Marina I. Jones Os Executivos Aventura Humana Tecnologia Mundo Rural Colaboradores

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Incredulidade e Intolerância ( by Edith F.A. Rufino)


Maria Edith Rufino
Em alguns momentos de nossas vidas ficamos introspectivos e isto acontece sempre quando sentimos a necessidade de nos conhecermos melhor, interagindo com nossas emoções, num estudo de auto-análise, às vezes com um objetivo fútil mas às vezes, nossa última esperança de salvação. 


Tentamos entender o que realmente somos, quem somos, procurando nos pontos mais remotos e obscuros de nossas mentes, na esperança de se conseguir um conhecimento mínimo para que, possamos superar nossa natural limitação de entendimento das coisas mais subjetivas desta existência, aquilo que não segue normas, preceitos e sim ao que parece ser um  estado caótico permanente. E no embate entre nossas memórias visuais, nossas crenças, aquilo que ouvimos e falamos, procuramos respostas nem sempre possíveis, provavelmente devido a este conhecimento limitado que parece sempre chegar muito tarde, se é que algum dia ele chega realmente. Sempre esbarramos em limitações científicas, técnicas e culturais que nos impedem de se chegar a alguma conclusão precisa. 


A melhor forma, para mim, é escrever, colocando para fora todas minhas perguntas e ao mesmo tempo tentar respondê-las. E se não conseguir, não tem importância pois não desisti não me estagnei, eu tentei e já terá valido a pena. As vezes a pergunta certa é mais importante que uma resposta precisa a uma pergunta tola. 



Termos como,  incredulidade, intolerância, razão, ética, mal e corrupção, às vezes fazem com que minha mente navegue por mundos que talvez nem existam. É semelhante a um navio em um cruzeiro, que apesar da aparente tranquilidade e segurança, sempre navega por águas que podem ser traiçoeiras de um oceano poderoso, insondável e às vezes impiedoso. 



E neste universo que é a mente humana, retorno a um tempo de grandes mudanças e percebo que sempre houve erros graves e acertos brilhantes, como na intolerância da igreja católica, com erros xenofóbicos, sanguinários e vingativos, que até os dias de hoje obriga o Papa desculpar-se por eles. O mesmo com o Islamismo e outras religiões, que frequentemente, homens mal intencionados a interpretam de acordo com seus interesses para praticar atos vergonhosos. 



Estes são pequenos exemplos, mas sabemos que existem aos milhares no passado e assim como sabemos que destes erros, também sabemos que nas grandes guerras foram tirados ensinamentos riquíssimos, de grandezas incontestáveis. 

Porem o ser humano teima em continuar em seu mundinho particular e egoísta. Por mais que tenhamos evoluído, ainda somos primitivos e superficiais e nada parece ser capaz de conter a natural agressividade do ser humano. 



E nesta viagem sem fim da mente, pergunto-me se a inteligência é nata ou é uma questão genética. Sinceramente não sei a resposta, pois acredito, que também possa ser um conceito pessoal, variando de pessoa para pessoa. 



Acredito fielmente que Jesus é infinitamente mais inteligente que todos pois pregou todo o tempo a igualdade, mas o que seria este igual, já que os homens não querem ser, uns querem ser sempre mais poderosos que os outros. Será então que neste quesito Jesus pregou em vão? Não acredito, pois uma vez uma semente plantada ela há sempre de germinar, basta enterrá-la? Às Vezes, em outras há a necessidade de verificar o ph da terra, da retirada da erva daninha, do adubo,e da água. E se trazemos isto para nossa vida e interpretarmos cada problema, cada situação como sendo esta semente, acredito na obtenção de bons frutos. 



Portanto acredito que Jesus falava de uma igualdade diferente da palavra que existe no dicionário, Ele não quis dizer, faça de sua vida uma matemática simples, onde 2+2 são 4. Acredito mesmo que, Ele nos disse, lute para que seja um homem bom, sedes humilde e saiba ouvir independentemente de quem seja o outro e se disposto a dialogar entenda o coração, não seja egoísta para com o outros... matematicamente como muitos querem a vida, só teria um conselho nesta conclusão e que eu mesma não esqueça, que é a equalização da vida, a balança entre o bem e o mal, a balança da incredulidade e da fé e assim sucessivamente. 



Se cada indivíduo pudesse ou tivesse condição e vontade de melhorar, tudo seria mais fácil, mas a verdade é que a natureza humana gosta e aprova todas as controvérsias, ou se tudo de paz fosse, talvez também perderíamos o sentido de viver. Porém ainda assim acredito que os "mass-media", grandes intelectuais, as religiões podem contribuir por um mundo melhor. Homens como Richard Dawkins, Umberto Eco e Noam Chomsky, considerados os maiores intelectuais da atualidade, poderiam e muito colaborar, mas à medida que se intelectualiza, mais distante de Deus e dos homens ficam, e sempre me pergunto a razão de tudo isto. Seriam as falhas entre o que a bíblia diz e o que a ciência diz? E daí? pergunto eu. Todos os livros sagrados foram escritos por homens e nos somos passíveis de erros,e na minha pequena cabeça, simplesmente imagino que um apóstolo exagerou em alguma passagem, assim como nós mães um dia exageramos em alguns conselhos aos nossos filhos para que um mal maior não acontecesse. Simples assim, porém esta simplicidade seria indubitavelmente motivo de riso para muitos, mas não me importo. A vida tem que ser simples, sincera... Mas também sei da importância da ciência e de homens como estes, porém eu SINTO que Jesus é soberano! E acredito que um dia Ciências e Deus se dêem as mãos. 



Esta incredulidade, que nada mais é do que uma recusa no crer, nasce da rejeição pela simples conveniência do ser humano em muitos casos. É impossível sufocar uma verdade, se a simples existência dela, nos obriga a conviver com ela diariamente. Então que sejamos simples, verdadeiros, sem rodeios, sem mentiras... Isto não e fácil, faz doer muitas vezes, porém por pior que seja uma verdade com o passar do tempo descobrimos que o mal causado no presente é o que te fará crescer no futuro.


Sei, que precisamos de obras divinas no coração, de uma mente aberta, para que afeições não sejam afetadas, por isso para que semear a dúvida, se ela geralmente advém de uma fraqueza, e desta fragilidade, aproveitam pessoas e circunstâncias para em nós prevalecer, pois o que vivemos e a teologia parecem não se harmonizar, mas vejam bem, só parecem, o cérebro humano é complexo sim, mas é harmonioso, é regido pelos nossos pensamentos, creio eu, se conseguirmos este equilíbrio no pensar, tudo o mais será passado logo. 


