Marina I. Jones Os Executivos Aventura Humana Tecnologia Mundo Rural Colaboradores

domingo, 19 de setembro de 2010

Vivemos de Nossas Memórias (by Rogerio Rufino)

Guimarães Rosa já dizia que toda saudade é uma espécie de velhice mas às vezes vivemos intensamente de nossas memórias e segundo Paulo Francis, na primavera a crueldade é maior porque a natureza renasce e nos lembramos mais vivamente de que já ousamos tanto e sentimos tanto antes que a multidão nos atropelasse.

Com certeza Francis ousou muito e conseguiu muito mas, certamente teve lá suas frustrações. Mas no geral nossas memórias são boas, como  que alguma coisa harmoniosa e warming batendo as nossas portas e querendo entrar. 
Eu não sei por que, mas nos lembramos de certos quadros (some nice pictures), um rosto, um gesto, uma música, uma paisagem, mas há sempre alguém a mais no quadro pois, na  verdade, não nos lembramos de paisagens ou coisas isoladas, e sim da interação dos sentimentos com todo o ambiente que nos cerca naquele momento especial. Há algo de muito sublime na relação de duas pessoas, quando as mentes e corpos entram em ressonância e tudo parece ser um, se encaixando perfeitamente naquele ambiente de frágil equilíbrio, pois como tudo de bom na vida, dura pouco.

Basta que uma das condições do ambiente se altere, uma simples mudança de luz, o fim de uma música, ou alguma coisa aparentemente banal, para que o quadro se modifique e cada um seja trazido de volta a sua realidade. A realidade de duas pessoas únicas, com emoções e sentimentos próprios. Mas são momentos especiais e que jamais serão esquecidos e que tornam nossas vidas mais completas e mais sublimes.

Mas às vezes as memórias são vagas e fugidias, e nos lembramos de glimpses apenas, alguma coisa que capturamos em um piscar de olhos, um sorriso, um gesto ou um rosto. Estas pessoas, passaram por nossas vidas, mas como disse Drummond, existem hoje em subterrâneos, umas na memória, outras na argila do sono. Mas sem dúvida também complementam nossas vidas.

Em nossas juventudes, as lembranças são as vezes perto de inesqueciveis;  as vezes muito dolorosas, pois nesta fase somos guiados por hormônios em ebulição, que nos fazem sentir paixões arrebatadoras e ao mesmo tempo memoráveis, mas que normamelmente terminam após o primeiro contato físico, pois não eram, com certeza, amor. Some aimless infatuation in which,for the moment, you feel like indulging. (Meet Joe Black)

As lembranças da infância são menos charmosas, pois esta é a única fase que nos lembramos de coisas desassociadas de um contato humano. Mas, são belas, musicas e cenários, pelo menos em mim é tudo o que restou. As brincadeiras ou fantasias perdem toda a importância que um dia tiveram e se restringiram a sua época, pois o que nos importa agora são as sensações, as emoções humanas. 

Um ótimo lugar para revivermos certos momentos perdidos na memória, é nas estradas, a noite e com o som ligado e sozinhos. E elas jorram espetaculares, e vão nos envolvendo numa atmosfera única, alguma coisa muito sublime que nos faz sentirmos agradecidos por viver, as vezes completamente plenos .  Where you can wake up one morning and say "I don't want anything more." (Meet Joe Black)

Nada mais rico do que as memórias de outros país. Viajei por 22 estados dos EUA, de carro com minha família, certa vez, em vinte dias. São 12 mil milhas de memórias, pois tudo era  novo e desconhecido. São memórias que enriquecem uma vida e nos faz querer reviver àqueles momentos que nunca mais voltam, passaram, pertencem a outro mundo.

Isto realmente não tem preço, lembro de detalhes bobos como: deitados num gramado em alguma Rest Area  em North Dakota, ou dirigindo numa montanha gelada em Montana e a neve caindo em pleno verão, ou as paisagens lunares de Utah, enfim uma interminável sucessão de coisas definitivamente muito boas e principalemente ao som de november rain, uma das mais belas canções que eu conheço, fora os clássicos,  claro.

Os momentos com a família, com minhas meninas em todas suas fases são inesquecíveis, e principalmente os momentos mais sublimes com minha esposa, quando nos tornamos um corpo apenas e que não precisamos de palavras e vamos trocando emoções, sentimentos e sonhos sem sons, apenas nos olhos, nos toques, no cheiro dos corpos. É o mais próximo que duas pessoas podem estar e se conhecer completamente. A comunicação verbal se torna desnecessária e obsoleta pois agora ela se processa no perfeito equilíbrio das ondas cerebrais.

