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domingo, 19 de setembro de 2010

Ultrapassagem (by Ir. Selma Cristina Santos, Lisboa)

Irmã Selma Santos
Por vezes me surge uma ideia absurda e meio invulgar, será que realmente de fato existimos, ocupamos um espaço, dominamos uma vontade, optamos por algo? Parece algo impensável ou irracional, mas qual é o domínio que realmente tenho do momento que vivo? Existem tantos porquês sem respostas…que ninguém nunca saberá, por isso acho que a vida é uma ultrapassagem sucessiva de pedaços, de esforços, de conquistas, de derrotas, de subidas, de quedas, de memórias, de esperança, de incertezas, de lágrimas, de decepções, de incompreensões, de desalento, de arrebatamento, de euforia, de perdas, de ganhos, de sentimentos inúmeros, incontroláveis, de objetivos. 

Eu sou única, eu sou quem menos se sabe explicar, eu sou dor, eu sou chama ardendo no chão, eu sou seresta, eu sou lágrima, eu sou pouco, eu sou espera, eu sou eu, solidão…minha dor é minha e não sua, por mais que outro queira partilha, sou solidão na minha ferida que dói só em mim, meu grito é meu na noite escura e meu medo é todo meu de errar o caminho…mas se eu não partir nunca saberei que sabor tem a dor, a queda, o negrume da noite, se eu não partir nunca conhecerei os amigos que as curvas me reservam, pessoas que nascem qual flor, como orvalho silente na noite de luar, se eu não partir não saberei o calor da mão amiga, o ninho do ombro que me acolhe, se eu não utltrapassar a mim própria não saberei o quanto dói despedaçar o corpo na subida, mas nunca saberei o quanto é gratificante a visão arrebatadora das alturas, de lá a visão é única e intransmissível, só eu posso ver, só eu posso sentir o vento no rosto, só eu posso registrar na retina a visão panorâmica da  minha vida, minha única vida, tão minha, só minha e de mais ninguém.

Há tantos segredos em existir tanto mistério, tantos desafios, viver não é fácil, viver é fascinação, é lançamento vertiginoso, é ir, é ir, é ir não se sabe onde, ninguém consegue chegar a mim, nessa viagem para o interior da existência humana, quantos serão os meus dias? Saberei eu atinar com o caminho? Sei que não nasci para ficar na estagnação do cais é preciso salvar a todo custo minha alma de peregrina, de apaixonada do Absoluto, por isso ultrapasso meus limites, porque são meus e eu sei que eles existem, por isso singro os mares das intempéries que o mar da vida me oferece, prefiro as águas tumultuosas às águas plácidas, porque só elas testam minha capacidade de viver sobre pressão, é bom assim, só assim avalio a qualidade que minha vida tem, a trajetória que faço é retilínea ida sem volta, e voltar seria morrer…e vou cortando os mares, ultrapassando a foz para desembocar no meu originário, quando enfim eu chegar e meu barco atracar no Porto Seguro aí sim respirarei aliviada, então finalmente terei chegado em CASA, aí sim começarei realmente a minha VIDA.
Ir. Selma Cristina Santos, Lisboa, 19-09-2010

“AH, OS PRIMEIROS MINUTOS NOS CAFÉS DE NOVAS CIDADES!
A CHEGADA PELA MANHÃ A CAIS OU A GARES
CHEIOS DE UM SILÊNCIO REPOUSADO E CLARO!
OS PRIMEIROS PASSANTES NAS RUAS DAS CIDADES A QUE SE CHEGA
         E O SOM ESPECIAL QUE O CORRER DAS HORAS TEM NAS VIAGENS…” (FERNANDO PESSOA)
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