Existem duas frases que me ajudaram no dia hoje e que vieram de encontro a tantas letrinhas que pela minha mente passaram: a primeira é de São Francisco de Assis "Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível", a segunda é de Clarice Lispector: "escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada

domingo, 28 de novembro de 2010

A Convenção de Executivos - Série: Os Executivos - Cap. 16

O Departamento de Recursos Humanos tem duas atividades fundamentais na corporação: a primeira delas é encontrar o mecanismo perfeito para garantir o maná dos executivos, ou seja, o Prêmio de Resultados, tenha as empresas, lucros ou não. Alguns RHs são muito eficientes, como por exemplo, o da AIG, por que após ter mamado 170 bilhões de dólares do governo americano, para escapar da falência iminente, ainda pagou polpudos bonus (Prêmio de Resultados) aos seus executivos, provavelmente por terem se desempenhado tão bem. O executivo de RH da AIG é hoje disputado a tapas no mercado das grandes corporações. Conhecido como o mago Prêmio Impossível, seu passe vale milhões. 


A outra atividade principal do RH é organizar a convenção anual de executivos. Claro, o RH também organiza a convenção de associados de final de ano, mas a logística desta é fácil: se não encontrar um local de eventos adequado disponível, basta alugar uma quadra de futebol de salão, enfeitá-la com balões e enchê-la com mesas e cadeiras de plástico de boteco. As cadeiras, por sinal, devem ser escolhidas a dedo pois, elas devem ir se quebrando compassadamente ao longo do evento, provocando quedas dignas de cinema pastelão dos pobre associados que vão caindo em piruetas elaboradas, dignas de dubles de cinema e assim, vão garantindo o único divertimento real dos infelizes ao longo do dia de espetáculos e palestras chatíssimas. 


Mas a convenção de executivos é um acontecimento único e todos esforços que restaram do RH ficam concentrados na sua organização muito embora, qualquer perigo real e imediato que ameace o Prêmio de Resultados, pode exigir o recrutamento total do imenso contingente do RH e assim, tirar um pouco do encanto e da magia da convenção de executivos daquele ano. 


Primeiramente se define o local da convenção pois todas as apresentações e os shows deverão estar adequados ao ambiente do local paradisíaco escolhido naquele ano, pois o Recursos Humanos, embora não seja formado por socialites, também é fashion, é elegância, é sofisticação. Como eles vivem dizendo, o RH é luz, estrela e luar, meu ioiô, meu Iaiá. 


Grandes corporações escolhem locais sofisticados como o Principado de Mônaco. O Cassino de Monte Carlo é o preferido, muito embora alguns diretores de RH menos familiarizados com o Jet set internacional, gastem um tempão tentando localizar o Casino Rayale, que eles conheceram num filme de James Bond. Chegam até enviar os agentes secretos do RH para Monte Carlo na tentativa de achar o tal casino. Tudo em vão. No final nem localizam o cassino e nem seus aloprados agentes que acabam boiando no oceano, depois de darem um calote na máfia local e perderem muito mais do tinham, apostando nas roletas de Monte Carlo. 


Outras escolhem a Africa, em algum Casino Resort seis estrelas localizados no coração da selva africana, como o Sun City, na fronteira de uma reserva contendo milhares de animais selvagens prontos para devorar alguns executivos, de preferência os Low Fat. E lá vão eles, num magnífico safari ecológico, preparado pelo RH. Escoltados pelos guias profissionais, os festivos executivos turistas seguem pela savana, enclausurados dentro dos carros, no conforto do ar condicionado, se livrando do calor infernal e dos mosquitos vorazes, na tentativa de ver algum animal selvagem e tão logo eles aparecem, fazem uma tremenda confusão, para irritação do experiente guia, um antigo caçador de leões aposentado. Elefantes viram hipopótamos, hipopótamos viram rinocerontes, leopardos viram onças e crocodilos viram jacarés da Lacoste. Definitivamente não é fácil a vida de um guia. 


O padrão é sempre alojar os executivos em duplas nos hotéis. Mas estes resorts africanos têm algumas peculiaridades, alguns possuem quartos single amplos, com camas de casal e então o óbvio acontece: algumas duplas femininas e masculinas, disputam a tapas estes quartos. 

Médias corporações escolhem o Caribe como o local ideal. E ai, acontecem algumas tragédias, como a do diretor de RH, que queria mostrar serviço economizando no orçamento e sem saber direito o que era o caribe marcou,  a convenção, por uma pechincha, em um Hotel em Porto Príncipe no Haiti. Até que as coisas não estavam tão mal, tirando a falta de comida, acomodações adequadas e energia. O problema mesmo foi o terremoto. Pobres executivos. Para muitos era sua primeira convenção e para muitos foi a última. Como recordação, ficaram algumas lápides na poeira caótica de Porto Principe, logo saqueadas. 


As pequenas empresas, fazem suas convenções no Brasil mesmo, ou no máximo em algum país do Mercosul sempre aproveitando as milhagens junto as empresas aéreas nacionais. Pontos de cartões de créditos corporativos são também utilizados para a aquisição de passagens. E, às vezes, acontecem as pequenas decepções, pois cliente de milhagem, não têm lá muitas regalias e podem ser impedidos de voar  por overbook e ou qualquer outro motivo. Por esta razão, às vezes, estas convenções começam apenas com a metade dos executivos, enquanto esperam o ônibus com os demais chegar, que às vezes nunca chegam. 


As convenções tem certos padrões que se repetem, qualquer que seja o tamanho da organização. Nos 2 primeiros dias elas primam pela monotonia, com apresentações chatíssimas sobre o desempenho de cada uma das empresas do grupo no ano. Conta-se os feitos e os mal-feitos de cada uma. Histórias de sucesso e tragédias espantosas. As piores sempre levam um pergaminho enrolado, que é utilizado no momento da apresentação do cash flow daquelas empresas. Como o telão é limitado, coloca-se o pergaminho logo abaixo do telão e então ele é desenrolado até o chão. Nele, existe uma linha que se estende até o carpet da sala e que mostra os resultados desesperadoramente dramáticos das ex-empresas.


Tão logo o CEO delas termina a apresentação ele já guarda os papeis com suas anotações e a carteira de trabalho em sua mala de viajem e sai a procura de um novo emprego. Para quebrar o clima de velório, entra em cena o abominável mister M, que chama a platéia para mais uma seção de ginástica rítmica. E os executivos ficam lá rebolando enquanto lutam para esquecer que, os próximos a irem para o mercado de trabalho podem ser eles. 


