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sexta-feira, 22 de abril de 2011

O Executivo Highlander - Série: Os Executivos Cap 22 (by Rogério Rufino)

O mundinho dos executivos é muito parecido com o filme Highlander, uma luta eterna e sem tréguas  entre seres que se julgam imortais e acima do bem e do mal, com o objetivo de se eliminar uns aos outros até que reste apenas um, o qual receberá o grande prêmio.Ok, executivos não são imortais e tampouco imortais podem ser eliminados como no filme, pois do contrário, seriam mortais. 


Mas não importa, o ambiente dos executivos é de guerra permanente e as vítimas vão se sucedendo e a maior parte delas é abatida pelo que se chama de fogo amigo. Tiros pelas costas disparados pelos companheiros.

Certa vez, um  vice-presidente de um setor da Holding pediu que eu fizesse um estudo para definir qual o melhor negócio: investir em internet banda larga na rede de Telecom ou na rede de TV a cabo, visto que o grupo possuía empresas nas duas áreas. 

Mesmo sabendo a resposta, que era o que, nosso coleguinha Nelson Rodrigues chamava de óbvio ululante, pois a rede Telecom atingia infinitamente mais usuários que a de TV acabo, e além disto Telecom é uma tecnologia de primeira classe enquanto que Tv a cabo não passa de uma tecnologia de quinta categoria, pois suas exigências técnicas são muito menores que as de Telecom, fizemos todo o estudo econômico-financeiro, que obviamente chegou a inequívoca conclusão que investir em ADSL era mais negócio. 

Entreguei o estudo ao CEO que foi com seus diretores apresentá-lo ao Vice-Presidente. Não me convidaram e fiquei  em minha mesa absorto com meus pensamentos, procurando algum outro negócio de futuro para investir e verificando se não havia  sinal de olho gordo e mal olhado ao meu redor quando meu telefone tocou freneticamente, mais parecendo uma vuvuzela na TPM. 

Antendi num átimo e coloquei-o a uma certa distância da minha orelha, o que me salvou de uma provável e irreversível surdez pois, o Vice-presidente gritou histericamente do outro lado da linha, como o chefe do Dique Vigarista naquele desenho animado. Tive que segurar o fone com as duas mãos pois, ele tremia como peixe fora d´água e eu temia a qualquer momento, ver as guelras do chefe, como no desenho da tv. Mas nada, só o bafo de whiskey 12 anos com aguardente de 12 dias e sua voz de garça esganiçada praguejando contra a minha existência passada, presente e futura. De qualquer forma fechei os olhos temendo uma cusparada vice-presidentiana. 

- Você sabe que nosso Vice-Presidente da Holding quer resolver a questão da TV a Cabo antes que alguém dê cabo nele e ele conta com o serviço de Internet banda larga na rede de TV e mesmo sabendo disso você faz um estudo provando o contrário? Você quer acabar comigo? Quer acabar com ele? Você é mau!! Te odeio!! Mas saiba você que,  eu, ele e mais todos os diretores presentes aqui na sala, acabaremos com você primeiro oooaaaaooooaaaouououo, finalizou gritando como o Tarzan. 

- Mas chefe eu pensei que você queria um estudo de viabilidade e não um estudo para justificar o desejo do chefe maior. Se fosse assim eu teria feito um relatório sem números, só com frases de efeito e ornamentado com figurinhas coloridas com apliques de papel dourado na contra-capa. 

- Seu idiota, a única verdade é o desejo do chefe. Então jogue este relatório cheio de mentiras no lixo e manda o de figurinhas com papel dourado. Ah coloque uma gota de essência  de jasmim. 

- Lamento chefe, isto eu não posso fazer, mas vou pedir para o Recursos Humanos elaborar um. É especialidade deles, eles têm figurinhas e restos de fantasia do gala gay.

- Imbecil você está liquidado! - neste momento, o camarão, quer dizer o Vice-Presidente vermelho de raiva desligou o fone fazendo um barulho que mais parecia um tiro de canhão e me lembrei de Shane, um filme de Bang bang, que numa das cenas, o diretor usou o som de um canhão para o disparo da pistola do bandido do filme, mas esta é outra história. 

Desliguei e fiquei imaginando a cena do outro lado, o vice-presidente sentado em sua cadeira imperial, ornamentada com plumas e paetês, na extremidade da enorme mesa de conferencia com João Penca e seus miquinhos amestrados, quer dizer meu CEO e os diretores, estatelados nas belas cadeiras reclináveis e giratórias, como que contemplando alguma coisa tenebrosa vinda de outro mundo e rezando baixinho para que seu apetite devorador fizesse apenas a mim de vitima, pelo menos até que eles pudessem se safar daquele lugar e se protegerem em algum ritual de macumba performática. 

O mundo estava desabando ao meu redor mas, ainda não foi daquela vez que cortaram minha cabeça, a única forma de se matar um highlander. Mas percebi, que em minha guerra contra o resto do mundo eu estava cada vez mais sozinho. 

Algum tempo depois, recebi uma ligação do Big Boss, o Presidente, que como eu, achava que celular era o grande negócio em Telecom. Mas para resolver certas questões, o Vice-Presidente estava determinado a desfazer do negócio celular. Comecei então a fazer guerrilha, a torpedear as idéias do Vice-Presidente, até que o presidente me pediu um certo favor e eu atendi. 

Novamente a vuvuzela tocou em minha mesa e desta vez o telefone não só tremia, ele saltitava como feijões mexicanos e acendia luzes vermelhas como numa boate barata. Pensei, a coisa está preta, desta vez não escapo. Peguei o telefone timidamente e o levei lentamente ao ouvido e pude ouvi os esgares do Vice-Presidente, rosnando como um leão furioso, mas depois que eu disse alô, ficou mais parecido com  o urro daquele tiranossauro rex do filme Parque dos Dinossauros. 

- Vocêêêê, seu vermeeeeeeee – urrava o Trex, quer dizer o Tvice. 

- Quem te autorizou a contatar empresas internacionais para o Presidente. Por acaso você almoça com ele? Freqüenta a casa dele? Você é amiguinho dele?  O que você está tramando com ele? Bla bla blaUaaaaarrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr. Continuava a berrar o Trex endiabrado. 

- Mas ele me pediu. Eu só atendi, falei baixinho, já escondido debaixo da minha mesa. 

Grahhhhrrr,UUUUUAAAAARRRRRR , ok já sabem, era ele o Trex malvadão. 

Quando ele desligou, havia pouca coisa em cima de minha mesa, parecia que ela havia sido devastada por um Twister (tornado), e por todo lado havia aquelas gosmas repugnantes  como as daquela criatura do filme Alien. Quando criei coragem e me levantei, olhei ao meu redor e meus colegas estavam com os cabelos arrepiados, como que vitimados por um raio. Alguns estavam em coma profundo estirados no frio macadame da sala. 

