi duas mensagem verdes me convidando para uma pajelança e um pedido de contribuição voluntária, em verdinhas, para o Green Peace, e e caso eu contribuísse com mais de 100 dólares, eu iria receber um foto autografada de um mico leão dourado. Que mico.

Como defendi causas ruralistas, fui seguido por um usuário chamado eu amomeucavalo e outro chamado Durmocomminhavaca. 

Enquanto isto, Mr. Rafinha continuava produzindo pérolas 

# I'm Bin Laden after 45 surgeries (I kept the nose) 

#90% das cirurgias plásticas deveriam acompanhar o procedimento de enxerto de massa encefálica. 

#Chupa Dalai Lama! Chupa Obama! 

E arrebatava mais de 100 mil alucinados seguidores. Mais parecia o Reverendo Moon. 

Desesperado, apelei para atualidades: 

#A Colombia em meio século século de trafego de drogas, terremotos e guerrilha das Farc, nos deu a bomshell Shakira. 

#O Brasil em 500 anos de paz, amor e carnaval produziu Sandy e Vanessa Camargo. (Psicografando Orson Wells) 

#No Planalto Obama se depara com uma comitiva de políticos Brasileiros vindo em sua direção. Imediatamente se joga ao chão e grita: Arrastão 

#Uma amiga reclamou que o Orkut está a cada dia pior, mas ele funciona muito bem com equipamento adequado: maquina de escrever ou mimeógrafo. 

#Em Manaus, o ex-presidendte americano Bill Clinton condenou a construção de hidrelétricas na floresta amazônica do México. 

#Bill Clintou ainda leu uma mensagem de Ronald Reagan, psicografada, contra as queimadas na Floresta Amazônica da Bolivia. Kill Bill 

Consegui mais alguns seguidores seguidores: vacaloca, pestesuina, kibeloco, flollowme (sic), mãepreta, pragademãe, pipiu e bacabau. 

Enquanto isto na arena do Sr. Rafinha...ah que se dane aquele funileiro e atriz. 

domingo, 27 de março de 2011

O Vazio Que Devora a Vida e a Alma (by Rogério Rufino)

Bem cedo,  sentimos  uma estranha e desconcertante sensação a se manifestar em nossas vidas. Ela nasce  de algum lugar sombrio de dentro de nós e vai mudando lentamente  nossa forma de ver o mundo. No princípio surpreendidos, depois desamparados, descobrimos que nada é eterno e que não podemos fazer muita coisa para evitar toda esta sensação de abandono. Tudo que existe em nossas vidas e no universo que vamos desvendando, é tão eventual quanto uma folha de outono. E a medida que envelhecemos, compreendemos que a unica coisa eterna, é a angustiante sensação de perda, que teima em nos acompanhar até o fim em nossas vidas. 


Ainda crianças, queremos ser adultos e...finalmente livres, mas quando nos tornamos adultos e experimentamos a saudade dos momentos despreocupados e felizes de quando éramos crianças, é com uma ponta de melancolia que lamentamos  nunca mais em nossas vidas, podermos reaver nossa pureza de motivos e a esperança inquebrantável de uma  felicidade duradoura, porque não se pode voltar a nenhum lugar e tampouco podemos trazer nada de volta. 

Muitos experimentam os sentimentos mais fortes de perda muito cedo ainda,  com o desaparecimento, incompreensível, de entes queridos. Os demais vão experimentando teclas, sentindo as pequenas perdas  ao longo de suas vidas, e elas se manifestam sem alardes, sem lógica alguma que,  nos permita de alguma forma, nos prepararmos para o recontro que não se pode vencer. Elas são implacáveis. Quando visualizamos um ponto frágil, alguma coisa que parece na iminência de desmoronar em nossas vidas, acontece o pior, ela nos ataca pela retaguarda e somos mais uma vez surpreendidos e não podemos resistir. 

Como ondas, as perdas nos arrastam por caminhos que desconhecemos, em rotas opostas ao que planejamos. Às vezes, sentimos totalmente perdidos mas por uma razão ou outra, elas sempre nos conduzem a lugares, não raro com uma atmosfera triste e desolada, que de alguma forma, possuem os elementos necessários para reconstruirmos. Morremos uma vez só mas nascemos diversas vezes, e em cada nascimento, percebemos resignados que, somos menos daquilo que éramos e um pouco daquilo que nunca pensamos ser. E assim no decorrer de toda nossa existência, vamos experimentando sensações e sentimentos diferenciados que parecem vir um mundo desconhecido, ao qual não pertencemos e que não podemos ver ou tocar. 