O penúltimo dia da convenção é o mais ansiosamente esperado. Sempre tem algum convidado estelar para uma palestra. E dependendo do tamanho da organização temos personalidades como: Bill Clinton contando suas aventuras amorosas nos jardins da Casa Branca; Lula falando sobre os prazeres do trabalho; José Serra dissertando sobre a gripe suína e os três porquinhos; Dilma Roussef ministrando aulas prática de homem bomba. 


Nas empresas menores, os executivos têm que se contentar com celebridades de reality shows, jogadores de futebol, astrólogos, estrelas de novelas e pagodeiros. 


E finalmente, no último dia, a informalidade entra em cena. Ela começa com os jogos de confraternização e estratégia. E a ai, a criatividade do RH é explosiva. Se o evento ocorre nas Bahamas, os executivos mergulham com os tubarões para que eles aprendam a lidar com concorrência. Se é em Las Vegas, os executivos são postos a caminhar no deserto, mais especificamente no Vale da Morte, como uma preparação para os momentos de crise que virão. Se em Brasília, os jogos se realizam no congresso nacional, para se aprender as artimanhas das negociatas, dos concorrências fraudulentas e da arte do suborno. Ou seja, o RH consegue extrair de cada local, valiosas lições que ajudarão os executivos a serem, no mínimo,  o que eram e no máximo, muito piores do que eram. 

E a noite, sempre tem os teatros dos executivos, nos qual eles improvisam situações vividas pelas empresas no seu dia a dia. Certa vez meu CEO se disfarçou de Empresa e uma Diretora, de Cliente e metade dos executivos eram coadjuvantes de Clientes e a outra metade de Empresa. Nós, os outsiders, uns três ou quatro que não acreditávamos, pois aos piores sobra intensidade apaixonada e aos melhores falta convicção, ficávamos lá atrás numa mureta assistindo o triste espetáculo: o cliente gritando, reclamando e a empresa se defendendo. E o  negócio estava pegando fogo, parecia um jantar de italianos, aquela gritaria incontrolável. 


De repente, o CEO estaca e olha para nós, os outsiders. Seus olhos vermelhos em fúria e disse: 


- Vocês aí, sem comprometimento, por causa de vocês a concorrência blá, blá, blá.... 


Seu simples olhar transformou em estátua de sal,  três dos executivos que estavam ao meu lado e eu escapei, me protegendo atrás de uma mesa, como num filme de bang bang tupiniquim. Não é fácil a vida de executivo.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Happy Hour - Serie: Os Executivos Cap. 14


Toda empresa possui seu Board, formado pelos executivos que efetivamente a comandam. Eles ficam lá no alto , no Olimpo, evitando assim, ao máximo , o contato desagradável com a turba ignara, que efetivamente carrega a empresa nas costas e que fica alojada muitos metros abaixo, não raro em catacumbas improvisadas nos subterrâneos da empresa.

O Board tem suas reuniões diárias, chamadas de stand-up meetings. Nelas os executivos, discutem sobre o futuro da organização, definindo quais serão os projetos que mais impacto trarão para a empresa e principalmente para suas carreiras pessoais e quais efetivamente permitirão que o prêmio de resultados no final do ano seja viável e polpudo. Enfim senhores, não é fácil ser um diretor executivo, pois as questões são intrincadas e complexas.

E subitamente numa destas reuniões desgastantes, sobre o futuro de cada um do board, adentra a sala ele, O Presidente da corporação, também conhecido por Zeus, o senhor dos céus e dos raios. E sua entrada é triunfal, ele vem caminhando a passos largos em direção aos membros empalidecidos e petrificados do Board. Alguns, não resistem e caem de suas cadeiras, disparando os sensores de enfarto iminente que, automaticamente fazem despencar do alto do teto da sala de reuniões, diversas máscaras de oxigênio que são imediatamente colocadas pelos executivos que ainda estão conscientes. Ao mesmo tempo, as portas se abrem e os paramédicos entram em correria. Ao longe, pode-se ouvir o som das turbinas dos helicópteros das equipes médicas pousando no heliporto do prédio.

Alguns minutos depois, quase todos membros do board já estão ressuscitados. Um ou dois não resistem e são encaminhados aos hospitais conveniados. Estão em coma profundo e só serão despertos com a ajuda da equipe médica, que coloca no serviço de som da UTI, uma frase que se repete indefinidamente. O prêmio de resultados está chegando! O prêmio de resultados está chegando! O prêmio de resultados está chegando!

Ainda conseguem voltar a tempo para a reunião com o Presidente Kirk, o tele transportado.

O presidente começa sua fala imperial e o som de sua voz ecoa nos corredores da organização, provocando frenesi generalizado nos escalões inferiores. O pessoal de TI se transforma em avatares e foge o mundo virtual, como em Matrix. O demais não tem a mesma sorte. Alguns, não resistem e saltam das janelas. Outros simplesmente entram num estado catatônico a espera de algum acontecimento muito ruim prestes a suceder. 

- Senhores, está na hora de fazermos alguma coisa para ficarmos bem colocados no ranking das melhores empresas para se trabalhar no Brasil, resume o presidente

- Veja bem Presidente, estávamos justamente discutindo isto aqui senhor, responde o CEO.

O presidente é tomado repentinamente por uma crise de risos incontrolável. Seus assessores fazem de tudo para controlá-lo mas, tudo em vão. Desesperados, resolvem apelar para o expediente infalível:

- Senhor, ligaram da Forbes, querem uma entrevista urgente.

O presidente estaca, cambaleia, parecendo fulminado por alguma arma mortal e então, como uma víbora de um encantador de serpentes indiano, vai se levantando lentamente, e ao abrir os olhos vidrados, deixa transparecer um  sorriso incontido de prazer, mas ai ele se lembra do velho truque do manual dos seus assessores e se recompõe e recomeça:

- Senhores, este ano nós seremos os primeiros no ranking e ai de vocês se isto não acontecer. Tenham um bom dia.

O Presidente sai da mesma forma como entrou, mais parecendo um general romano saindo do senado.

O Board permanece alguns minutos na posição de estátua e em completo silêncio. A secretária, acostumada com aquelas cenas, segue o procedimento padrão de despertar o board e toca bem alto sua vuvuzela, trazendo os executivos ao mundo real novamente.

Imediatamente eles começam a discutir o que fazer para que os funcionários reconheçam a empresa como um ótimo lugar para se trabalhar. O Diretor de RH, sugere candidamente:

- Podemos usar a mesma tática do Capitão Nascimento (Tropa de Elite) e usar sacos plásticos. Tenho amigos que foram expulsos do DOI Codi por excesso de violência e acho que eles poderiam ajudar.

