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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Vícios, Vaidades e Renovação (by Lana Frances)

Lana Frances
Quando não somos escritores, é muito difícil  começar a escrever um texto, alguma coisa nos bloqueia, insistimos, mas ela é mais forte que nós. É o que vem acontecendo comigo há alguns dias. Mas, na vida temos que insistir, melhor fazer o esforço  e eis que, finalmente a peça musical emerge completa e nos sentimos bem, quase felizes,  embora tenhamos dúvidas sobre a aceitação do texto pelo leitor, sequer sabemos nosso estilo, pois discorrer sobre a vida não está dentro do escopo de atuação profissional  e então a dúvida invade-nos a alma.

Pensei em vários temas e sempre volto ao mesmo lugar, ou seja, Jardinagem e Horticultura. Então pensei, isto é vício e por este motivo decidi finalmente, após toda uma semana, tentar falar de assuntos que já testemunhei em minha vida.

Meu pai era da Marinha Americana e viveu em vários países e lógico toda sua família se tornou nômade. Tornou-se um vício. Quando ficávamos em um só lugar por mais que dois anos, todos nós ficávamos inquietos, era o hábito de mudar, o vício da adrenalina ao chegar em uma nova cidade, um novo país que, às vezes, tinha dialetos  tão estranhos, que impossibilitavam, a nós, crianças, até mesmo comprar uma bala.

A medida que  fomos crescendo, isto se tornou enfadonho, porque queríamos nossos amigos por perto, pois na verdade estes passaram a preencher uma lacuna vazia em nossas vidas, que são primos, tios, avós, etc. Quem não os têm por perto, sabe o valor deles.

E também já tínhamos adquirido hábitos e vícios.

Até que, aos 14 anos, morando nos Estados Unidos, passamos a conviver com um maior numero de familiares, e descobrimos cedo, que não era tão bom assim, pois ja não tinhamos só um capitão para nos comandar, mas vários...na nossa idade não foi nada agradável.

Alguns anos depois, meu pai foi enviado de volta a minha cidade natal, só que a Republica Democrática do Congo não era nesta época o melhor para se viver, pois o país estava em guerra civil,  e ficamos nos EUA  e aí experimentamos uma maior liberdade.

Já fazia trabalhos esporádicos de baby sitter, escondida de meus pais  há  tempos,  o que me permitiu, após uns dois anos experiência em lares diferentes, testemunhar certos danos que o computador pode fazer  a um ser humano. Tal qual uma droga ele seduz e alicia, tornando algumas pessoas  dependentes.

Num destes lares, pai e filho ficavam de frente daquela telinha durante todo o tempo possível. E se o pai já não se continha, nem o trabalho mais tinha a mesma importância, imagina o filho. Eu o vi ser internado como um viciado normal, chorando e gritando e não era pela mãe mas pelo computador.

Por este motivo passei anos da minha vida evitando trabalhos que me fizessem ficar o tempo todo em computadores.

Bem, pouco tempo depois, toda a minha  família veio para o Brasil, onde mora a família de minha mãe e uma tia me fez ver a beleza que existia na pesquisa certa, o que muito me ajudou. A partir dai tudo fluiu normalmente e fiz as pazes com a modernidade.

Meu pai, um homem de uma austeridade ímpar, independente, já um Almirante, o que, na marinha é  o objetivo de todos, adoece, um câncer que o maltratou muito até a morte. Este homem que apesar de ser um bom pai, não foi, por vários motivos, um bom marido. Por todo o casamento,  minha mãe esteve limitada a  condição de mãe criadora dos filhos. Todas as mulheres do mundo eram notadas por ele, mas minha mãe permanecia invisível aos seu olhos. Ele sempre se orgulhava a dizer aos outros, a minha esposa, mas se limitava a isto. Com a doença, este homem passou a precisar dela para absolutamente tudo e eu o vi chorar e pedir perdão pela sua eterna ausência. Nos chamou a todos 2 dias antes de sua morte e nos disse que poderia ter vivido um grande amor, mas só descobriu esta possibilidade quando já não mais tinha tempo. Ele foi em paz para o outro lado, pela força e ombro de minha mãe. O maior vício do meu pai foi o seu próprio ego, ele foi refém de sua beleza, de seu uniforme. O ego, a beleza e seu uniforme aqui ficaram. Ele retornou como veio. Eu o amo e amei desesperadamente. Mas tinha que ser dito aqui.

Nestas andanças da vida, meus irmãos foram ficando pelo caminho, Tenho um nos Estados Unidos. Uma na África, e somos três aqui no Brasil.

