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domingo, 27 de março de 2011

O Vazio Que Devora a Vida e a Alma (by Rogério Rufino)

Bem cedo,  sentimos  uma estranha e desconcertante sensação a se manifestar em nossas vidas. Ela nasce  de algum lugar sombrio de dentro de nós e vai mudando lentamente  nossa forma de ver o mundo. No princípio surpreendidos, depois desamparados, descobrimos que nada é eterno e que não podemos fazer muita coisa para evitar toda esta sensação de abandono. Tudo que existe em nossas vidas e no universo que vamos desvendando, é tão eventual quanto uma folha de outono. E a medida que envelhecemos, compreendemos que a unica coisa eterna, é a angustiante sensação de perda, que teima em nos acompanhar até o fim em nossas vidas. 


Ainda crianças, queremos ser adultos e...finalmente livres, mas quando nos tornamos adultos e experimentamos a saudade dos momentos despreocupados e felizes de quando éramos crianças, é com uma ponta de melancolia que lamentamos  nunca mais em nossas vidas, podermos reaver nossa pureza de motivos e a esperança inquebrantável de uma  felicidade duradoura, porque não se pode voltar a nenhum lugar e tampouco podemos trazer nada de volta. 

Muitos experimentam os sentimentos mais fortes de perda muito cedo ainda,  com o desaparecimento, incompreensível, de entes queridos. Os demais vão experimentando teclas, sentindo as pequenas perdas  ao longo de suas vidas, e elas se manifestam sem alardes, sem lógica alguma que,  nos permita de alguma forma, nos prepararmos para o recontro que não se pode vencer. Elas são implacáveis. Quando visualizamos um ponto frágil, alguma coisa que parece na iminência de desmoronar em nossas vidas, acontece o pior, ela nos ataca pela retaguarda e somos mais uma vez surpreendidos e não podemos resistir. 

Como ondas, as perdas nos arrastam por caminhos que desconhecemos, em rotas opostas ao que planejamos. Às vezes, sentimos totalmente perdidos mas por uma razão ou outra, elas sempre nos conduzem a lugares, não raro com uma atmosfera triste e desolada, que de alguma forma, possuem os elementos necessários para reconstruirmos. Morremos uma vez só mas nascemos diversas vezes, e em cada nascimento, percebemos resignados que, somos menos daquilo que éramos e um pouco daquilo que nunca pensamos ser. E assim no decorrer de toda nossa existência, vamos experimentando sensações e sentimentos diferenciados que parecem vir um mundo desconhecido, ao qual não pertencemos e que não podemos ver ou tocar. 

Certa vez, ainda menino, li que muitas das estrelas que eu via no céu não existiam mais a milhões de anos. Foi com uma certa melancolia que eu percebi aquelas estrelas haviam morrido e que, o que  eu via, era somente a luz que elas emitiram em algum momento de suas existências e que agora passava pela minha retina. Era como se eu tivesse vendo fantasmas. Um lampejo de uma vida já extinta. Compreendi que, mesmo as coisas  tinham uma vida determinada e que em algum momento de sua existência, ela se perdia, mas suas formas continuavam em algum lugar, viajando no espaço frio, sem vida, escuro e infinito. E que, algumas daquelas estrelas, depois se transformavam naquilo que os astrônomos chamam de buraco negro, um imenso vazio cósmico, que parece ser igual ao vazio que habita o interior dos seres humanos e que parece querer sugar tudo aquilo que está a sua volta: toda e qualquer manifestação de vida. O buraco negro vai se alimentando de astros, estrelas, poeiras estelares e luz. Ele não perdoa sequer a ultima manifestação de uma estrela já extinta, os últimos lampejos de uma existência milenar. Um devorador de vidas e de almas e não podemos vê-lo, talvez por ser alguma coisa muito vergonhosa de se mostrar. 