O CEO ouvindo aquilo, balança a cabeça e num átimo, atira no diretor de RH um vasinho de bonsai, cheio de areia, que estava em cima da mesa.  O resultado deste minuto  de fúria do CEO, foi que, o  araponga do RH ficou cuspindo areia nos demais executivos toda vez que abria a boca, até o final da reunião. O bonsai permaneceu estatelado no chão, sem qualquer cuidado ou atenção especial. Sequer o Green Peace foi chamado.

O que se viu a seguir foi um descontrole total, cada diretor tentando emplacar sua idéia para resolver o problema do presidente. E então, o diretor de marketing, que permaneceu este tempo todo calado enquanto lixava e aparava suas as unhas, disse candidamente ao mesmo tempo em que balançava sua a cabeça   como um lagarto pegajoso:

- Sugiro que façamos um Happy Hour, disse o lagarto do marketing. Nós do Board, podemos até cantar para alegrar e descontrair os funcionários.

Enquanto falava, o Imenso Lagarto  ostentava um permanente sorriso nos lábios,e dava  piscadelas para os demais membros do board que olhavam imediatamente para o outro lado da sala. Alguns enfiavam-se debaixo da mesa como que a procura de um objeto perdido.


O CEO, olhou para o lagarting e disse:

- Boa idéia, trabalhe com o RH nisto, quero o Happy Hour nesta semana. Case Closed. Outra coisa o Board não canta.

O CEO tentava desesperadamente afastar a visão que ocupava sua mente, ele e os demais membros do Board, vestidos de Village People e cantando Macho Man. Já estava suando frio e saiu rapidamente da sala, a procura de algum paramédico, antes que o lagarto beijasse sua mão agradecido.

E chega o grande dia e os funcionários vão se dirigindo em grupinhos até o local do Happy Hour, ornamentado como uma escola de samba, com o pomposo título de reino encantado do monte Kilauea e suas labaredas de fogo. Na entrada , toda equipe do RH trajando vestidos havaianos se requebram ao som da Hula. O Capitão Nascimento, quer dizer, diretor do RH mais  parecia uma Carmem Miranda ostentando um enorme girassol na cabeça. Ao ver aquele a cena, o CEO teve até medo de imaginar como estaria vestido do diretor de marketing e tentou sair em disparada fugindo daquele pesadelo sendo necessário uns quatro executivos para segurar o homem bala e trazê-lo de vota ao reino encantado.

Geralmente um Happy Hour é um lugar chatíssimo pois existe uma liberdade apenas simbólica pois ela é sempre vigiada, mais parecendo um reality show. Mas alguns tipinhos são bem característicos e são conhecidos como arroz de festa de Happy Hour.

O Invisível: Ele chega de mansinho, vai andando recostado as paredes para não ser visto e de repente salta e se camufla atrás de uma samambaia gigante, só se vendo seus dois olhos de garoupa morta perscrutando o ambiente a procura de algum lugar onde possa passar desapercebido. Consegue descolar uma cadeira vazia num grupinho obscuro e salta imediatamente para debaixo da mesa e vai deslizando cadeira acima e começa imediatamente a imitar os demais: se sorriem ele sorri, se falam ele presta uma atenção de coruja. E fica ali, invisível, rezando para que aquilo acabe logo e ele possa ir para seu ninho, quer dizer sua casa.

O Risonho: Ele possui limitações para o entendimento das coisas simples e leva tudo ao pé da letra. Faz questão de se mostrar a pessoa mais alegre do Happy Hour e sua gargalhada pode ser ouvida em todo o ambiente, atrapalhando até mesmo a banda de pagode que teima em tirar uns som estranhos de uns tamborins e atabaques. Cruzes. Qualquer bobagem que um diretor diga, lá vem o risonho gargalhando e sacudindo suas pelancas. E sua vida não tem sido fácil: sua mulher dorme com associados dos outros departamentos, sua filha fugiu um traficante e sua sogra esta voltando de suas férias em Cubatão. Mas seu sorriso não desaparece, parece plastificado.

O Zé Bunitim: Personagem sem maiores atrativos físicos, mas sempre rodeado de beldades que ficam suspirando por qualquer bobagem que ele pronuncie.

As Chicken Fajitas: Elas são bem conhecidas de todos na organização e de alguns, muito mais ainda. Nos Happy Hour são pura alegria e causam um certo furor no início e normalmente um mal estar no final, pois depois alguns goles, elas seguem a risca o velho ditado que diz que, canja de galinha não faz mal a ninguém e começam a se insinuar para os seus preferidos, incluindo alguns membros do board, que já pra lá de Bagdá, vão apenas confirmando as suspeitas de todos na organização.

O Workaholic: Como não tem mais nada interessante na vida para fazer, fica em sua mesa trabalhando e faz questão que todos saibam que ele esta ali, faça chuva ou faça sol, carregando a empresa, sozinho, rumo ao desconhecido. Assim que todos funcionários já estejam no Happy Hour, o workaholic, passa a jogar paciência em seu computador.

Tarde da noite, só restando os bebuns tradicionais, o CEO decide encerrar aquela palhaçada toda, antes que eles acabem definitivamente com a reputação da empresa. Chama os seguranças, que educadamente, vão chutando um a um, para fora da empresa. Mais tarde, a polícia, leva no camburão, alguns deles que ainda permaneciam em sono profundo, estirados no macadame em frente a organização.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Grande Mudança - Série: Os Executivos - Cap. 15

Nada nas organizações é mais secretamente temido do que a grande mudança que,  invariavelmente acaba acontecendo  todo santo ano, como festa junina, lá pelos meados do ano.   Ou seja, nem sempre a historia se repete como uma farsa Às vezes ela se repete como uma palhaçada. 
Todos os escalões anseiam por um pouco de paz,  ociosidade e  tranqüilidade e um certo grau de certeza para seguir em frente mas, a alta direção não colabora, pois  ela  não pode deixar de promover seu ritual sagrado, um costume  que vem das mais priscas eras do capitalismo  tupiniqin, uma herança cultural  antropofágica,  derivada do cruzameto de um capitalista inglês com uma india canibal preguiçosa de uma destas tribos esotéricas da Amazônia  praticantes dos  mais ridiculos rituais da floresta, tipo queimar uma jovem virgem ao entardecer no alto da cacheira.

Graças a esta herança nefasta, faça chuva ou faça sol, tenham as empresas lucros ou não, nada, absolutamente nada, irá impedir o ritual sagrado anual da Grande Mudança, pois nossos capitalistas ainda mantém acesos, o abominável costume da oferenda pagã, embora menos  primitiva e selvagem que costumava praticar sua mãe ancestral, aquela índia chucra e desclassificada que, felizmente a história não registra o nome.