- Vocês estão bem? Ouviram aquilo? Perguntei timidamente. 

Eles não responderam, simplesmente saíram correndo pelos corredores  agitando os braços, como que fugindo de alguma coisa vindo do além. Os que estavam em coma saíram rastejando como cobras, serpenteando pelos corredores, em fuga alucinada.

Percebi então, que eu já não pertencia mais àquele mundo. Naquele momento ingressava para o time dos executivos fantasmas, que ficam algum tempo perambulando pelas organizações até serem exterminados de vez.



To be continued!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Um Executivo Aloprado - Série: Os Executivos Cap 21 ( by Rogério Rufino)

Certa vez, estava contando para uma colega minha que, quando eu tinha uns 9 anos fiquei fascinado com a Divina Comédia de Dante, e ela riu muito e disse: 


- Roger, você nunca foi uma pessoa normal mesmo. 

Naquele instante uma dezena de lembranças passaram como uma estrela cadente pela minha mente. 

A primeira lembrança foi de 10 anos antes em Washington, quando eu e mais dois colegas de empresa, que estávamos em treinamentos ali,  fomos visitar nosso presidente, que estava residindo naquela cidade. 

Eu era relativamente novo na empresa, 3 anos e não tinha familiaridade com o presidente, mas conversa estava agradável pois,  ele é uma pessoa acessível e inteligente e comecei a fazer uma série de perguntas a ele, que me intrigavam. Mas a medida que eu ia formulando as questões para satisfazer minha curiosidade, fui percebendo mudanças singulares em meu colegas. Um deles, nissei, começou a ficar com os dois olhos curiosamente esbugalhados e  por fim, pareceu assumir uma estranha posição de ninja saltitante em fuga alucinada pela janela do oitavo andar. Julguei que era mais uma destas exentricidades de nossos amigos Jaspions e achei que logo o ninja aranha retornaria a sala. 

O Boss continuava tranquilamente me respondendo, enquanto alisava carinhosamente sua raquete de tênis com uma mão. A outra mão, no entanto, ele esmagava lentamente uma bola de Tênis reduzindo-a ao tamanho de uma bolinha de gude,  revelando todo o poder daquelas mãos poderosas. 

Meu outro colega, um tanto roliço e bonachão, subitamente começou a deslizar-se como uma maria mole pelo sofá. Parecia mais uma daquelas criaturas tipo Invasores de Corpos dos filmes de ficção científica. Ele tinha uma expressão curiosa, a boca entreaberta e os olhos revirados como se estivesse recebendo alguma entidade obscura  em algum terreiro e candomblé bahiano. Em ninutos ele já tocava o chão do apartamento, e veio espalhando fantasmagoricamente em minha direção,  transfigurado de  tapete de pele de urso polar. E ficou ali estatelado, braços abertos em cruz,  com os olhinhos de garoupa morta a contemplar seu amado presidente que o retribuia com um olhar de reprovação. Naquele momento tive um destes insights comandados pelo instinto de sobrevivência, e   levantei num salto. Agarrei o  ninja ainda pendurado como um morcego na janela do apartamento do Boss e sai arrastando ele e o velho urso escada abaixo, ao mesmo tempo que despedia do presidente e pedia desculpas pelo comportamento incomum de meus companheiros. Descemos a escada em disparada como que fugindo de uma fera perigosa. O Ninja, como em Matrix saltitava pelas paredes desafiando a gravidade, como um dragão da maldade contra o santo guerreiro. Meu amigo urso, no entanto, ia deslizando apopleticamente degrau por degrau, como uma bola de basquete que desce a escadaria da penha. 

Os dois só retornaram a si na porta do prédio do Boss, mas tudo não durou mais que um minuto. Então eles  olharam para mim e depois um para o outro e então viram o Boss, que nos olhava misteriosamente da sacada do seu apartamento, com uma raquetinha que me pareceu de ping pong e os olhos que me pareceriam em cuspir labaredas de fogo. Meus companheiros pareceram fulminados por um raio.  Os cabelos eriçaram e eles saíram em correria, gritando e agitando os braços pelas ruas de Washington como duas gazelas saltitantes e só fui vê-los uns dois dias depois. 

Outra lembrança que me ocorreu foi  de quando eu retornei  de minha estadia de 2 anos nos USA. Logo nos primeiros dias, eu redigi  um documento de uma folha que dizia o seguinte: A Modest Proposal ( Vender 100 mil unidades do serviço X em 1 ano). Este tal serviço X, a companhia havia vendido apenas 13 mil em 20 anos. 

Apresentei o  documento para o board numa stand-up meeting.  Quando terminei, olhei para o petrificado board. Meu CEO parecia que estava tendo uma visão de um outro mundo e lançava um olhar triste para o que parecia ser a espaçonave que o traria de volta,  mais exatamente o frigobar da sala. 

Nisto o diretor de tecnologia indagou quais as consistências de meus dados quanto ao mercado, no que eu respondi. 

- Nenhuma, eles se baseiam em simples feeling, fruto de meus anos de experência em Telecom. 

Nisto se ouvem  os primeiros versos de Feelings . Nosso diretor de Marketing, se apodera de um bonsai que utiliza como se fosse um microfone e começa a cantarolar: 

Feelings, nothing more than feelings, 
trying to forget my feelings of love. 
Teardrops rolling down on my face, 
trying to forget my feelings of love. 

A medida que ele canta, ele vai se transformando num pop star. Abre os braços e se esparrama pela sala soltando a voz: 

Feelings, wo-o-o feelings, 
wo-o-o, feel you again in my arms. 

Alguns membros do board fazem o sinal da cruz, outros olham como se presenciassem o apocalipse e as mulheres choram copiosamente. O CEO que até então permanecia paralisado como uma estátua de cera, recebe uma cotovelada de seu assessor de alerta real e imediato e   dá um pulinho e dispara: Isto é telefone? 

- Ki fofo, dizem as mulheres.

E quem chora copiosamente desta vez são os homens, incluindo o Diretor de Marketing. 

Como a reunião tinha virado puro non sense, resolvi sair de fininho e ir trabalhar. Mas antes de deixar o recinto, perguntei para o CEO:


- Então senhor posso tocar o projeto? 

- Claro meu filho, precisamos  vender mais telefones, vá em frente! 

Bem, em um ano vendemos 120 mil unidades do tal serviço X, mas antes tivemos que mudar algumas realidades tupiniquins. 