Mas um homem e, lógico,  uma mulher também, é feito de memórias de outros momentos  também,  dos namoros infantis, na adolescência, na juventude. Pertencem a um passado , mas eles existiram, e não carregam em si nenhum mal.

Lembro-me de coisas tolas, como certa vez que a luz do sol cobriu de dourando a paisagem a nossa frente, e no carro tocava um adágio de Bach, num de seus concertos de Brandenburg. Foi sublime e durou minutos. E  foram vários momentos semelhantes, em toda a minha existência.

Bach é imprescindível e torna qualquer namoro algo de inesquecível.

Mas hoje tenho a consciência que estes  momentos foram muito mais inesquecíveis pela conjunção de fatores e não necessariamente por esta ou aquele componente.  Ou seja, tudo tem uma importância apenas relativa,  como se fossem partes de uma peça musical.  Em se faltando qualquer delas em cena, o resultado é diferente e pode não ser tão encantador. Mas não importa, o fato é que aqueles momentos, um dia foram gravados para sempre  em nossas memórias. É o que realmente importa. 
 This article is copyright to the author and may not be reproduced without permission.

8 comentários:

  1. É um feeling...acho que seu coração é um filtro microscópico, aquele que só os poetas captam por causa das antenas que têm em todos os póros, é uma sensação de ter mil vidas em uma só, de estar em todos os lugares vivendo num só, de mosáicos que constroem uma vida. Como é bom ter gravado na memória certas coisas e sensações, acredito que elas amadurecem de certa forma as novas...Mr.Ruffus, bom domingo, Deus o conserve assim! Abreijo!Com carinho, Irmã Selmurai sua fã nº Zero=)

    ResponderExcluir
  2. Como sempre voce conseguiu expressar de forma totalmente palpavel cada momento...voce e unico, consigo sentir ate o cheiro! Te amo...

    ResponderExcluir
  3. Lá pelos anos de 76-77, na Faculdade, estudamos e muito, um livro de Comunicação Social e as Relações Humanas e uma das coisas que nunca esqueci é que o inconsciente (conteúdos reprimidos), o pré-consciente (conteúdos acessíveis), ID (onde são guardadas as energias, não me lembro bem), o EGO (equilíbrio...podemos frear ou não, aí estão nossas memórias, sentimentos...) e o Super Ego que aqui acho, mora o medo, é o quero fazer mas posso ser punido até mesmo pela sociedade, família e etc...., pois bem, esta é uma estrutura ja estudada ha séculos, e baseado nestes estudos, nas nossas vivências, estas BOAS lembranças, não podem, e não devem ser apagadas, elas são inerentes a nossa vontade, e se forçarmos a barra haverá fatalmente um curto entre a estrutura psíquica, assim sendo, todo homem é livre ou deveria ser, no ir e no vir.
    Porém concordo na íntegra que as lembranças estão na interação dos sentimentos com todo o ambiente que nos cerca. A mais forte de toda a minha vida até a presente data é de um homem e uma mulher por toda uma noite num "147" numa estrada que não me lembro da paisagem, lembro-me da lua e daquele homem, onde houve uma interação de intimidade jamais atingida, e estes estavam tão somente conversando.

    ResponderExcluir
  4. Vinte e cinco anos possivelmente. Eu me lembro, mas do 147 não, bate na madeira.

    ResponderExcluir
  5. Roger, eu sempre admirei como vc escreve, e hoje constatei definitivamente que vc é um poeta meu amigo. Uma poesia em forma de prosa, e com um conteúdo que particularmente tenho uma afinidade gigantesca....a sua breve descrição dos cenários lá nos USA, me fizeram viajar! E Roger, não sei se vc está atento, mas utilizou neste texto diversos recursos da Programação Neurolinguística. Todos nós utilizamos de um jeito ou outro, mas com a sua experiência, vc os utilizou, ainda que de maneira provavelmente inconsciente, brilhantemente... Valeu meu amigo!

    ResponderExcluir
  6. Beto, eu não escrevi mais sobre os EUA, pois pensei que podia ficar esnobe e aborrecer o leitor, mas se voce acha legal, prometo fazer um só de recordacoes daquela terra ( com defeitos) mas, definitivamente, o melhor lugar do mundo para se viver. Bem, tá certo que o Bush quase poe isto tudo a perder mas vamos esperar o que o Obama ira fazer. Ouça november rain do Gun´s and roses é um hino do interior dos USA.

    ResponderExcluir
  7. Isso é o verdadeiro amor...LINDO!!Perfeito!!!Inesquecível!
    Beijocas.

    ResponderExcluir

Países Visitantes desde 23/agôsto/2010
info tráfico
contador visitas blog

Image by Cool Text: Free Graphics Generator - Edit Image