A Grande Mudança se inicia com uma série de reuniões ultra-secretas, que se arrastam noite a dentro e que envolvem membros da alta direção e o board das empresas.

Primeiramente  é preciso definir quais são os objetivos da Grande Mudança naquele ano, o que é uma tarefa exaustiva e perigosa, pois na verdade ninguém sabe exatamente nem porque a ela é necessária nem quais serão seus desdobramentos, ou seja , seus danos, mais especificamente quais as mudanças no alto escalão e quantos funcionários amarra cachorro serão demitidos. Não que o board se preocupe com demissões da plebe ignara, mas é sempre uma tarefa chata ter que enviar aqueles emails desejando sorte nas novas atividades e ainda ter que explicar para os infelizes atingidos pela Tsunami da Grande Mudança, porque eles foram escolhidos. Afinal dizer o que, se ninguém nunca soube ao certo os seus verdadeiros motivos ou sequer se eles existem de fato.

Finalmente, após acirradas discussões e depois que todos checaram de todas as formas que suas diretorias serão preservadas embora com outros pomposos nomes, o board parte para a segunda fase do processo tortuoso de preparação da Grande Mudança, que é a formação de um grupo interdisciplinar  de notáveis,  composto de executivos do médio escalão, considerado pelo board como imprescindível para garantir a credibilidade junto aos funcionários, para que estes validem as mudanças que irão no final, abrir-lhes novas portas para que eles, se tiverem sucesso, encontrem um novo emprego que os faça mais felizes. A maioria sequer encontra outro emprego.
Os notáveis são em geral sempre os mesmos, parecem aqueles jurados de programas de calouros na televisão, cada um com um estilo próprio e curioso. Representam a cremme de la cremme na organização e são também reconhecidos pelo baixo escalão onde recebem os carinhosos apelidos de aspones, puxa-sacos e estica-lençois. 
O board sabiamente escolhe diversos modelitos de notáveis, pois só a variedade garante as discussões intermináveis, as disputas acaloradas que irão garantir a transparência à Grande Mudança e um consumo excessivo de salgadinhos, refrigerantes e calmantes e tempo dos notáveis, permitindo que a organização fiqe mais produtiva e ágil graças a suas notáveis ausências.

Os modelitos mais comuns de notáveis são:

O Perfeccionista: especialista em apresentações multimídia fashion. Mais que ninguém , ele irá garantir o deslumbramento da alta direção quando da apresentação do documento final da Grande Mudança. Conhece todas as regras, sabe dos meandros para se atingir o êxtase final. Aficionado às ultimas bugigangas tecnológicas, se move lentamente, pois qualquer mudança brusca irá fazer com que um sem número de aparelhos tecnológicos se despenquem de seu corpo esguio. Sua agenda no Iphone é decorada com aquelas florzinhas que as meninas pregavam nos cadernos escolares antigamente, o que provoca comentários maldosos entre os outros notáveis, que não possuem o Iphone e sequer tem coragem de usar as florzinhas.

O Gladiador: Um tipo esquizofrênico, sempre emitindo opiniões contrárias às do grupo. Dono da verdade suprema, é o batalhador incansável, não medindo esforços para garantir que sua opinião antagônica sempre prevaleça, e quando finalmente  ela prevalece, pois os demais  membros da equipe, desistem por cansaço e  para se livrar daquele chato, ele em sua interminável luta contra o resto do mundo, muda de idéia e passa a defender acirradamente a posição antiga de seus companheiros incrédulos.

O Filósofo: Ele é indispensável, é quem assegura mais que ninguém o prolongamento interminável dos debates e reuniões, garantindo assim que os notáveis se mantenham afastados do trabalho estafante e fiquem ali, debatendo interminavelmente enquanto se locupletam de guloseimas e bebidas exóticas, uma exigência para garantir que suas mentes brilhantes  continuem funcionando, não diria a todo vapor, mas funcionando, evitando uma provável parada cerebral que comprometeria o prazo final da Grande Mudança.

O Profeta: Ele usa e abusa de máximas e aforismos, das metáforas, das profecias cabalísticas e sempre termina uma frase assim: eu avisei. Normalmente o que ele avisou não tem serventia para nada, tipo o cafezinho vai acabar ou então é alguma notícia velha que saiu publicada na mídia. Claro depois do fato, todo profeta é profeta. No entanto quando perguntado sobre o futuro de alguma tecnologia a resposta é sempre a mesma. Inicia com o tradicional Veja Bem e depois vai falando um monte de coisas absolutamente ininteligíveis para que, após algum tempo ninguém mais consiga se lembrar da pergunta e ele mantenha incólume sua reputação.

A Estrela: Este posto é normalmente ocupado por alguma bonitona de voz sensual e poucas luzes, mas que, praticamente paralisa o grupo de notáveis com seus sussurros, suspiros e palavras sem sentido, acompanhadas de várias caras e bocas que recebem a aprovação até do Filósofo.

O Visionário: vive num mundo paralelo sempre alguns anos a frente da realidade. Está sempre dizendo de tecnologias futurísticas que irão estremecer a organização, reduzindo a pó todos seus produtos atuais. Costuma levar grupinhos de crentes ao delírio até que um realista qualquer interrompe o frenesi que ameaçava tomar conta dos notáveis, fazendo um simples comentário: Pessoal, meu relógio apitou, hora do coffe break!. Pronto, em segundos todos se esquecem do Visionário e de suas apocalípticas previsões. A Ingratidão, esta pantera!  Ele sai da sala resmungando e volta a pesquisar no Google por mais futurismos. A noite ele lê gibis de ficção científica.

Um dia qualquer, numa das reuniões de notáveis, o CEO adentra ao recinto subitamente. Olha o bando de notáveis e balança a cabeça (entrou na sala errada). Então lembrando-se quem são eles e porque estão alí, começa sua ladainha,  dizendo que eles são os eleitos da organização, aqueles que vão corrigir seu rumo e garantir o seu sucesso no cenário turbulento inernacional.
Aos poucos, pode-se perceber uma sutil mudança nos rostos dos eleitos,  eles pouco a pouco vão se recostando mais em suas cadeiras reclináveis, esboçam um leve sorriso, alguns tremem, como que prestes a um orgasmo. Quando então, o CEO menciona os valores de cada um,  o que se vê são cenas que só vemos quando afagamos um cachorrinho. 
Por muito pouco, alguns notáveis mais exaltados,  não deitam de costas no chão e ficam balançando as patinhas. Outros vão se aproximando lentamente do CEO com as maozinhas levantadas e este  temendo uma lambida fria, muda repentinamente o tom de seu de seu discurso e chama o grupo a responsabilidade usando tons dramáticos. Fala do endividamento, do cash flow  da concorrência e garante que nem ele está com lugar garantido e que  tudo vai depender do resultado da grande mudança. Os notáveis cachorrinhos, um a um, retornam aos seus postos e ouvem compenetrados fazendo sinais e poses de aspirantes a alto executivo.