A primeira delas, era que, para que pudéssemos vender tamanha quantidade do serviço X, teríamos que baratear o aparelho que possibilitava o tal serviço, e para isto convocamos para uma reunião, todos os fabricantes do aparelho no Brasil 

Na época o aparelho era vendido, digamos, a R$ 100 no mercado e nós precisávamos de vendê-lo a R$ 20. Fui direto , expliquei os objetivos do projeto e disparei uma proposta indecorosa aos bravos indústriais tupiniquins. 

- Preciso que nos vendam o produto a R$ 15, alguém se habilita? 

- Isto é impossível, responderam em uníssono.

- Os kongs nos vendem a este preço, se não aceitarem compramos deles, mas preferimos comprar no Brasil, disse eu. 

- Não tem a menor possibilidade, nossos custos são altos. Bla bla bla

- Bem, se não podem produzir competitivamente, transfiram sua fábricas para Hong Kong. Terceirizem. 

- O senhor está tentando mudar o jeito de fazer negócios no Brasil. Isto não é muito bom. 

Bem, percebi ai uma ameaça velada e encerrei a reunião dizendo:

- Vocês tem uma semana para pensar. Obrigado. 

Na saída, um dos industriais tupiniquins me fez um sinal para seguí-lo discretamente. Fomos até uma sala e ele me disse: 

- Eu topo, vou terceirizar com os Kongs. 

Bem, a verdade é que no final, ele não terceirizou, conseguiu não sei de que forma baixar os custos Brasil e ganhou um belo contrato. Isto despertou o interesse de uma empresa americana que comprou a indústria do sábio industrial brasileiro por um belo preço. As demais, provavelmente não existem mais.

To be continued.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Era Uma Vez na América (Parte III) – Série: Os Executivos Cap 20 (by Rogerio Rufino)

Em 1997 mudei com família e tudo para uma estadia de dois anos nos EUA. Chegamos lá em pleno inverno e aluguei uma Townhome em Rockville, Md, a quinze minutos de Washington. Cidadezinha agradável e berço de Francis Scott Fitzgerald. Minhas filhas  na época tinham respectivamente  12, 14 e 14 anos, choraram durante uns três meses, reclamando que eu havia acabado com suas vidas, deixando as longe de seus amigos, namorados e de um país quente  e com um povo alegre, ou seja o Brasil.

Dois anos depois,  na volta ao Brasil, elas choraram outros 3 meses dizendo que eu havia acabado com suas vidas, ao separá-las de seus amigos, namorados e de um país belo e organizado, ou seja, os EUA. Uma delas, Karen, chorou por mais de ano, até que todos perderam a paciência e permitimos que ela retornasse aos EUA para estudar.

Embora sejam culturas distintas, com costumes diferentes, apreendi que no fundo, o que importa mesmo, são os seres humanos e estes não diferem muito, possuem reações parecidas aqui ou lá. Sentem alegrias e tristezas, são distantes ou carinhosos. Mas...

Washington é uma metrópole rodeada por uma dezena de cidades pequenas e aprazíveis, onde as pessoas residem e onde está a maior parte do comércio e os Malls. Mas Washington tem uma característica incomum nos EUA, tem uma imensa população negra, devido ao grande fluxo de ex-escravos que se dirigiram para lá, logo depois  da abolição da escravidão na América.

Os negros americanos, diferentemente dos brasileiros, tem um preconceito em relação aos brancos similar ao que os brancos possuíam explicitamente contra os negros, tempos atrás. Se as leis hoje impedem a manifestação do preconceito dos brancos, persistindo ele numa forma distorcida e suavizada como a existente no Brasil, alguns negros adquiriram um certo sentimento de revanchismo contra os brancos, embora muito menos ostensivo e cruel, mesmo porque a lei não permitiria.

Próximo a minha casa, havia um supermercado no qual  minha esposa sempre ia. Como ela tem a pele muito clara, certa vez foi perseguida dentro do supermercado por uma senhora negra, sem motivo algum, pois ela se dá bem com qualquer pessoa. Mas o próprio gerente a protegeu e disse que a única coisa que ela podia fazer era não olhar direto nos olhos da senhora negra, pois qualquer coisa que acontecesse a lei estaria do lado dos negros. Justo ou não, compreendemos que era a maneira americana de tentar reparar anos e anos de crimes e perseguições racistas.

Minhas meninas para piorar, muito brancas, foram estudar na escola pública. Haviam muitos negros lá, embora não fossem a maioria. Mas, os brancos eram estrangeiros das mais variadas partes do globo, e não formavam um grupo homogêneo, muito pelo contrário. 

Portanto quem dominava as  escolas eram os negros americanos. Os estrangeiros se agrupavam por afinidades, e na verdade, os brasileiros eram mais próximos dos negros americanos do que dos hispânicos por exemplo, que viam os brazucas com uma certa desconfiança, embora não ostensiva,  talvez pelo  poder do Brasil na América Latina e por ser a única nação que não fala o espanhol Os hispânicos ali eram chamados de CUCAS pelos brazileiros, uma contração carinhosa pero no mucho de cucarachas. Brasileiros se dão melhor com chineses, americanos e outros asiáticos, mas isto pode ser uma característica restrita às escolas que minhas meninas freqüentaram. Não sei.

Certa vez, numa destas brincadeiras de crianças em sala de aula, que são as tradicionais batalhas nas quais os alunos atiram papeis embolados,  objetos e outras coisas inofensivas uns nos outros, uma de minhas meninas, péssima de mira, acabou atingindo uma colega negra muito forte. Claro, a menina partiu para cima de minha filha mas foi contida por outra brasileira, Vanessa, amiga de minha filha, que bravamente impediu o conflito, mas minha filha ficou jurada.

Fiz o que eu podia, liguei para a diretora da escola e disse que já havia acionado meus Legal Consultants e que se alguma coisa acontecesse a minha filha ela e a escola seriam processadas. Era puro blefe, mas o fato é que americanos morre de medo de advogado, e minha filha ficou uma semana com escolta de dois seguranças da escola, até que os ânimos se acalmaram e no final,  as duas se tornaram amigas.

Independente destes episódios, alguns dos amigos mais verdadeiros de minha mulher e filhos nos EUA, eram negros.

Nos EUA, em cada condomínio residencial, o governo obriga a destinação de um certo número de residências para a população carente, aquela que vive normalmente de seguro desemprego, e possui renda menor que 20 mil dólares por ano. O governo complementa o valor do aluguel da população de baixa renda. É uma medida inteligente, que permite a integração das classes pobres com a classe média e sua cultura,  além de impedir a formação das tradicionais favelas, onde se escondem os excluídos, que por uma série de razões não têm a renda necessária que os possibilite a viver junto com as demais pessoas. 

