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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Happy Hour - Serie: Os Executivos Cap. 14


Toda empresa possui seu Board, formado pelos executivos que efetivamente a comandam. Eles ficam lá no alto , no Olimpo, evitando assim, ao máximo , o contato desagradável com a turba ignara, que efetivamente carrega a empresa nas costas e que fica alojada muitos metros abaixo, não raro em catacumbas improvisadas nos subterrâneos da empresa.

O Board tem suas reuniões diárias, chamadas de stand-up meetings. Nelas os executivos, discutem sobre o futuro da organização, definindo quais serão os projetos que mais impacto trarão para a empresa e principalmente para suas carreiras pessoais e quais efetivamente permitirão que o prêmio de resultados no final do ano seja viável e polpudo. Enfim senhores, não é fácil ser um diretor executivo, pois as questões são intrincadas e complexas.

E subitamente numa destas reuniões desgastantes, sobre o futuro de cada um do board, adentra a sala ele, O Presidente da corporação, também conhecido por Zeus, o senhor dos céus e dos raios. E sua entrada é triunfal, ele vem caminhando a passos largos em direção aos membros empalidecidos e petrificados do Board. Alguns, não resistem e caem de suas cadeiras, disparando os sensores de enfarto iminente que, automaticamente fazem despencar do alto do teto da sala de reuniões, diversas máscaras de oxigênio que são imediatamente colocadas pelos executivos que ainda estão conscientes. Ao mesmo tempo, as portas se abrem e os paramédicos entram em correria. Ao longe, pode-se ouvir o som das turbinas dos helicópteros das equipes médicas pousando no heliporto do prédio.

Alguns minutos depois, quase todos membros do board já estão ressuscitados. Um ou dois não resistem e são encaminhados aos hospitais conveniados. Estão em coma profundo e só serão despertos com a ajuda da equipe médica, que coloca no serviço de som da UTI, uma frase que se repete indefinidamente. O prêmio de resultados está chegando! O prêmio de resultados está chegando! O prêmio de resultados está chegando!

Ainda conseguem voltar a tempo para a reunião com o Presidente Kirk, o tele transportado.

O presidente começa sua fala imperial e o som de sua voz ecoa nos corredores da organização, provocando frenesi generalizado nos escalões inferiores. O pessoal de TI se transforma em avatares e foge o mundo virtual, como em Matrix. O demais não tem a mesma sorte. Alguns, não resistem e saltam das janelas. Outros simplesmente entram num estado catatônico a espera de algum acontecimento muito ruim prestes a suceder. 

- Senhores, está na hora de fazermos alguma coisa para ficarmos bem colocados no ranking das melhores empresas para se trabalhar no Brasil, resume o presidente

- Veja bem Presidente, estávamos justamente discutindo isto aqui senhor, responde o CEO.

O presidente é tomado repentinamente por uma crise de risos incontrolável. Seus assessores fazem de tudo para controlá-lo mas, tudo em vão. Desesperados, resolvem apelar para o expediente infalível:

- Senhor, ligaram da Forbes, querem uma entrevista urgente.

O presidente estaca, cambaleia, parecendo fulminado por alguma arma mortal e então, como uma víbora de um encantador de serpentes indiano, vai se levantando lentamente, e ao abrir os olhos vidrados, deixa transparecer um  sorriso incontido de prazer, mas ai ele se lembra do velho truque do manual dos seus assessores e se recompõe e recomeça:

- Senhores, este ano nós seremos os primeiros no ranking e ai de vocês se isto não acontecer. Tenham um bom dia.

O Presidente sai da mesma forma como entrou, mais parecendo um general romano saindo do senado.

O Board permanece alguns minutos na posição de estátua e em completo silêncio. A secretária, acostumada com aquelas cenas, segue o procedimento padrão de despertar o board e toca bem alto sua vuvuzela, trazendo os executivos ao mundo real novamente.

Imediatamente eles começam a discutir o que fazer para que os funcionários reconheçam a empresa como um ótimo lugar para se trabalhar. O Diretor de RH, sugere candidamente:

- Podemos usar a mesma tática do Capitão Nascimento (Tropa de Elite) e usar sacos plásticos. Tenho amigos que foram expulsos do DOI Codi por excesso de violência e acho que eles poderiam ajudar.

O CEO ouvindo aquilo, balança a cabeça e num átimo, atira no diretor de RH um vasinho de bonsai, cheio de areia, que estava em cima da mesa.  O resultado deste minuto  de fúria do CEO, foi que, o  araponga do RH ficou cuspindo areia nos demais executivos toda vez que abria a boca, até o final da reunião. O bonsai permaneceu estatelado no chão, sem qualquer cuidado ou atenção especial. Sequer o Green Peace foi chamado.

O que se viu a seguir foi um descontrole total, cada diretor tentando emplacar sua idéia para resolver o problema do presidente. E então, o diretor de marketing, que permaneceu este tempo todo calado enquanto lixava e aparava suas as unhas, disse candidamente ao mesmo tempo em que balançava sua a cabeça   como um lagarto pegajoso:

- Sugiro que façamos um Happy Hour, disse o lagarto do marketing. Nós do Board, podemos até cantar para alegrar e descontrair os funcionários.