O CEO, para não perder mais seu precioso tempo, aproveita o seu erro de trajeto e anuncia a chegada imediata da Consultoria contratada  há muito tempo e que irá conduzir com os notáveis a grande mudança. Alguns notáveis sorriem em silêncio outros exclamam: Pereito, já ia sugerir isto,

Um ou dois notáveisn no entanto,   percebem que,  tudo o que fizeram, ou melhor o que não fizeram, as reuniões as acaloradas discussões, o planejamento detalhado, etc, tudo isto foi em vão. Silenciosamente  se revoltam, acham um absurdo que tenham levado tanto tempo para chegar a conclusão alguma do que fazer e depois de tanto esforço serem substituídos por uma simples consultoria. Covenhamos, aí já é demais também.

O tipo da consultoria escolhida depende do estilo do grupo. Se for uma empresa pequena, será uma consultoria amadora, baratinha, que é um pouco pior que uma consultoria de renome internacional.

O grandes grupos preferem as consultorias renomadas, que possuem um ou dois integrantes que conseguem raciocinar sozinhos, pelo menos para as necessidades mais básicas. Eles e mais uma pequena equipe irão vasculhar a empresa a procura das coisas obscuras que ameaçam o futuro da organização, como: mal olhado e olho gordo e eleborar um plano que garanta a sobrevivência da empresa. O plano é entregue na assinatura do contrato pela alta-direção: aquele mesmo das intermináveis discussões com o board para a preservação das diretorias.

E finalmente é chegado o dia da apresentação para a alta direção,  do plano dela, ou seja, o plano da Grande Mudança. Uma apresentação impecável,  que após  alguns minutos,  provoca um sono profundo na alta direção. Mas, os velhinhos acordam com as palmas que no final acontecem da apresentação, digna do camarada Fidel e, para não revelar que dormiram o tempo todo, expressam seu contentamento com a análise precisa de todos, parabenizando a todos e pedem ao board para implementar a Grande Mudança imediatamente.

Bem, o final da história todos conhecem em suas empresas, algumas demissões, pessoas chorando, departamentos extintos, outros criados. Exatamente o mesmo que acontece com os Ministérios na entrada de um novo presidente da Republica, mas no final: plus ça change, plus c'est la même chose.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Vícios, Vaidades e Renovação (by Lana Frances)

Lana Frances
Quando não somos escritores, é muito difícil  começar a escrever um texto, alguma coisa nos bloqueia, insistimos, mas ela é mais forte que nós. É o que vem acontecendo comigo há alguns dias. Mas, na vida temos que insistir, melhor fazer o esforço  e eis que, finalmente a peça musical emerge completa e nos sentimos bem, quase felizes,  embora tenhamos dúvidas sobre a aceitação do texto pelo leitor, sequer sabemos nosso estilo, pois discorrer sobre a vida não está dentro do escopo de atuação profissional  e então a dúvida invade-nos a alma.

Pensei em vários temas e sempre volto ao mesmo lugar, ou seja, Jardinagem e Horticultura. Então pensei, isto é vício e por este motivo decidi finalmente, após toda uma semana, tentar falar de assuntos que já testemunhei em minha vida.

Meu pai era da Marinha Americana e viveu em vários países e lógico toda sua família se tornou nômade. Tornou-se um vício. Quando ficávamos em um só lugar por mais que dois anos, todos nós ficávamos inquietos, era o hábito de mudar, o vício da adrenalina ao chegar em uma nova cidade, um novo país que, às vezes, tinha dialetos  tão estranhos, que impossibilitavam, a nós, crianças, até mesmo comprar uma bala.

A medida que  fomos crescendo, isto se tornou enfadonho, porque queríamos nossos amigos por perto, pois na verdade estes passaram a preencher uma lacuna vazia em nossas vidas, que são primos, tios, avós, etc. Quem não os têm por perto, sabe o valor deles.

E também já tínhamos adquirido hábitos e vícios.

Até que, aos 14 anos, morando nos Estados Unidos, passamos a conviver com um maior numero de familiares, e descobrimos cedo, que não era tão bom assim, pois ja não tinhamos só um capitão para nos comandar, mas vários...na nossa idade não foi nada agradável.

Alguns anos depois, meu pai foi enviado de volta a minha cidade natal, só que a Republica Democrática do Congo não era nesta época o melhor para se viver, pois o país estava em guerra civil,  e ficamos nos EUA  e aí experimentamos uma maior liberdade.

Já fazia trabalhos esporádicos de baby sitter, escondida de meus pais  há  tempos,  o que me permitiu, após uns dois anos experiência em lares diferentes, testemunhar certos danos que o computador pode fazer  a um ser humano. Tal qual uma droga ele seduz e alicia, tornando algumas pessoas  dependentes.

Num destes lares, pai e filho ficavam de frente daquela telinha durante todo o tempo possível. E se o pai já não se continha, nem o trabalho mais tinha a mesma importância, imagina o filho. Eu o vi ser internado como um viciado normal, chorando e gritando e não era pela mãe mas pelo computador.

Por este motivo passei anos da minha vida evitando trabalhos que me fizessem ficar o tempo todo em computadores.

Bem, pouco tempo depois, toda a minha  família veio para o Brasil, onde mora a família de minha mãe e uma tia me fez ver a beleza que existia na pesquisa certa, o que muito me ajudou. A partir dai tudo fluiu normalmente e fiz as pazes com a modernidade.

Meu pai, um homem de uma austeridade ímpar, independente, já um Almirante, o que, na marinha é  o objetivo de todos, adoece, um câncer que o maltratou muito até a morte. Este homem que apesar de ser um bom pai, não foi, por vários motivos, um bom marido. Por todo o casamento,  minha mãe esteve limitada a  condição de mãe criadora dos filhos. Todas as mulheres do mundo eram notadas por ele, mas minha mãe permanecia invisível aos seu olhos. Ele sempre se orgulhava a dizer aos outros, a minha esposa, mas se limitava a isto. Com a doença, este homem passou a precisar dela para absolutamente tudo e eu o vi chorar e pedir perdão pela sua eterna ausência. Nos chamou a todos 2 dias antes de sua morte e nos disse que poderia ter vivido um grande amor, mas só descobriu esta possibilidade quando já não mais tinha tempo. Ele foi em paz para o outro lado, pela força e ombro de minha mãe. O maior vício do meu pai foi o seu próprio ego, ele foi refém de sua beleza, de seu uniforme. O ego, a beleza e seu uniforme aqui ficaram. Ele retornou como veio. Eu o amo e amei desesperadamente. Mas tinha que ser dito aqui.