Nossa cultura, remanescente ainda da contra-reforma e da escravidão, é exclusionista,  rico vive com rico, classe média com classe média e os pobres em qualquer gueto, de preferência nos morros.

Mas, como a visão da contra-reforma é de curto prazo, eles se esqueceram, que os excluídos, um dia iriam descer os morros e provocar os arrastões e a violência gratuita contra aqueles que os segregaram. E aí não há muito o que se possa fazer, já se criou a cultura da diferença de classes e da exclusão social, e isto está impregnado em todos os moradores das favelas certamente. E cada um reage a sua maneira, os bandidos com uma crueldade sem limites, as pessoas de bem, com uma miríade de sentimentos, vergonha,  angustia a humilhação.

Em geral ser pobre nos EUA significa que você não gosta muito de trabalhar ou seja, é um vagabundo. Não é regra, mas a maioria vive do welfare state, o seguro desemprego do governo americano. Eles trabalham por um período que lhes permitam usufruir do seguro e então pedem demissão e passam um bom tempo dormindo e bebendo por conta do Obama.  Muitos, são empresários clandestinos especializados:  drogas, contrabando e sexo.

Ou seja, nada muito diferentes do que acontece nas favelas. Só que com uma diferença: são discretíssimos, e não andam para lá e para cá com fuzis nas mãos. Quem olha, vê uma pessoa como outra qualquer. Lembram a máfia,  parecem pessoas respeitáveis. Havia uma família que morava próxima a minha casa, e o garoto parecia gente muito boa, e certa vez minha esposa até o convidou para o aniversário de uma de minhas meninas, e ele gentilmente recusou, pois ele disse que não poderia ir num aniversário de meninas brancas pois sua turma na escola não iria entender este fato. Anyway, graças a estas amabilidades, minhas meninas ficaram protegidas na escola, pois ele um líder ali, uma espécie de Obama do underground.

Se ele e sua família tinham atividades ilegais nunca soube ao certo, mas a verdade era que pareciam seres humano, que sentiam, que tinham emoções e que defendiam seu vizinhos. O que chamamos pessoas de bem.

E também haviam algumas pessoas brancas, respeitabilíssimas, mas que na verdade não valiam nada. Em tudo nelas se percebia a falsidade, a maldade e ausência total de amizade. Aliás isto é muito comum, pessoas de comportamento duvidoso mas de grande coração e pessoas altamente éticas mas que não valem coisa alguma, incapazes de um gesto de generosidade ou caridade, a total ausência de amor ao próximo, amor talvez só as leis, a retidão de uma conduta. Mas como em toda sociedade, haviam as pessoas boas e as ruins, e isto não dependia da cor, credo ou nacionalidade. Brasileiros ou qualquer outro povo do mundo é igual, tem sempre o joio que se espalha em meio ao trigo.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A Evolução nos Treinamentos de Executivos - Série: Os Executivos Cap. 19 - (by Rogério Rufino)

O RH ou Recursos Humanos  vem ao longo dos anos assumindo uma importância cada vez maior dentro das organizações. Mas isto nem sempre foi assim. Antigamente ele era comparado ao Apêndice do ser humano. Um órgão cuja única finalidade conhecida era se infeccionar e mandar o pobre infeliz para a mesa de cirurgia. Depois se descobriu outras utilidades como, aumentar a receita dos  profissionais de saúde, e à vezes, das funerárias. Hoje, sabe-se uma de outra  função, que é o de provocar o crescimento de bactérias benéficas para o nosso organismo.

Da mesma forma, o RH vem evoluindo desde o seu surgimento nas mais priscas eras da humanidade, quando seus profissionais se limitavam a aterrorizar e torturar os pobres escravos. E ao longo da história podemos acompanhar esta evolução e sua consequente  humanização.

Os profissionais de RHs mais primitivos eram  conhecidos como carrascos, mas logo vieram os upgrades, e evoluíram para operadores de guilhotina, torturadores da Inquisição. Esta fase, que ficou conhecida como a época de ouro do RH, teve seu clímax na Gestapo de Hitler, e desde então o RH nunca mais foi o mesmo.

Nascia o RH New Age, assumindo uma forma meticulosamente lapidada e politicamente correta. Com advento da economia da terceira onda, das empresas de serviços, o brutal RH de outrora transfigurou-se ainda mais, assumindo contornos angelicais, sendo invariavelmente liderados por profissionais do terceiro sexo. Aliás o terceiro sexo no RH já está em primeiro lugar.

Várias vezes neste Blog, já mencionamos atividades do RH e para não variar, desta vez iremos falar na evolução dos treinamentos dos executivos, pois para os demais funcionários não existe evolução, marca-se cursos técnicos e pronto.

Mas com executivos a coisa é diferente, é uma frescura sem limites. No princípio os cursos eram bem espartanos, muita teoria  com uma ou outra dinâmica de grupo, discretíssimas.
Mas lá pela década de 90 apareceram as primeiras novidades e sem duvida a mais chocante foi:

A Biodança

Criada por um  antropólogo, psicólogo e bambi chileno, esta praga do Nilo fez a cabeça e o corpito de muito teóricos do RH de Pindorama há uns 20 anos. Denomina-se dança da vida, talvez por influência da dança do ventre, a diferença é que  a dança do ventre é praticada por mulheres bonitas e sedutoras e a biodança por qualquer um, incluindo marmanjos barbudos e barrigudos, que produzem espetáculos tristemente lamentáveis. Infelizmente todo e qualquer funcionário das organizações mais respeitadas daquela época tiveram que passar por este vexame. 

Usei de todos os expedientes possíveis para escapar da tal biodança, mas não foi possível, meu ex-querido chefe ao ficar sabendo que, eu era o ultimo dos moicanos fuzilou:
- pegue sua roupita de balé esteja lá amanhã, e tenho dito.

Logo que entrei  na sala enfeitada com motivos lúdicos, tipo gala gay, senti calafrios ao ver uns 20 marmanjos e apenas umas 4 meninas, liderados por dois profissionais de Biodança. Um paraguaio de barbicha,  que denominamos La garantia soi Jo e uma balzaquiana oxigenada, tipo odalisca do sexo, que chamávamos carinhosamente de Madona.

Mas até que tive sorte. Como se formaram duplas, acabei ficando com uma morena SS, toda cheia de curvas e no segundo dia até cheguei mais cedo para a tal biodança. Não lembro exatamente o que se passou ali, mas lembro-me de ter alisado, tocado, abraçado e beijado  minha companheira e vice-versa, uma beleza, tudo sob a orientação dos profissionais da biodança.  Como a maioria das duplas eram formadas por dois homens, vocês podem imaginar o estado lamentável de meus colegas durante os exercícios,  bem como,  devo ter sido invejado pelos pobresitos.