Certa vez, ainda menino, li que muitas das estrelas que eu via no céu não existiam mais a milhões de anos. Foi com uma certa melancolia que eu percebi aquelas estrelas haviam morrido e que, o que  eu via, era somente a luz que elas emitiram em algum momento de suas existências e que agora passava pela minha retina. Era como se eu tivesse vendo fantasmas. Um lampejo de uma vida já extinta. Compreendi que, mesmo as coisas  tinham uma vida determinada e que em algum momento de sua existência, ela se perdia, mas suas formas continuavam em algum lugar, viajando no espaço frio, sem vida, escuro e infinito. E que, algumas daquelas estrelas, depois se transformavam naquilo que os astrônomos chamam de buraco negro, um imenso vazio cósmico, que parece ser igual ao vazio que habita o interior dos seres humanos e que parece querer sugar tudo aquilo que está a sua volta: toda e qualquer manifestação de vida. O buraco negro vai se alimentando de astros, estrelas, poeiras estelares e luz. Ele não perdoa sequer a ultima manifestação de uma estrela já extinta, os últimos lampejos de uma existência milenar. Um devorador de vidas e de almas e não podemos vê-lo, talvez por ser alguma coisa muito vergonhosa de se mostrar. 

E cada pessoa, uma mais outras menos, tem o seu devorador de vida e de almas. Muitos conseguem de alguma forma controlá-lo e o vazio não consegue se estabelecer totalmente. Ele fica lá, em algum lugar, acumulando energia, forças, para que, em algum minuto de fraqueza,  ele possa se irromper como um vulcão furioso e destruidor. Mas para muitas pessoas ele avança desde muito cedo e logo domina os olhos que se apresentam tristes e sem vida, como a espera de alguma coisa que possa resgatá-las daquela imensidão que assomaram mas, em geral, o que  podemos perceber, é a perda contínua das últimas gotas    de esperança ao longo do tempo. Gostaríamos de ajudar, tentamos, mas em geral podemos fazer muito pouco. Tal qual um buraco negro, a luta é desigual, a força descomunal do vazio de trevas abissais só pode ser vencida por alguma coisa que não é deste mundo, pela luz, pelo poder de uma inteligência maior que, penso eu,  em algum lugar sofre e chora por nós. Mas quem determina se esta luz pode ou não entrar é cada um de nós. É a única coisa que temos o poder absoluto. 


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Instintos Indomáveis - Alegrias e Tristezas (by Rogerio Rufino)

Nunca me interessei muito por cachorros, até o dia que minha esposa trouxe para a casa da fazenda um filhote de 2 meses, uma cadela vira-latas. Isto foi em 2005 se não me engano e claro, uns meses depois tanto eu como minha esposa desenvolvemos um tipo de amor que eu desconhecia, por aquele animal, que se chama Lana. Logo depois, minha filha Marina trouxe uns pinschers que foram recebidos com muito carinho para desespero da minhas sogra que odeia cachorros.

Lana se tornou uma cachorra amiga e fiel e eu me desconcertava com sua fidelidade. Um ser humano pode trair outro ser humano com a maior facilidade, mas não peça isto a um cão, ele morreria por você e jamais te trairia. É algo que não podemos entender. Aparentemente os seres humanos, mais complexos e superiores, em sua evolução desenvolvem um sem número de sentimentos e comportamentos que os seres mais simples sequer conhecerão. Mas nem tudo é belo como veremos depois.

Um ano depois, nosso cachorro pinscher chamado Duke, atacou de uma só vez, três cães vira-latas com quatro vezes o seu tamanho. Foi literalmente destroçado mas não perdeu a vida. Estirado na estrada se esvaindo em sangue, não permitiu que minha esposa o tocasse, pois estava tomado pelo terror, que podíamos ver claramente em seus olhinhos. Minha esposa completamente desnorteada, e chorando muito me chamou, e então eu pude tocá-lo, pois nestes momentos, se você mantém o controle, uma comunicação se estabelece e acredito que o pequeno Duke pode compreender que eu iria tentar salvá-lo, que eu era sua esperança, se é que este sentimento ou sensação existe entre os cães.