Nestas andanças da vida, meus irmãos foram ficando pelo caminho, Tenho um nos Estados Unidos. Uma na África, e somos três aqui no Brasil.

Na faculdade tive bons e maus momentos, porem para não fugir ao tema a que me propus, lembro-me de um colega que namorava sempre duas mulheres ao mesmo tempo. E presenciamos varias cenas hilarias como, por exemplo ele chegar a um churrasco e estar as duas de namorados. Se me perguntarem o que tem a ver, posso dizer que tudo, pois ele sempre dizia que não conseguiria viver sem a adrenalina de ter duas... E o fato de tudo na vida ter dois lados ou as vezes ate mais de dois, tem que ser ponderado.

É como todos os vícios, eles são iniciados com consciência, sabem que é errado, mas julgam-se maiores, intocáveis e continuam. Não há uma medida. Não tem harmonia. Sim harmonia. Um bom concerto precisa da harmonia de todas as notas, instrumentos e um maestro. Se falta um destes, com certeza não haverá aplausos. Pode ser que tenha no Brasil, me desculpem, mas o ouvido brasileiro não é muito bom pra música...

Em jardinagem o mais importante não são só plantas, é a harmonia. No entanto vemos sempre jovens profissionais se preocupando tão somente com a estética, que também é importante, mas ao selecionar o que vai ser plantado, é preciso usar critérios que resultem em harmonia. Há de se lembrar que estas plantas terão uma convivência obrigatória ali naquele local pré determinado e se,  se obedece a esta harmonia ficará automaticamente também mais fácil o controle de pragas e doenças. Por isso precisamos ter as chamadas plantas úteis, elas irão juntamente com vários outros elementos concretizar esta harmonia.

Em um jardim precisamos da água, sol, terra e ainda de metais, madeira e que seja arejado. Porque? A água, não só porque é necessário mas pela revitalização, porque sem ela não há vida. o sol porque o aquecimento é necessário e tem inúmeros outros efeitos não necessários dizer aqui, uma boa terra, pois se ela é bem tratada, tudo o mais seguirá seu curso, o metal porque é um bom refletor, ele pode jogar uma luz necessária por mais tempo onde necessário for, a madeira que são as árvores, elas são as transformações, a respiração..., e por fim o ar, se este circula entre as plantas, elas não estagnarão. Muitas árvores, plantas comuns ou não, juntas também terão por companhia os fungos e muitas outras doenças. É preciso cortar o que for necessário para o arejamento do ar. O topo de uma árvore tão somente, nada pode fazer por  ela. Há de correr livremente o ar por toda sua extensão.

E exatamente assim é a vida. Todos os elementos são necessários. É o conjunto, é a harmonia que no fim trará resultados.

Meu colega de trabalho, que me autorizou a escrever, está passando um momento terrível familiar, pelo vício da Internet. Ele não quer a esposa nem os filhos por perto, ele quer simplesmente a Internet, passa todo o dia olhando as horas para que possa chegar em casa e ficar livre para conversar nos chats da vida. Me pediu ajuda. Ele tem medo de contar a verdade a esposa e perde-la para sempre. E apesar do momento que estou passando, não contado aqui, só me lembrei do óbvio, pedi que ele olhasse em volta, estávamos numa praça, completamente estagnada, sem vida, e temos a missão de revitaliza-la. Esta praça é a nossa vida. Minha e sua. Estamos completamente sem harmonia. Vamos, os dois utilizar os elementos que conhecemos e vamos fazer as três coisas ao mesmo tempo. Vamos renovar nossas vidas e este jardim.

No caso dele, na reconstrução da família, começando por cortar os galhos que estão tirando o ar, desligando o computador por uns tempos, soube hoje que ele pediu a esposa que o guardasse para ele por uns tempos. No meu caso, de renovação, de olhar para o futuro, e no da praça, que possamos vê-la, em breve na mais completa harmonia.

Quando nós três estivermos curados, poderemos reaver alguns hábitos e/ou vícios, mas com toda certeza sem deixar recair em novos erros.

Então agora, se você leitor, quiser reler os elementos básicos de um jardim, tenho certeza que lhe será útil, compare-o a sua vida e se você quiser fazer parte desta renovação, junte-se a nós.

Lana Frances Franco
Nasci quando meu pai estava a trabalho no Congo. Morei em varios lugares na minha vida... Hoje moro em São Paulo trabalhando e vivendo de Jardinagem e Horticultura. Adoro!

domingo, 7 de novembro de 2010

Por Que os Homens Traem? (by Rogério Rufino)


“Apenas dois anos; e já Walter tinha deixado de amá-la, principiava a amar uma outra. O pecado ia perdendo a sua única desculpa, e os dissabores de ordem social, o seu único paliativo.” (ALDOUS HUXLEY - Contraponto)

Com este texto elegante, Huxley mencionou um daqueles problemas que possuem uma miríade de respostas, nenhuma totalmente satisfatória para atender esta dúvida cruel que persegue a maioria da mulheres em algum momento de suas vidas. Na verdade esta é uma das questões chaves de um casamento, do seu pleno sucesso, pois uma vez consumada uma traição nada mais volta ao que era antes, pois é impossível fugir do fantasma de um fato,  ele permanece lá, em algum canto, se escondendo entre as sombras a espreitar, apenas esperando o momento certo para que ele apresente novamente a sua face triste e disforme, em pequenos embates corporais com a realidade  e que aos poucos vão minando as estruturas de um relacionamento  outrora assentado em bases aparentemente sólidas. Não me atrevo a afirmar que são totalmente sólidas pois neste caso uma traição seria algo mais improvável de ocorrer.

Os danos são parecidos para traição de homens ou de mulheres, mas com conseqüências ainda, por questões culturais, diferentes. Vale também lembrar que as mulheres também traem, por motivos diferentes e elas serão o tema do próximo artigo.