Jogos de Guerra

Churchil disse que a história da humanidade é a história da guerra e isto fez com que a criatividade do RH se expandisse. Eles perceberam que  a arte da guerra, poderá  ser uma material de inestimável valor para os executivos, que ali teriam noções de tática, estratégias, guerrilha, espionagem além de serem instigados a rápida tomada  de decisões.
Mais uma vez os consultores de treinamento fizeram a cabeça dos executivos e verdadeiros campos de batalhas foram criados e os executivos divididos em equipes que representavam os bad guys e os good guys.

E o que se viu foram cenas chocantes. Se no início do curso, haviam 2 equipes, no final haviam 10 , 15 equipes se digladiando entre si, numa ferocidade sem igual. Sangue, suor e lágrimas e principalmente traições e covardias. Tiros pelas costas eram ovacionados, quanto mais cruéis e chocantes, mais deliravam os executivos. As cenas que se sucediam,  as vezes eram hilárias, alguns executivos quando iam  atirar com suas paintball, fechavam os olhos, e assim que o estampido eclodia, eles davam um gritinho e atiravam a arma para o alto atingindo alguns pobres pássaros que passavam acima do campo de batalha, reduzindo assim nossa rica diversidade.

Toda a competitividade entre os executivos explodia ali em mil facetas e sequer prisioneiros eram poupados. A selvageria tomava conta e eles eram sumariamente executados e se as equipes do RH não retirassem seus “ corpos” eles seriam esquartejados.
Os RH percebendo a volta da barbárie,  resolveram a mudar a radicalmente o estilo dos treinamentos.

Tudo Pelo Social

Os RHs decidiram adotar então o estilo Hollywood, para cada filme de ação e pancadaria um filme meloso, água com açúcar. E criaram-se os programas humanizantes para os executivos, como se isto fosse possível. Podemos citar alguns deles:

1 – Cuidar de velhinhos nos asilos: muitos executivos choravam copiosamente no momento em que chamavam um ou outro aspone e terceirizavam esta atividade, não sem antes falar por meia hora sobre a importância e a beleza deste gesto que eles iriam fazer e também se auto-elogiavam pelo desprendimento , por repassar a outro tão nobre e prazerosa tarefa. Foi um fiasco total.

2 – Adotar um Menino de Rua: A princípio foi adotada por todos entusiasticamente, e alguns executivos empreendedores, já vislumbrando um novo negócio, montaram empresas de adoção e cuidados de menores abandonados, algumas com o sugestivo nome de PETstinhas. Ou seja, se não desse certo com os pestinhas serviria para os cachorros. Foi um sucesso, os executivos chamaram seus advogados que elaboraram os contratos de adoção, com cuidados terceirizados na PETstinhas e clausulas de reincidência, que foram acionadas simultaneamente um ano depois, quando o estilo dos  treinamentos mudou  novamente.  Naquele ano o numero de flanelinhas na cidade aumentou drasticamente.

3 - Troque seu cachorro por uma criança pobre: Esta modalidade nem saiu do papel com veto sistemático das esposas dos nobres executivos.

4 – Salvem a Natureza -  Esta foi a modalidade mais bem aceita, pois vários executivos fizeram imediatamente reserva em hotéis fazenda da região, onde passaram agradáveis fins de semana contemplando a natureza e bebendo até caír. A maioria sequer saiu do quarto, por esta razão o RH providenciou em cada quarto,  quadros de natureza morta, para garantir o sucesso do treinamento.

Logo em seguida, veio a onda do realismo de aventura, com treinamento em locais inóspitos do planeta onde os executivos recebiam suprimentos, equipamentos e tinham que cumprir uma determinada missão:

1)      Em Busca das Minas do Rei Salomão: Treinamento de aventura realizado no Deserto de Mojave, no Arizona. Os aventureiros executivos, com poucos suprimentos (bebida) tinham que cruzar o Death Valley e todo Mojave e encontrar  as Minas do Rei Salomão:  Las Vegas. O treinamento foi um completo desastre, metade dos executivos brazucas foi abatida a tiros pela imigração americana, confundidos com coiotes mexicanos. A outra metade nunca mais foi vista.

2)      Alive: Treinamento nos Andes, baseado no filme que conta a história das pessoas que para não morrerem de fome, passaram a comer seus companheiros mortos na queda do avião nas montanhas geladas. Foi outro fisco total, pois os executivos ainda dentro do avião, se envolveram numa carnificina incontrolável, que acabou provocando a queda da aeronave  que explodiu no gelo. Os executivos foram encontrados carbonizados com os dentes ainda cravados em seus companheiros o que prova que nem na queda eles deixaram de comer uns aos outros.

3)      Safari: Grupo de executivos levados para uma reserva do Quênia,  para registrar em fotos a beleza selvagem Africana. Este foi relativamente um dos treinamentos de maior sucesso, apesar de alguns executivos terem sido abatidos por man eater, leões devoradores de homens. Duas executivas  optaram pela vida selvagem tendo-se acasalado, uma  com um Gorila da Montanha e outra com uma chipanzé. Alguns executivos se tornaram contrabandistas de armas outros de diamantes. Quatro, no entanto retornaram ao Brasil  mas se filiaram ao PT.

Em algum capitulo no futuro: os sofisticados treinamentos de executivos da atualidade.

quinta-feira, 17 de março de 2011

A Carreira em Y - Série: Os Executivos - Cap. 18 (by Rogério Rufino)

A carreira em Y foi uma resposta dos RHs das empresas para tentar resolver um problema que estava se tornando epidêmico nas empresas de tecnologia. A silenciosa rebelião dos técnicos, que a cada dia estavam mais e mais descontentes com sua posição dentro das organizações e começavam a colocar as manguinhas de fora para se aventurarem na carreira de administrativa, almejando aquilo que os profissionais desta área possuem: poder, dinheiro, visibilidade, vinho, mulheres e canções. 


Como todos sabem, só há dois perfis psicológicos de profissionais: os introvertidos e os extrovertidos:
  1. Os introvertidos são representados geralmente pelos técnicos: o pessoal que detém a tecnologia nas empresas e que efetivamente são os responsáveis pelos seus produtos e serviços. Eles são conhecidos como o seres pensantes da organização: pensam em ir embora para outra empresa, pensam mal do marketing, da direção e de todos os outros setores da empresa, pensam que a empresa iria bem melhor se eles estivessem no comando, pensam no futebol e na cervejinha do fim de semana e pesam em muitas coisas impublicáveis. 
  2. Os extrovertidos são geralmente representados pelo pessoal do Marketing, do RH e do departamento de Vendas e da Gerência e da Diretoria.