Os cachorros haviam rasgado seu corpo em vários lugares, de tal forma que se podia ver seus órgãos pulsando em meio ao sangue que escorria jorrava e já escorria entre meus dedos. A vida ia lentamente se deslizando para longe. Não é algo fácil de se ver. Coloquei-o entre meus braços e o levei de volta a casa da fazenda. Não latia mais, havia simplesmente um choro doído, como o de uma criança,  acompanhado de tremores, como se estivesse acordando de um sonho. Uma vez em casa, fiz o que me pareceu ser mais prudente e lentamente fui lavando seus ferimentos. Enquanto isto eu ia  imaginando a dor dilacerante que ele deveria estar sentindo, mas não tinha outra opção. Quanto lutamos para salvar uma vida, não titubeamos mas, acho que sentimos ao mesmo tempo um certo tipo de dor também, a dor pela nossa impotência diante fatos como este. O sofrimento de pessoas e também de animais, é algo que nos dilacera a alma.

Terminado o banho, desinfetei os ferimentos e pedi (ordenei) a minha esposa que o costurasse enquanto eu o segurava, pois mesmo ferido ele tentaria morde-la, pois não havia como ele entender, por que diabos ainda  iríamos feri-lo outras vezes. Coisas que não se explicam. Certas cenas despertam-nos sentimentos desconhecidos, dolorosos. Em minhas mãos havia um pequenino ser, que não sabíamos se iria sobreviver ou não, num choro profundo e assustado, os olhos como que pedindo socorro para que eu o salvasse de todo aquele pesadelo e eu nada podia fazer. Aquilo só reforçava minha certeza de  ser limitado no tempo e no espaço, mas enfim, era melhor fazer o esforço, pois quando há dúvida, ainda há esperança.

Mas ele sobreviveu após traumáticos dias (meses) de convalescência e dos cuidados de uma ótima mãe, minha esposa.

Mas havia outro pinscher, o Bob, um cachorro diferente, amigo, mas distante. Não tinha o apego dos demais nem tampouco seus medos, que faziam com que eles, ao menor barulho, buscassem proteção junto a nós. Bob não, sempre distante, carinhoso mas errante. Vivia se deslocando pelas fazendas da região e um dia, mesmo com uma patinha imobilizada, pois a havia quebrado num salto da varanda da casa, saiu para uma das suas incursões pelos vizinhos e nunca mais voltou. Por dias minha esposa espalhou cartazes na esperança de localizá-lo. Um certo dia, um conhecido nos disse que havia visto um cachorro, idêntico, numa usina de cana de açúcar da região. Fui como uma criança, cheio de esperanças de encontrá-lo com vida e que tudo voltasse ao normal. Mas nem sempre se pode trazer algo de volta. Por alguns minutos pensei, mas que coisa mais esquisita, estou carregando o sentimento de reencontrar uma pessoa amada mas depois compreendi que o ser humano é capaz de amar não só seus semelhantes mas também outros seres da natureza do qual ele faz parte e que, cada vez mais me convenço, faz parte de um todo, que pouco a pouco  estamos destruindo por força ou submissão. Na verdade iniciamos há muito o processo  de nossa própria perdição e certamente existe um ponto certo, do qual não poderemos mais retornar.

Certa vez uma novilha de uns 300 kg invadiu os jardins da casa e foi caminhar exatamente em cima da lona grossa que cobria a piscina e que se rompeu aprisionando a novilha em baixo d’água. Os momentos de terror do desespero do animal ativou alguma coisa no pequeno pinscher Duke, que buscou ajuda de sua salvadora, minha esposa, que naquele momento dormia tranquilamente. Cachorros não falam, mas se comunicam através de latidos um tanto diferenciados e dos movimentos, para frente e para trás como que querendo nos dizer para acompanhá-los, pois a coisa é séria. Minha esposa, não teve dúvidas, seguiu o Duke, que disparou em direção a piscina e chegando lá, ela pode compreender toda extensão do problema. Não havia muito o que ela podia fazer pois não se pode tirar um animal de 300 Kg de dentro d’água sem ajuda de um trator. Mas felizmente a piscina possui escada em alvenaria que desliza suavemente dentro d’água e a novilha pode encontrar este caminho e saiu sacolejando o couro para se livrar da água que encharcou o pobre Duke, o seu salvador e que ela nem tomou conhecimento. Duke permaneceu alguns segundos olhando para ela atônito como um.... um cachorro molhado.