Enquanto falava, o Imenso Lagarto  ostentava um permanente sorriso nos lábios,e dava  piscadelas para os demais membros do board que olhavam imediatamente para o outro lado da sala. Alguns enfiavam-se debaixo da mesa como que a procura de um objeto perdido.


O CEO, olhou para o lagarting e disse:

- Boa idéia, trabalhe com o RH nisto, quero o Happy Hour nesta semana. Case Closed. Outra coisa o Board não canta.

O CEO tentava desesperadamente afastar a visão que ocupava sua mente, ele e os demais membros do Board, vestidos de Village People e cantando Macho Man. Já estava suando frio e saiu rapidamente da sala, a procura de algum paramédico, antes que o lagarto beijasse sua mão agradecido.

E chega o grande dia e os funcionários vão se dirigindo em grupinhos até o local do Happy Hour, ornamentado como uma escola de samba, com o pomposo título de reino encantado do monte Kilauea e suas labaredas de fogo. Na entrada , toda equipe do RH trajando vestidos havaianos se requebram ao som da Hula. O Capitão Nascimento, quer dizer, diretor do RH mais  parecia uma Carmem Miranda ostentando um enorme girassol na cabeça. Ao ver aquele a cena, o CEO teve até medo de imaginar como estaria vestido do diretor de marketing e tentou sair em disparada fugindo daquele pesadelo sendo necessário uns quatro executivos para segurar o homem bala e trazê-lo de vota ao reino encantado.

Geralmente um Happy Hour é um lugar chatíssimo pois existe uma liberdade apenas simbólica pois ela é sempre vigiada, mais parecendo um reality show. Mas alguns tipinhos são bem característicos e são conhecidos como arroz de festa de Happy Hour.

O Invisível: Ele chega de mansinho, vai andando recostado as paredes para não ser visto e de repente salta e se camufla atrás de uma samambaia gigante, só se vendo seus dois olhos de garoupa morta perscrutando o ambiente a procura de algum lugar onde possa passar desapercebido. Consegue descolar uma cadeira vazia num grupinho obscuro e salta imediatamente para debaixo da mesa e vai deslizando cadeira acima e começa imediatamente a imitar os demais: se sorriem ele sorri, se falam ele presta uma atenção de coruja. E fica ali, invisível, rezando para que aquilo acabe logo e ele possa ir para seu ninho, quer dizer sua casa.

O Risonho: Ele possui limitações para o entendimento das coisas simples e leva tudo ao pé da letra. Faz questão de se mostrar a pessoa mais alegre do Happy Hour e sua gargalhada pode ser ouvida em todo o ambiente, atrapalhando até mesmo a banda de pagode que teima em tirar uns som estranhos de uns tamborins e atabaques. Cruzes. Qualquer bobagem que um diretor diga, lá vem o risonho gargalhando e sacudindo suas pelancas. E sua vida não tem sido fácil: sua mulher dorme com associados dos outros departamentos, sua filha fugiu um traficante e sua sogra esta voltando de suas férias em Cubatão. Mas seu sorriso não desaparece, parece plastificado.

O Zé Bunitim: Personagem sem maiores atrativos físicos, mas sempre rodeado de beldades que ficam suspirando por qualquer bobagem que ele pronuncie.

As Chicken Fajitas: Elas são bem conhecidas de todos na organização e de alguns, muito mais ainda. Nos Happy Hour são pura alegria e causam um certo furor no início e normalmente um mal estar no final, pois depois alguns goles, elas seguem a risca o velho ditado que diz que, canja de galinha não faz mal a ninguém e começam a se insinuar para os seus preferidos, incluindo alguns membros do board, que já pra lá de Bagdá, vão apenas confirmando as suspeitas de todos na organização.

O Workaholic: Como não tem mais nada interessante na vida para fazer, fica em sua mesa trabalhando e faz questão que todos saibam que ele esta ali, faça chuva ou faça sol, carregando a empresa, sozinho, rumo ao desconhecido. Assim que todos funcionários já estejam no Happy Hour, o workaholic, passa a jogar paciência em seu computador.

Tarde da noite, só restando os bebuns tradicionais, o CEO decide encerrar aquela palhaçada toda, antes que eles acabem definitivamente com a reputação da empresa. Chama os seguranças, que educadamente, vão chutando um a um, para fora da empresa. Mais tarde, a polícia, leva no camburão, alguns deles que ainda permaneciam em sono profundo, estirados no macadame em frente a organização.

5 comentários:

  1. O olhar descontraido e bem humorado de uma realidade nas grandes empresas, para uns desgastante e para outros uma festa, me fez rir muito. O bom humor é quase tudo na vida. Ainda chego lá!
    Beijao.

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  2. Que bom que gostou. Humor é ótimo. è muito bom escrever um texto de humor, é mais divertido que ler. Beijos

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  3. Amigo! foi hilário. Hoje vou ler todos. Humor invejável!. Abração.
    Lana

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  4. Lana, muito obrigado, blog não dá dinheiro mas ficamos felizes quando um leitor lê e gosta. Essa vaidade não tem fim, rs

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  5. kkkkk ADOREI esse texto! Ri demais. As chikens fajitas foram as melhores! kk Estou aqui imaginando a cena do diretor de marketing lixando as unhas...kkkkk Muito bom ler suas histórias, sempre! beijoss daddy.

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