A Carreira em Y foi desenvolvida pelos seres pensantes do RH, que segundo as más línguas, possuem talentos com criatividade movidas pelas leis que regulam o comportamento dos corpos celestes, o que no dito popular chama-se astrologia. 


E foi numa destas manifestações cósmicas que provocaram o alinhamento de vários corpos celestes, a principio em fila indiana e depois, dado a quantidade de planetas e asteróides, em fila dupla two way, que nasceu o conceito de carreira Y. 


Dois desconhecidos especialistas de RH de Pindorama, que haviam embarcado, numa viagem ao espaço sideral, através de um portal cósmico anunciado no facebook, tiveram uma visão, enquanto esperavam pacientemente um sinal de transito intergaláctico se abrir, para a passagem de um cometa de uma galáxia alienígena. 

Resumidamente os dois desmiolados bolaram os passos a serem seguidos pelo o infeliz optante da carreira Y da área técnica. 

Na mente demente do RH, quem é técnico só pode ser um Nerd, então eles desenvolveram fases na forma de um joguinho videogame, que a cada nível se tornam mais difíceis e que só mesmo um técnico genial atingiria o topo da carreira. A idéia é simples, na ótica perturbada do RH: deixa os Nerds jogarem, eles passarão no máximo da primeira fase, recebendo um polpudo aumento correspondente 1 salário mínimo, mas daí para frente, tudo será diferente, vão ficar no mesmo lugar, sonhando com a terra prometida. 

Claro, os técnicos não são muito bobos e depois de alguns anos brincando com o Joguinho da Carreira Y, perceberam que foram ludibriados e reclamaram muito. Suas queixas provocaram mudanças radicais no conceito da Carreira Y, que até recebeu um outro nome, de acordo com um paper, de um RHamaníaco tupiniquim, recém publicado na harvard human resources magazine. 

O novo conceito recebeu o sugestivo nome de Carreira X. Nele cada perna do X representa respectivamente os expoentes técnicos e administrativos. Assim, um técnico, em determinado tempo de sua vida terá que fazer sua escolha, podendo optar pela carreira técnica ou pela técnica. Ele então poderá ir galgando posições, até atingir o máximo de sua carreira, quando ele no olimpo, recebe o pomposo título de Consultor, momento em que ele perde toda sua credibilidade e começa sua viagem de volta no mesmo eixo do X, até que um dia ele voltará, se não for demitido antes, à condição de... estagiário. 

Mais uma vez, em nada mudou os passos de ascensão na carreira de um expoente da carreira administrativa, os quais resumidamente podemos resumir em: 


  1. Em geral o ser extrovertido entra na organização como um trainee, que é a vertente sofisticada da área administrativa em contraponto a rusticidade do estagiário, que é o modelo usado na área técnica. Trainee e estagiário em geral, possuem a mesma finalidade para a organização: é uma forma barata para ela de se ter um funcionário em seus quadros, que ficará um bom tempo vagando como um zumbi na empresa, a espera que algum visionário encontre alguma uma atividade na qual ele possa ser útil. Isso, em geral, acontece quando se dá o encerramento do seus contratos de trabalho. Eles contribuem desta forma para se alcançar as tradicionais metas de redução de pessoal acontecem nas empresas todo ano, conforme podemos ver no artigo A Grande Mudança.
  • Requisitos Básicos Para o Trainee (área admnistrativa): 
  • - Roupas de Griffe 
  • - Óculos Rayban 
  • - Notebook 
  • - Ipad 
  • - Ipod 
  • - Iphone 
  • - Sorriso Plastificado 
  • - Topete em gelatina 
  • Requisitos Básicos para O Estagiário (área técnica): 
  • - Bermudão e camiseta do Corinthians 
  • - Sandálias havaianas 
  • - Laptop 
  • - Boné 
  • - Vale alimentação, Vale transporte, Vale passe mais fita do senhor do Bonfim 
  • - walkman 
  • - Ipim
  • - Cara de choro do Barrichelo 

2) A segunda etapa do expoente administrativo é quando ele é definitivamente contratado, após passar por dificílimas provas de puxa-saquismo exacerbado, falar mal e praticar ataques terroristas contra do inimigo. O inimigo em questão, são seus colegas de trabalho. 

3) As demais etapas estão relacionadas com: 

a. Quantidade de festas que participou ou organizou 

b. Numero de vezes que entrou em coma alcoólico 

c. Quantidade de clientes e fornecedores que levou ao bordel 

d. Quantidade de vezes que jogou tênis com o chefe, quando o instrutor faltou 

e. Outras do mesmo naipe. 

Quanto aos técnicos, além de trabalharem como Hercules, eles só precisam superar todas as etapas do Videogame X, quer dizer da Carreira X, para conseguirem pelo menos ganhar como um administrativo graduado, mas claro, até hoje ninguém conseguiu esta façanha.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Avaliação de Performance - Série: Os Executivos - Cap. 17 (by Rogerio Rufino)


Os primeiros sistemas de avaliação de funcionários eram rústicos, diretos e e não raro dolorosos. Em geral o pobre funcionário que tinha um desempenho a desejar, era conduzido ao tronco pelos primeiros agentes do RH, e recebia umas boas chibatadas. Era um sistema muito eficaz e permitia que o funcionário sempre reconhecesse seu erro quando ele o cometia pela segunda vez (oh dor). Este método logo se popularizou e até as escolas o utilizavam, em variantes criativas, com seus alunos mais geniosos.

Os RHs do mundo todo sempre trabalharam arduamente para sofisticar este método, hoje considerado abusivo pelo Green Peace. Os Departamentos de Recursos Humanos Brasileiros não fizeram feio e devemos a eles os seguintes aparelhos de tortura que depois foram usados entusiasticamente pela ditadura militar: 

Cadeira do dragão 

Cadeira elétrica revestida de zinco que transmitia choques a todo o corpo enquanto se tocava o hino da empresa. 

Pau-de-arara 

Uma barra de ferro atravessada entre os punhos e os joelhos, o infeliz funcionário ficava amarrado e pendurado a 20 centímetros do chão ouvindo ininterruptamente a leitura do manual de qualidade da empresa. 

Geladeira 

Os funcionários eram mantidos em salas que alternavam a temperatura de muito frio a muito quente. Durante todo o tempo ouviam uma gravação com a política de recursos humanos da empresa. 

Mas tudo isto foi abandonado, com certa resistência é verdade,  a medida que foram se criando as empresas públicas. Em sua visão distorcida da ótica socialista, elas acabaram por premiar os funcionários incompetentes e preguiçosos e condenar ao ostracismo e ao arquivo morto, os demais funcionários. Por esta razão os partidos políticos lutam tanto pela direção das empresas estatais e por outras razões ainda menos nobres. 