Mas nem tudo é memorável, nem tudo é grandioso. O velho bardo já dizia que “Somos para os Deuses como insetos para meninos vagabundos: eles nos matam por divertimento.” Aprendi que assim é a vida para um cão. Eles matam outros animais por diversão, pelo simples prazer de matar, atendendo seus instintos mais primitivos. Começaram eliminando os lagartos que circundavam a casa. A cena deles tocaiando os pobres lagartos são inacreditáveis. Nada é capaz de distraí-los ou fazerem com que mudem de idéia. Nem comida, nada. São completamente hipnotizados por suas presas e só desistem depois de eliminá-las. E tão logo a vida cesse, eles abandonam suas presas, como se elas  fossem um objeto qualquer, uma simples pedra. Não há ódio,  mas é possível identificar um perverso prazer no instinto de matar, afinal a natureza usa o prazer para garantir que os instintos (lei da vida) serão cumpridos.

Salvei alguns pobres lagartos da sede justiceira dos meus cães e pude compreender, pela respiração deles, todo o terror que estavam sendo submetidos. Um lagarto não tem expressão, mas podemos ver o coração prestes a explodir. O horror, o horror .

E dias atrás vi uma cena chocante, o nosso justiceiro e sofrido Duke, devorando com prazer, dois filhotes de rolinhas fogo-apagou que haviam se lançado em sua primeira e última tentativa de vôo. Na área da casa, pássaros de todas as matizes, constroem seus ninhos e, infelizmente agora, o justiceiro Duke, conheceu seu prazer desconhecido, o vermelho e quente gosto de sangue. Um prazer que é inerente a vida dos cães, animais que domesticamos há milhares de anos, mas que permanecem com os mesmos instintos selvagens. Tentamos por anos evitar que eles despertassem este prazer pelo sangue, pela morte, pela carne crua, mas como aprendi com Michael Crichton, "Life always find a way", a natureza sempre encontra um jeitinho para sobreviver. Não se pode trazer nada de volta, não há mais nada que possamos fazer para que o velho e bom Duke esqueça daquele gosto. Só vigiar, pelo jeito.

Certa vez minha filha ganhou uma Border Collie, que chamamos carinhosamente de Chloe. Um cachorra inteligentíssima, raça muito usada no pastoreio de animais. No começo foi ótimo, uma cachorra excepcional, que quase podia entender o que queríamos. Toda expressão dela estava nos olhos e eles diziam muito. Mas o que não sabíamos era, que ela pertencia a uma raça de caçadores por excelência e não havia condicionamentos capazes de evitar que seus instintos aflorascem. Ela atacava simplesmente tudo que se locomovia. Mas não queria matar simplesmente, o seu prazer era a tocaia. Ela pegava minhas pobres bezerras desmamadas, de uns 120 Kg cada uma, mas de 3 meses apenas, e as conduzia para onde ela queria e as mantinha confinadas numa pequena área delimitada por linhas imaginárias que ela estabelecia e qualquer bezerra que ousasse ultrapassar aquelas linhas, eram castigas sem piedade. Ela mantinha as bezerras ali por horas, sem água e sem comida. A tocaia era o seu prazer. Parece que as raças mais primitivas de cães tem o prazer na morte de suas presas. As raças mais desenvolvidas têm mais mais prazer na elaboração das estratégias que conduzem a captura de suas presas. 

Tivemos que doá-la, infelizmente, para resguardar a integridade das bezerras e só o fizemos quando tivemos a certeza que ela seria bem tratada, como era aqui na fazenda. Foi uma perda. Não tivemos ainda a coragem de voltar a vê-la. 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Casamento e o Chamado da Vida

Como já disse em um texto para todo sempre perdido em algum lugar deste blog, fiz engenharia elétrica por uma causa nobre: dinheiro. Mas o curso se transformou num pesadelo para mim, sendo responsável pelos piores 5 anos de minha vida. Sentia-me no passado, lidando com aquelas coisas que me lembravam Matusalem, grandes motores, transformadores e geradores elétricos. Entrar na sala de aula ou laboratório era como entrar numa máquina do tempo de H.G. Wells e ser tele-transportado lá pelos idos de 1831 quando Faraday inventou o gerador elétrico. Nada muito atraente, nenhum sex appeal, no máximo, algumas teias de aranha, muito mofo e histórias do mundo antigo. Às vezes, alguma explosão, um curto-circuito que espalhava fagulhas em todas direções, acordando boa parte dos alunos.

Aqueles anos foram muito sombrios e relendo um memorial da época, fiquei surpreso ao perceber o quanto fazer alguma coisa que não gostamos pode nos  entristecer. Não se trata deste mal do século que muitas pessoas parecem ter hoje e dia, que é a tal depressão, responsável pelos fabulosos lucros da indústria farmacêutica com os remédio tarja-preta, o que me faz crer que, se a depressão não existisse, ela seria criada, sem nenhuma dúvida, pela indústria, pelos psiquiatras, psicólogos e escritores de auto-ajuda.