Este assunto já foi motivo de calorosas discussões entre mim e  minha esposa e filhas e quando eu apresentava os motivos que levavam um homem a trair, eu percebia que naqueles instantes elas me viam como um porco chauvinista, pois  homens e mulheres embora possuam cérebros parecidos,  têm um raciocínio com minúsculas diferenças em sua lógica mas que resultam em respostas completamente diversas para a análise de um mesmo problema. O que prova que nosso cérebro também é regido pela mágica dos hormônios, masculinos e femininos e não só pela resultantes das sinapses que ali ocorrem. Na verdade nosso raciocínio lógico é fruto não só da inferência de hormônios mas de todo o corpo e como ele reage ao meio ambiente e ao meio cultural que o cerca. 

Nunca li sobre o assunto, não quero ler, não me interessa, mas é assim que neste momento eu consigo visualizar esta questão. Os estudiosos do assunto devem ter lá seus motivos e análises aparentemente precisas  baseadas em longos estudos. Digo aparentemente porque não temos ainda a tecnologia necessária para compreender toda a extensão de nosso cérebro e de seu comportamento. Logo, tudo que vocês vão ler sobre o assunto não passa de especulação interessante.

Mas vamos as razões pelas quais os homens acabam, uma hora ou outra traindo. Estas razões, repito não foram fruto de estudos, são simplesmente deduções baseadas na lógica dos meus 51 anos de vida.

1) Instinto
A Natureza equipou homens e mulheres com aparelhos reprodutores  e hormônios diferenciados tendo como finalidade básica a perpetuação da espécie.  A mulher produz um único óvulo mês e nós produzimos milhões de espermatozóides dia. Eles precisam sair.  E durante as crises conjugais ou outra razão que leve a  uma temporária ausência de  sexo com sua companheira,  se o homem não consegue expelí-los, por um motivo ou outro, todo seu  corpo  passa por processos curiosos e o principal e mais perverso é o aparecimento de uma aparente paixão súbita e inexplicável  por alguma mulher e que felizmente desaparece na primeira relação sexual que o homem fizer. Outra conseqüência perigosa, é que nestes momentos os homens olham e se aproximam muito mais das outras mulheres que o normal, o que em geral magoam suas mulheres profundamente, pois elas não têm este instinto demasiadamente predatório. Estão desenvolvendo ainda, mas nada têm de biológico, é mais cultural. 

Infelizmente por serem ainda primitivos e superficiais, muitos homens escolhem ainda a saída mais fácil: por revolta ou por sua fraqueza de caráter, não esgotam os últimos recursos para tentar solucionar ses problemas conjugais  e acabam  abrindo a  porta e a janela que levam a traição e não raro a destruição do relacionamento.

No ambiente hostil dos primeiros dias da humanidade, a expectativa de vida do ser humano nao passava de 20 anos, logo o homem era um caçador de animais para o sustento de sua família e também de mulheres para multiplicar a raça humana e garantir sua perpetuação. 

Este mesmo instinto confere ao homem a característica de ser tão visual e por isto ele é tão reativo ao corpo de uma mulher. Aparentemente as mulheres estão mais ligadas na beleza de um rosto masculino. Pelo menos não me lembro de frissons femininos pelo corpo de algum marmanjo que passava ao largo.  O resultado disto  é que a mulher é sempre mais emocional no amor e o homem sempre mais sexual.

Este apelo visual do homem, resultou nas ricas industrias de pornografia e fotos de mulheres peladas, ou seja na exploração do corpo feminino pelos capitalistas (homens) destas industrias. Com as mulheres pelo menos esta riqueza foi mais socializada.

Tudo isto pode parecer  cruel e desumano, mas é assim que funciona a natureza e ainda podemos ver este comportamento nos animais selvagens. Os homens claro, vêm evoluindo sistematicamente, mas ainda estão muito longe das mulheres neste quesito, permanecendo ainda muito primitivos em relação a elas. Infelizmente elas, cansadas deste primitivismo atávico do homem que provoca nelas uma sucessão de frustrações e  que depois se transformam em fontes de amargura, estão trilhando o mesmo caminho dos homens num crescente processo de involução, mas esta é outra história e que veremos no próximo capitulo.

 2) Vaidade
Nos primórdios da humanidade o que havia era competição entre os homens pela posse das mulheres como se vê ainda no Discovery Chanel, no mundo selvagem.

Esta competição exacerbada de força, foi substituída por algo mais refinado que é a vaidade. O homem sente prazer na conquista, na verdade ele queria o amor de todas as mulheres do mundo, desde que isto não lhe desse dores de cabeça, lógico. Mas lembrando, a conquista, é motivada pelo instinto de preservação e sem a conquista dificilmente ele terá sucesso naquilo que a natureza o programou.

O curioso é que o homem atual seguindo seu processo evolutivo, vem diminuindo sua necessidade de demonstrar suas conquistas aos outros homens, mas isto não diminui a força da vaidade, que permanece dominante, talvez sendo um mecanismo do homem para fortalecer sua auto estima. Eu que nunca tive, antes do casamento,  vaidade alguma em demonstrar minhas conquistas para os outros marmanjos, mesmo porque minhas conquistas foram poucas, ainda tenho lá no fundo reservas consideráveis de vaidade, mesmo depois de casado e vai explicar isto.

A vaidade do homem com ostentação de riqueza serve apenas a finalidade de conquista de mulheres, o que é lamentável. Daí o costume masculino, deplorável e hediondo, de se  pagar por sexo.

3) Costuma-se dizer é que os homens traem suas mulheres, porque em geral elas se desleixam da aparência. Bem, posso responder por mim: tenho 25 anos de casado e envelheci juntamente com minha esposa e em momento algum eu gostei menos dela ou senti necessidade de procurar outra, porque ela estava com cabelo desarrumado ou mais gordinha ou mais magra. Pelo contrário eu sempre a preferi  ao natural sem aquelas bobagens de cabeleireiro tipo escova no cabelo ou aquelas maquiagens idiotas. Mas cada um tem um gosto.
Assim,  não acredito muito nesta bobagem, mesmo porque geralmente os homens traem suas mulheres com outras menos atraente que elas. Claro tem exceções.

4) Outra bobagem a crendice que mulher segura o homem pelas suas qualidades culinárias. Bem, só se ele tiver um restaurante e for do tipo interesseiro.

5) Problemas Conjugais
Ciúmes, discussões, a tortura psicológica que as mulheres são especialistas, humilhações e falta de sexo estimulam a traição mas são causas secundárias. Se o casal é suficientemente evoluído e existe amor, tudo é resolvido em longas e calmas conversas. Quando isto não acontece porém, a traição entra em cena incontrolável.
Países Visitantes desde 23/agôsto/2010
info tráfico
contador visitas blog

Image by Cool Text: Free Graphics Generator - Edit Image