Com a consolidação das empresas de tecnologia e seus funcionários cada vez mais qualificados, os RHs também se modernizaram e adaptaram os conceitos da tortura física para a tortura psicologica e nascia aí, os modernos métodos de avaliação de performance, hoje largamente difundidos nas organizações. 

A avaliação de performance acontece uma vez por ano e acontece em todos escalões, desde os executivos mais graduados até os amarra cachorros, que é o nome técnico para a designação dos pobres associados ou funcionários. 

Entre os amarra cachorros e o Presidente da  Organização, existe uma infinidade de escalões intermediários responsáveis por manter a turba ignara produzindo continuamente, o que se chama de ordem e progresso da organização. 

Em geral só se escapa da avaliação de performance o Presidente, que no entanto é avaliado pelo conselho de uma forma mais subjetiva, podendo até mesmo  ser defenestrado do seu cargo, o que é quase impossível em empresas de capital fechado e possível  em empresas de capital aberto. 

Os objetivos da avaliação de performance são quatro: 

1) Se o funcionário é exemplar, o chefe deve garimpar suas pequenas falhas e exorbitá-las durante a avaliação, de maneira que ele fique inibido para pedir aumento de salário.

2) Se o funcionário é mediano, o chefe deve  pinçar suas poucas e pequenas qualidades e exarcebá-las de maneira que ele se sinta prestigiado e possa contribuir com suas únicas serventias: o puxa-saquismo incontido, a espionagem para a chefia imediata e os pequenos atos de terrorismo que se praticam para se eliminar a ascensão de um ou outro executivo que possa ameaçar a carreira do chefe; 

3) Se o funcionário é irremediavelmente incompetente, a avaliação de performance serve para prepará-lo para suas novas atribuições na organização, quando ele é alçado a condição de assessor da chefia, diretoria ou do CEO. 

4) As avaliações de performance são em geral longas, mais parecendo um discurso do Fidel, no qual o Chefe fala ininterruptamente ao mesmo temo em que distribui sorrisos lânguidos para o associado entremeados de olhares ameaçadores. Em geral o chefe não sabe do que está falando e o associado pela pressão psicológica não ouve nada do que o chefe diz, fechando com chafe de ouro o objetivo número quatro da Avaliação de Performance, que consiste em  gastar o precioso tempo do executivo, dando-lhe as razões mais que justas para que ele se diga estressado de tanto trabalho e peça seu aumento de salário. 

As avaliações de performance entre os executivos são mais longas ainda e em geral acontecem em ambientes mais aconchegantes como salas de reuniões, anfiteatros e motéis. O clima da avaliação em geral é cordial e ambos, avaliador e avaliado discutem longamente o que cada um pode fazer para garantir o prêmio de resultados dos executivos e como neutralizar alguns funcionário que se destacaram e que podem atrapalhar os seus desejos de uma existência de ociosidade sem perigo. A avaliações em motéis em geral deixam um rastro de gemidos  e óleo Johnson pelos tapetes.

Em meus tempos de executivo, eu não era muito chegado a normas. Recebia instruções do RH para que a avaliação de performance de cada subordinado durasse no mínimo 1 hora. Nunca consegui isto. Na verdade quando você conduz uma equipe, sabe que lá existem 2 ou 3 funcionários excepcionais, os quais você pode confiar as mais difíceis tarefas, e eles movidos pelas suas vaidades incomuns, gastarão todas suas energias, mas darão conta do recado. 

E existe a grande maioria, os medianos, que são necessários para tocar o barco, pois se você colocar só excepcionais na sua equipe, logo virá a baderna, pois a fogueira de vaidades fica incontrolável,  tal qual um reator nuclear,  vai se consumindo até que chega o momento que ela não pode mais ser contida e vai derretendo tudo a sua volta. 


Chefes em geral se ocupam a maior parte do tempo com os eleitos, reservando menos atenção aos medianos. Mas, aprendi com o George Patton: “Nunca diga às pessoas como fazer as coisas. Diga-lhes o que deve ser feito e elas surpreenderão você com sua engenhosidade. 

Assim, eu não perdia muito tempo com avaliações de performance, algumas duravam 3 minutos outras eram pelo telefone. Mas sempre conseguíamos bons resultados e assim sempre suspeitei que  uma avaliação de performance não tem muita serventia infelizmente, mas não diga isto na sua empresa pois vão te chamar de louco varrido e te desejar sorte em suas novas atribuições. 



domingo, 28 de novembro de 2010

A Convenção de Executivos - Série: Os Executivos - Cap. 16

O Departamento de Recursos Humanos tem duas atividades fundamentais na corporação: a primeira delas é encontrar o mecanismo perfeito para garantir o maná dos executivos, ou seja, o Prêmio de Resultados, tenha as empresas, lucros ou não. Alguns RHs são muito eficientes, como por exemplo, o da AIG, por que após ter mamado 170 bilhões de dólares do governo americano, para escapar da falência iminente, ainda pagou polpudos bonus (Prêmio de Resultados) aos seus executivos, provavelmente por terem se desempenhado tão bem. O executivo de RH da AIG é hoje disputado a tapas no mercado das grandes corporações. Conhecido como o mago Prêmio Impossível, seu passe vale milhões. 


A outra atividade principal do RH é organizar a convenção anual de executivos. Claro, o RH também organiza a convenção de associados de final de ano, mas a logística desta é fácil: se não encontrar um local de eventos adequado disponível, basta alugar uma quadra de futebol de salão, enfeitá-la com balões e enchê-la com mesas e cadeiras de plástico de boteco. As cadeiras, por sinal, devem ser escolhidas a dedo pois, elas devem ir se quebrando compassadamente ao longo do evento, provocando quedas dignas de cinema pastelão dos pobre associados que vão caindo em piruetas elaboradas, dignas de dubles de cinema e assim, vão garantindo o único divertimento real dos infelizes ao longo do dia de espetáculos e palestras chatíssimas. 


Mas a convenção de executivos é um acontecimento único e todos esforços que restaram do RH ficam concentrados na sua organização muito embora, qualquer perigo real e imediato que ameace o Prêmio de Resultados, pode exigir o recrutamento total do imenso contingente do RH e assim, tirar um pouco do encanto e da magia da convenção de executivos daquele ano. 


Primeiramente se define o local da convenção pois todas as apresentações e os shows deverão estar adequados ao ambiente do local paradisíaco escolhido naquele ano, pois o Recursos Humanos, embora não seja formado por socialites, também é fashion, é elegância, é sofisticação. Como eles vivem dizendo, o RH é luz, estrela e luar, meu ioiô, meu Iaiá. 