Acho que nunca tive uma depressão, mas sei da devastação que ela provoca nas pessoas e seguramente, contribui para o aparecimento de doenças, algumas graves, provavelmente o tiro de misericórdia, como que atendendo algum chamado subliminar das pessoas que se enveredam ou se entregam por este caminho sem esperanças, numa brutal indiferença. 

Naquela época eu sentia o sofrimento de estar descontente comigo mesmo e com aquele rumo que havia escolhido para minha vida e isso se traduzia numa quase constante melancolia que me acompanhava, às vezes, mesmo na presença de uma namorada ou outra. Eu estava ali fisicamente, era gentil e carinhoso, mas na verdade estava em outro lugar há muitas milhas dali. Far from home. Mas, talvez esta ausência seja apenas uma característica adquirida em algum momento da minha existência ou mesmo transmitida através de uma falha em um determinado gene no meu DNA. Nunca saberei.

Claro, havia momentos muito felizes, mas hoje quando olho para trás percebo que eles sempre aconteceram nas férias ou em alguma greve geral da Universidade,  afinal, apesar das duas férias anuais, estudantes e funcionários da universidade sempre queriam um descanso extra e as greves, às vezes duravam 2 ou 3 meses. O que me faz crer, que a maior expectativa de vida no Brasil se encontra entre os funcionários das universidades, que possuem uma vida sem o stress convencional dos demais trabalhadores. Mas, isto é uma defeito do sistema e não das pessoas e é provável que se eu estivesse na universidade, e olha que até tentei, também estaria lutando por meu direito de greve. A vida é assim. Somos como camaleões, mimetizados a semelhança do meio ao qual pertencemos.

Tenho registros de 1982 a 1985, o ano em que me casei e parei com o memorial, o que hoje lamento. Mas verdade seja dita, toda a melancolia que se podia perceber naqueles registros, desapareceu como num passe de mágica com o casamento e foi substituída por outros sentimentos diversos pois num casamento há momentos difíceis, mas nunca há o abandono, não há como você se sentir desamparado. Você sempre sabe que pode contar com alguém nos momentos mais difíceis.

Engraçado isto, tudo parece ser simples quando não se casa, porque você é o único dono de seus desígnios, mas acontece algo inesperado: se você está só, isto tem uma importância apenas relativa e na verdade você não é dono de coisa alguma. O destino, vai lentamente assumindo as rédeas e vai te conduzindo, numa brutal indiferença, pois como John Donne disse, “nenhum homem é uma ilha isolada”. Acredito que a solidão acaba por minar aos poucos a segurança que nos possibilita as decisões mais difíceis, mais arriscadas e assim, um a um, vão caindo os pilares que nos sustentam e nossos sonhos vão se definhando e se extinguindo, um a um. E a vida termina quando se acaba o último sonho. Pode-se até sobreviver mas é como se estivesse numa UTI da vida e com ajuda de aparelhos, os tais tarjas pretas ou outras coisas menos lícitas.

Quando menino eu li e reli um livro de Jack London chamado Call of the Wild (Chamado da Selva ou Chamado Selvagem), no qual um grande cão doméstico é levado numa viagem ao Alasca e ali entra em contato com os lobos o que vai despertando nele seus antigos instintos e ele lentamente vai retornando à vida selvagem.

Acho que assim acontece com o casamento, há um chamado maior da vida e aos poucos vamos sendo aliciados e nos entregamos a ele. É chegado nosso momento de criarmos uma família, filhos e fazermos nossa parte para perpetuação da espécie humana. Acho até que uma vida humana pode ser plena mas certamente não será completa sem esta fase.

E com os filhos vem uma miríade de novas sensações e temores. Passamos a ter medo de tudo, pois alguma coisa nos mostra a fragilidade da vida. Certa vez, minha filha mais nova, Marina, com apenas um ano, precisou de uma radiografia e naquele momento em que a segurei para o raio RX ela me olhou profundamente nos olhos. Havia choro ali mas havia muito mais, havia um claro e silencioso pedido de socorro, pois entendi que para ela, eu era sua única esperança, a ultima salvação. Aqueles olhos nunca mais esqueci e depois de muitos anos a cena se repete, com minha outra filha, kelly já com 26 anos, quando me olhou nos olhos e disse:

- Pai, você vai me deixar? -conforme descrevi no artigo Torrente de Emoções.