Na faculdade tive bons e maus momentos, porem para não fugir ao tema a que me propus, lembro-me de um colega que namorava sempre duas mulheres ao mesmo tempo. E presenciamos varias cenas hilarias como, por exemplo ele chegar a um churrasco e estar as duas de namorados. Se me perguntarem o que tem a ver, posso dizer que tudo, pois ele sempre dizia que não conseguiria viver sem a adrenalina de ter duas... E o fato de tudo na vida ter dois lados ou as vezes ate mais de dois, tem que ser ponderado.

É como todos os vícios, eles são iniciados com consciência, sabem que é errado, mas julgam-se maiores, intocáveis e continuam. Não há uma medida. Não tem harmonia. Sim harmonia. Um bom concerto precisa da harmonia de todas as notas, instrumentos e um maestro. Se falta um destes, com certeza não haverá aplausos. Pode ser que tenha no Brasil, me desculpem, mas o ouvido brasileiro não é muito bom pra música...

Em jardinagem o mais importante não são só plantas, é a harmonia. No entanto vemos sempre jovens profissionais se preocupando tão somente com a estética, que também é importante, mas ao selecionar o que vai ser plantado, é preciso usar critérios que resultem em harmonia. Há de se lembrar que estas plantas terão uma convivência obrigatória ali naquele local pré determinado e se,  se obedece a esta harmonia ficará automaticamente também mais fácil o controle de pragas e doenças. Por isso precisamos ter as chamadas plantas úteis, elas irão juntamente com vários outros elementos concretizar esta harmonia.

Em um jardim precisamos da água, sol, terra e ainda de metais, madeira e que seja arejado. Porque? A água, não só porque é necessário mas pela revitalização, porque sem ela não há vida. o sol porque o aquecimento é necessário e tem inúmeros outros efeitos não necessários dizer aqui, uma boa terra, pois se ela é bem tratada, tudo o mais seguirá seu curso, o metal porque é um bom refletor, ele pode jogar uma luz necessária por mais tempo onde necessário for, a madeira que são as árvores, elas são as transformações, a respiração..., e por fim o ar, se este circula entre as plantas, elas não estagnarão. Muitas árvores, plantas comuns ou não, juntas também terão por companhia os fungos e muitas outras doenças. É preciso cortar o que for necessário para o arejamento do ar. O topo de uma árvore tão somente, nada pode fazer por  ela. Há de correr livremente o ar por toda sua extensão.

E exatamente assim é a vida. Todos os elementos são necessários. É o conjunto, é a harmonia que no fim trará resultados.

Meu colega de trabalho, que me autorizou a escrever, está passando um momento terrível familiar, pelo vício da Internet. Ele não quer a esposa nem os filhos por perto, ele quer simplesmente a Internet, passa todo o dia olhando as horas para que possa chegar em casa e ficar livre para conversar nos chats da vida. Me pediu ajuda. Ele tem medo de contar a verdade a esposa e perde-la para sempre. E apesar do momento que estou passando, não contado aqui, só me lembrei do óbvio, pedi que ele olhasse em volta, estávamos numa praça, completamente estagnada, sem vida, e temos a missão de revitaliza-la. Esta praça é a nossa vida. Minha e sua. Estamos completamente sem harmonia. Vamos, os dois utilizar os elementos que conhecemos e vamos fazer as três coisas ao mesmo tempo. Vamos renovar nossas vidas e este jardim.

No caso dele, na reconstrução da família, começando por cortar os galhos que estão tirando o ar, desligando o computador por uns tempos, soube hoje que ele pediu a esposa que o guardasse para ele por uns tempos. No meu caso, de renovação, de olhar para o futuro, e no da praça, que possamos vê-la, em breve na mais completa harmonia.

Quando nós três estivermos curados, poderemos reaver alguns hábitos e/ou vícios, mas com toda certeza sem deixar recair em novos erros.

Então agora, se você leitor, quiser reler os elementos básicos de um jardim, tenho certeza que lhe será útil, compare-o a sua vida e se você quiser fazer parte desta renovação, junte-se a nós.

Lana Frances Franco
Nasci quando meu pai estava a trabalho no Congo. Morei em varios lugares na minha vida... Hoje moro em São Paulo trabalhando e vivendo de Jardinagem e Horticultura. Adoro!

4 comentários:

  1. Lana, que agradavel leitura vc nos proporcionou... e com certeza q reflexao tb... parabens por seu dom, e muito obrigado! 1234

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  2. Lana querida simplesmente ma ra vi lho soooo seu texto, parabéns e obrigada... beijos =]

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  3. Maravilhoso mesmo! Nos obriga a pensar. E ao mesmo tempo melhorar como pessoa. Uma vida harmoniosa é tudo, que todos nós queremos.

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  4. Vício X harmonia. É dificil aceitar que temos um vício. Mas se não temos harmonia será porque temos um vício? Intrigante isso. Texto excelente.

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