Grandes corporações escolhem locais sofisticados como o Principado de Mônaco. O Cassino de Monte Carlo é o preferido, muito embora alguns diretores de RH menos familiarizados com o Jet set internacional, gastem um tempão tentando localizar o Casino Rayale, que eles conheceram num filme de James Bond. Chegam até enviar os agentes secretos do RH para Monte Carlo na tentativa de achar o tal casino. Tudo em vão. No final nem localizam o cassino e nem seus aloprados agentes que acabam boiando no oceano, depois de darem um calote na máfia local e perderem muito mais do tinham, apostando nas roletas de Monte Carlo. 


Outras escolhem a Africa, em algum Casino Resort seis estrelas localizados no coração da selva africana, como o Sun City, na fronteira de uma reserva contendo milhares de animais selvagens prontos para devorar alguns executivos, de preferência os Low Fat. E lá vão eles, num magnífico safari ecológico, preparado pelo RH. Escoltados pelos guias profissionais, os festivos executivos turistas seguem pela savana, enclausurados dentro dos carros, no conforto do ar condicionado, se livrando do calor infernal e dos mosquitos vorazes, na tentativa de ver algum animal selvagem e tão logo eles aparecem, fazem uma tremenda confusão, para irritação do experiente guia, um antigo caçador de leões aposentado. Elefantes viram hipopótamos, hipopótamos viram rinocerontes, leopardos viram onças e crocodilos viram jacarés da Lacoste. Definitivamente não é fácil a vida de um guia. 


O padrão é sempre alojar os executivos em duplas nos hotéis. Mas estes resorts africanos têm algumas peculiaridades, alguns possuem quartos single amplos, com camas de casal e então o óbvio acontece: algumas duplas femininas e masculinas, disputam a tapas estes quartos. 

Médias corporações escolhem o Caribe como o local ideal. E ai, acontecem algumas tragédias, como a do diretor de RH, que queria mostrar serviço economizando no orçamento e sem saber direito o que era o caribe marcou,  a convenção, por uma pechincha, em um Hotel em Porto Príncipe no Haiti. Até que as coisas não estavam tão mal, tirando a falta de comida, acomodações adequadas e energia. O problema mesmo foi o terremoto. Pobres executivos. Para muitos era sua primeira convenção e para muitos foi a última. Como recordação, ficaram algumas lápides na poeira caótica de Porto Principe, logo saqueadas. 


As pequenas empresas, fazem suas convenções no Brasil mesmo, ou no máximo em algum país do Mercosul sempre aproveitando as milhagens junto as empresas aéreas nacionais. Pontos de cartões de créditos corporativos são também utilizados para a aquisição de passagens. E, às vezes, acontecem as pequenas decepções, pois cliente de milhagem, não têm lá muitas regalias e podem ser impedidos de voar  por overbook e ou qualquer outro motivo. Por esta razão, às vezes, estas convenções começam apenas com a metade dos executivos, enquanto esperam o ônibus com os demais chegar, que às vezes nunca chegam. 


As convenções tem certos padrões que se repetem, qualquer que seja o tamanho da organização. Nos 2 primeiros dias elas primam pela monotonia, com apresentações chatíssimas sobre o desempenho de cada uma das empresas do grupo no ano. Conta-se os feitos e os mal-feitos de cada uma. Histórias de sucesso e tragédias espantosas. As piores sempre levam um pergaminho enrolado, que é utilizado no momento da apresentação do cash flow daquelas empresas. Como o telão é limitado, coloca-se o pergaminho logo abaixo do telão e então ele é desenrolado até o chão. Nele, existe uma linha que se estende até o carpet da sala e que mostra os resultados desesperadoramente dramáticos das ex-empresas.


Tão logo o CEO delas termina a apresentação ele já guarda os papeis com suas anotações e a carteira de trabalho em sua mala de viajem e sai a procura de um novo emprego. Para quebrar o clima de velório, entra em cena o abominável mister M, que chama a platéia para mais uma seção de ginástica rítmica. E os executivos ficam lá rebolando enquanto lutam para esquecer que, os próximos a irem para o mercado de trabalho podem ser eles. 


O penúltimo dia da convenção é o mais ansiosamente esperado. Sempre tem algum convidado estelar para uma palestra. E dependendo do tamanho da organização temos personalidades como: Bill Clinton contando suas aventuras amorosas nos jardins da Casa Branca; Lula falando sobre os prazeres do trabalho; José Serra dissertando sobre a gripe suína e os três porquinhos; Dilma Roussef ministrando aulas prática de homem bomba. 


Nas empresas menores, os executivos têm que se contentar com celebridades de reality shows, jogadores de futebol, astrólogos, estrelas de novelas e pagodeiros. 


E finalmente, no último dia, a informalidade entra em cena. Ela começa com os jogos de confraternização e estratégia. E a ai, a criatividade do RH é explosiva. Se o evento ocorre nas Bahamas, os executivos mergulham com os tubarões para que eles aprendam a lidar com concorrência. Se é em Las Vegas, os executivos são postos a caminhar no deserto, mais especificamente no Vale da Morte, como uma preparação para os momentos de crise que virão. Se em Brasília, os jogos se realizam no congresso nacional, para se aprender as artimanhas das negociatas, dos concorrências fraudulentas e da arte do suborno. Ou seja, o RH consegue extrair de cada local, valiosas lições que ajudarão os executivos a serem, no mínimo,  o que eram e no máximo, muito piores do que eram. 

E a noite, sempre tem os teatros dos executivos, nos qual eles improvisam situações vividas pelas empresas no seu dia a dia. Certa vez meu CEO se disfarçou de Empresa e uma Diretora, de Cliente e metade dos executivos eram coadjuvantes de Clientes e a outra metade de Empresa. Nós, os outsiders, uns três ou quatro que não acreditávamos, pois aos piores sobra intensidade apaixonada e aos melhores falta convicção, ficávamos lá atrás numa mureta assistindo o triste espetáculo: o cliente gritando, reclamando e a empresa se defendendo. E o  negócio estava pegando fogo, parecia um jantar de italianos, aquela gritaria incontrolável. 


De repente, o CEO estaca e olha para nós, os outsiders. Seus olhos vermelhos em fúria e disse: 


- Vocês aí, sem comprometimento, por causa de vocês a concorrência blá, blá, blá.... 


Seu simples olhar transformou em estátua de sal,  três dos executivos que estavam ao meu lado e eu escapei, me protegendo atrás de uma mesa, como num filme de bang bang tupiniquim. Não é fácil a vida de executivo.
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