Ah os olhos! Sempre fui muito sensível a eles, pois eu penso que sempre consegui ver todas as emoções que parecem jorrar, incontidas, deles. Palavras não são necessárias, eles concentram toda a emoção e neles podemos ver às vezes os danos que causamos a outras pessoas e vice versa. Pois, por uma destas imperfeições da alma humana, aparentemente desenvolvemos o estranho hábito de ter mais facilidade de ferir aqueles que mais amamos. E aí podemos visualizar toda a extensão de nossos danos, mesmo que não intencionais, nos olhos daqueles que amamos e por isto sentimos tanto e sofremos tanto, pois acho que este é um mecanismo da natureza, do criador, de inibir a brutalidade inata do ser humano e  tornar as pessoas mais sensíveis, mais humanas.

Mas sei que nem todos casamentos são como diamantes, eternos. Na verdade, alguns são tão efêmeros como uma chuva de verão e muitos nem deveriam ter acontecido. Mas, em algum momento da vida de cada um, vai se ouvir o chamado da vida (Call of the Life) e em minha opinião melhor responder, pois pode não se ter uma segunda chance, pois nossas vidas não tem segundo ato.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um dia em 1984 (by Rogério Rufino)

Muito tempo atrás, fascinado com Memorial de Aires, de Machado de assis, resolvi escrever também o meu próprio memorial que, obviamente se perdeu no limbo da história mas que recentemente eu reencontrei. O texto a seguir  foi extraido do memorial desconhecido e nele podemos observar que não há obra verdadeira: escrevemos influenciados por aqueles que admiramos. O texto tem um ceticismo incorrigível como se isto o fizesse digno de Machado de Assis. Mas depois de reler eu percebi que a influência maior é de Eliot, o maior poeta americano. Não levem o conteúdo muito a sério, foi mais um exercício de palavras, extraindo o melhor das palavras  e tornando o texto atraente aos possíveis leitores. Estive relendo os artigos, eles variam de uma alegria incorrigível a uma tristeza definitiva passando por textos de ironias pontiagudas e sarcasmo incorrigível. Ah, os jovens!.


15 de Maio de 1984 – 22:56
Às vezes irrefletidas ambições nos seduzem, conduzindo-nos invariavelmente a resultados surpreendentes, freqüentemente decepcionantes. Deve ser a terceira tentativa para iniciar este breve relato, reminiscências de um dia fútil, nada especial mas às vezes fracassamos, contudo, obstinados, persistimos e tornamos a fracassar novamente. Mas não desistimos, talvez uma prova de nossa suprema irracionalidade.

Certas perguntas me atordoam por serem especialmente cruéis. É difícil respondê-las; quem , poderia explicar o que é o gênio ou de que vale a vontade se não possuímos o talento? Claro certamente não podemos compreender bem estas questões por sermos desprovidos de uma coisa ou outra. Triste conclusão. 

Mas não basta.Desta forma, mesmo que ambiguamente estaríamos admitindo que conhecemos parte da resposta e que talvez, mesmo difusamente, temos uma vaga idéia do que vem a ser estas duas palavras tão veneradas e ambicionadas. 

A medida que envelhecemos e adquirimos a capacidade, muitas vezes desagradável de comparar, de nos julgar, de avaliarmos o que somos e o que fizemos, os fatos e os acontecimentos descaracterizam-se e já não despertam mais a emoção. Nossas sensações diminuem pois o elemento novo, o elemento surpresa deixa de existir na maioria das vezes. Simplesmente as coisas acontecem e se tomamos conhecimento do fato, ele sequer nos desperta a curiosidade, simplesmente ele nos arrasta numa indiferença como folhas levadas ao vento. Há uma componente fatalista em nossas vidas, ou pelo menos somos fracos o suficiente para que o destino possa nos conduzir cegamente, como se não fosse possível impedir ou alterar nossos caminhos. Os acontecimentos, muito antes de termos nascido, será que já foram todos determinados e nossa atuação é meramente passiva, sem poder algum para modificar o curso destes acontecimentos. É uma hipótese tentadora quando nos sentimos derrotados e já não vemos muito sentido em lutar. Sem dúvida um consolo, para os destituídos de vontade, dos que não encontram mais o sentido da vida e que apenas remam, indiferentes, certos de que nada vale nada, mas, enfim, melhor fazer o esforço. 

O tédio às vezes é mortal, mas estranhamente em outras é estranhamente agradável. Há uma tristeza doce que nos embriaga mas ela é tão rara. Infelizmente, na maioria das vezes o que sentimos é tão somente angustia, que corroi como o câncer, destruindo nossa capacidade intelectual, tornando-nos egoístas mesmo contra nossa vontade. Dificilmente podemos restaurar o que perdemos nestes dias de amargura.Morremos um pouco a cada dia e não podemos reviver. É como se tivéssemos várias vidas e fóssemos descartando-as lentamente ao longo do caminho até que não sobrasse muita coisa. Aí, descobrimos o estrago e tentamos, quando ainda temos motivos, desesperadamente conservá-las. Mas não há muito a fazer. Se as vidas são muitas, elas são, todavia, muito frágeis, e se enfraquecem ainda mais com o tempo até que um certo dia , surpreendidos, vemos a última delas escapar de nossas mãos e não podemos mais renascer. È bom crer, acreditar na eternidade, mas a dúvida as vezes corroi nossa  alma. Como clandestinos em um navio, não sabemos qual o destino que nos espera. 

Por que Lutam os homens entre si? Não podem ganhar a vida, visto já possuírem na. Arriscam apenas a perdê-la. A insensatez humana não tem limites. Se bem que os que lutam geralmente desconhecem as razões e lutam e morrem obedecendo ordens. Não questionam e nem vêem que são peças de um tabuleiro onde homens poderosos jogam com a vida de muitos, partidas de poder, ambição, loucura e desfaçatez. 

Uma hora se passou, e não mais voltará. É possível que o passar do tempo seja unica coisa absoluta, como disse o bom velhinho Einstein. Para ser mais exato, ele disse que a única  coisa absoluta é a velocidade da luz. Na Física talvez, mas para isso nós não importa muito: o tempo é o que conta e ele costuma ser implacável. 

23:50

                                   
                                    

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Primeira Paixão, Capitu e Elephant Gun (by Rogério Rufino)

Quando eu tinha 13 anos, me apaixonei deliciosamente por uma menina um pouco mais velha do que eu. Foi minha primeira paixão e pensei que seria eterna mas, durou apenas alguns meses e logo eu me apaixonei por uma outra e mais uma vez achei que aquela paixão seria a definitiva e duraria por toda a eternidade...mas cedo percebi que ela era tão eventual quanto uma folha de outono.

Da primeira, não guardo muitas lembranças, mas sei que ela tinha belas pernas, cabelos lisos curtos pretos, um sorriso lindo de menina e um olhar vago e fugidio como se escondesse alguma coisa muito vergonhosa para ser divulgada. Claro, este misterioso olhar impulsionou minha súbita paixão mas, mesmo os mistérios mais recônditos, mais cedo ou mais tarde são esclarecidos e, muitas vezes, descobrimos um tanto surpresos e decepcionados, que aquele olhar misterioso que tanto nos seduzia, escondia nada mais que um grande vazio, a alta ausência que parece preencher um pouco da alma de cada pessoa, às vezes, completamente.

Interessante que, vim a descobrir, lidando com a terra, que a natureza não admite o vazio: não existe terra nua. Se eliminarmos a vegetação de uma área, não há nada que impeça a terra de germinar uma infinidade de plantas, incluindo algumas que não existiam naquela área. Não, o vazio parece ser uma condição terrível e absoluta  da existência humana apenas. Mas esta é outra história...

Minha primeira paixão era 2 ou 3 anos mais velha que eu mas eu que ensaiava os primeiros passos de um futuro explorador de emoções milimétricas presentes em cada ser humano, ia aos poucos visualizando seus mistérios (defeitos?) que ela deixava transparecer em seu olhar, no sorriso ou nos pequenos gestos. Mas, amigo leitor, eu adorava desvendar os supostos defeitos dela, pois era extremamente sensual minha recém adquirida atividade de explorador aventureiro das emoções humanas. Infelizmente, como eu disse, todo mistério tem prazo de validade e logo a sensualidade vai se desfazendo, como num retrato de Dorian Grey.

Na mesma época, comecei a ler Dom Casmurro de Machado de Assis e fiquei deslumbrado. Há ali uma menina mulher extremamente sedutora (Capitu) e Machado primou pela sensualidade oblíqua e dissimulada, como os olhos de Capitu. Machado lida com os mais diversos temas em Dom Casmurro como: a sedução, o desencanto, o ciúme incontido, a traição em sua diversas formas, a dúvida eterna, o remorso, a desesperança e o pior de tudo, a certeza de que nada vale nada mas melhor fazer o esforço. Acredito que todas mazelas humanas estão ali e curiosamente se ele mencionou virtudes, não me lembro. Definitivamente Machado era um "desperado", um pessimista, como ele mesmo diz: “ Não tive filhos, não transmiti ao mundo o legado de nossa miséria”. Mas a despeito do caráter melancólico do livro ele é insuperável. Um clássico e como todos clássicos ele possui a juventude eterna.

Vejo raramente televisão, mas certa vez, de passagem pela sala, fui atraído por uma musica, alguns segundos apenas, nada mais. Era uma banda desconhecida para mim, chamada Beirut, performing uma música (Elephant Gun) que foi usada pela globo em sua série Capitu. Talvez uma das mais belas músicas populares que já ouvi e imediatamente me lembrei de George Orwel em 1984: “ Como é poderosa a música popular” disse um personagem do livro ironizando as músicas produzidas pelas music machines do livro para as pessoas simples do livro. O livro 1984 trouxe ao mundo o Big Brother, que diferentemente do que muitos pensam, não é um programa de televisão, mas sim a personificação da vigilância totalitária e onipresente do estado sobre todos cidadãos, sistematizado em aparelhos de TV com a figura do Grande Irmão, observando permanentemente o que os habitantes do país em que se passa a história do livro faziam ou falavam.

Eu visualizava todas as cenas memoráveis de Capitu e Bentinho em minha imaginação e lógico me deleitava misturando Capitu com minha primeira paixão. E quando acontece algo assim, quando inadvertidamente misturamos realidade e ficção criamos sem querer um mundo irreal algo muito próximo dos sonhos. Pode-se dizer que sonhamos acordados.

Capitu passou na TV há uns 2 anos mas, só esta semana assisti a série e logo nas primeiras cenas recuperei parte de minhas memórias perdidas “na argila do sono”. O diretor da série, Luis Fernando Carvalho, que não tenho a menor idéia de quem seja, é um ser iluminado e com um sensibilidade de um artista. Ele conseguiu, apesar do choro e ranger de dentes da maioria dos críticos , pelo que pesquisei no Google, traduzir em imagens o universo de Dom Casmuro numa fidedignidade impressionante reunindo diversas formas de arte para atender toda a dimensão dos sonhos de sedução machadiano e sua melancólica decepção com a humanidade. Pode-se dizer que ele reinventou Machado através da Ópera, Cinema Mudo, Música ( do rock ao clássico). Toda ação acontece em um espaço único sem paredes. Como num teatro, os cenários continuamente mudam. O quintal e o muro que separa as casas de Bentinho e Capitu foram desenhados no chão, em giz e é ali que acontece uma das muitas cenas sensuais entre Bentinho e a Capitu menina sempre embaladas ao som de elephant gun ou alguma outra musica que se encaixa perfeitamente. Admito que não é uma obra de apelo popular, pois hoje em dia tudo tem que ser direto, so sturdy, so straight, e o diretor muitas vezes trata as imagens como uma gravura impressionista. Suprema heresia. Os atores, principalmente o Bentinho adulto, estão perfeitos. Capitu menina é muito sensual embora a Capitu adulta não tenha sensualidade alguma e chega a comprometer a obra mas, felizmente o diretor pouco a utilizou.

A cena altamente sensual do casal de jovens se conhecendo no qual ele mistura motivos litúrgicos, dança espanhola ou alguma coisa parecida e cenários projetados na parede lembrando uma gravura de Monet, é antológica. A música é estupenda. Bentinho é perturbado por sombras (representando seu passado) que me lembrou imediatamente o Drácula de Coppola, nas cenas em que a sombras do Conde se movia pelo Castelo  expressando os deepest darkest secrets do Conde.

Bentinho, um tipo patético, sofre desde a juventude, com ciúmes e para completar a tragédia, acaba por ser traído pela sua mulher com seu melhor amigo e joga a culpa no destino; “Quis o destino...” Mas o infeliz é atormentado pelas traições, não apenas o adultério , mas as pequenas traições, as mentiras, as dúvidas, e a incerteza dos sentimentos de Capitu. E apesar de todos os tormentos, ainda vive de aparências: chega a enviar Capitu e filho para Europa, e uma vez por ano vai até lá, mas não vê o filho nem Capitu, mas mantém as aparências.

Bentinho sofre do mal do século, o imenso vazio que só é preenchido pelas memórias. E no caso dele, pela saudade dos momentos felizes associados a imensa dor da certeza de que não foram verdadeiros. Uma vida perdida na dúvida de que nada fora real, tudo ilusão e que não se podia mais recuperar o tempo perdido
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