E cada pessoa, uma mais outras menos, tem o seu devorador de vida e de almas. Muitos conseguem de alguma forma controlá-lo e o vazio não consegue se estabelecer totalmente. Ele fica lá, em algum lugar, acumulando energia, forças, para que, em algum minuto de fraqueza,  ele possa se irromper como um vulcão furioso e destruidor. Mas para muitas pessoas ele avança desde muito cedo e logo domina os olhos que se apresentam tristes e sem vida, como a espera de alguma coisa que possa resgatá-las daquela imensidão que assomaram mas, em geral, o que  podemos perceber, é a perda contínua das últimas gotas    de esperança ao longo do tempo. Gostaríamos de ajudar, tentamos, mas em geral podemos fazer muito pouco. Tal qual um buraco negro, a luta é desigual, a força descomunal do vazio de trevas abissais só pode ser vencida por alguma coisa que não é deste mundo, pela luz, pelo poder de uma inteligência maior que, penso eu,  em algum lugar sofre e chora por nós. Mas quem determina se esta luz pode ou não entrar é cada um de nós. É a única coisa que temos o poder absoluto. 


8 comentários:

  1. Nossa pai! Faço de suas belas palavras as minhas. Ao ler o texto parecia lembranças de meus pensamentos. Parece até pai e filha! O vazio que devora a alma é comum porém particular a cada um. Considero necessário. E é essa mistura de sentimentos que da o gosto da vida. A não ser pela morte, pois esta é irreversível e pouco compreendida e aceita por nós. Mas viver ao lado de Deus deve ser a coisa mais fantástica deste mundo. É o buraco negro que suga toda paz e amor. Te amo Daddy!

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  2. Rogério, seu texto me fez lembrar o Eclesiastes.
    Vaidade das Vaidades....Toda a sabedoria repassada pelo Grande Rei de Israel Salomão, filho de Davi, e tudo experienciado por ele.

    Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém.
    Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.
    Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?
    Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece........

    ....Porque ao homem que é bom diante dele, dá Deus sabedoria e conhecimento e alegria; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte, e amontoe, para dá-lo ao que é bom perante Deus. Também isto é vaidade e aflição de espírito.....

    .....Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
    Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
    Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
    Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
    Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
    Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
    Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
    Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz......

    ....Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó.....

    ...Melhor é a mão cheia com descanso do que ambas as mãos cheias com trabalho, e aflição de espírito....

    Ao que ele termina.....

    De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem.
    Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.

    Enfim, este vazio apresentado por você, foi um dia vivido por um Rei.

    http://www.bibliaonline.com.br/acf/ec/1

    Abraços,

    Tolstoy
    http://about.me/tolstoy

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  3. I really know what it means. Alone in the crowd!

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  4. Sempre gostei de eclisiastes, mas o rei David era meio exagerado, vaidade também é uma força que move o mundo, ela nos faz criar, construir etc. Claro tem a vaidade de celebridade que é coisa de débio mental.

    Keila, o vazio do ser humano é insaciável e sempre tenta ocupar os espaços e uma das conseqüências é a solidão, até mesmo a solidão a 2 que o Cazuza cantou.

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  5. Rogério meu caro,que texto belíssimo, felizmente me remeteu a uma profunda reflexão sobre esse referido vazio, por diversas vezes em minha vida tentei entende-lo e hoje de uma forma muito doce e sutil o aceito, cada ser humano carrega dentro de si um buraco negro de emoções e desespero, e também grandiosas estrelas de esperança e fé, as quais morreram há muito tempo restando apenas a sua Luz estarrecedora e melancólica... Obrigada por compartilhar palavras tão verdadeiras!!! =D

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  6. Marninha love you always! Não quero que você sinta este vazio ai nunca nem eu quero isto para mim, mas já o reconheci nos olhos e nas palavas de muitas pessoas.

    Nádia

    Obrigado, você poderia fazer um ótimo texto sobre o mesmo assunto, estou me lembrando de dois textos seus No vale da Sombra da Morte e Entre o ceu e o inferno,http://nadiagouveia.blogspot.com/, tenho certeza que ficaria muito bom. Falar nisto nao encontrei o Vale da sombra da morte no seu Blog.

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  7. Comentei este texto no face, porém como a solidão por si só já é muito difícil de dissertar, senti vontade de também registrar aqui, que esta, a tão temida solidão, pode ser também nossa aliada se para ela olharmos sob outras óticas, porque na realidade, existe tanta solidão entre os casados quanto entre os solteiros, entre os animais, acasalados ou não, basta conviver com eles que logo constatará a necessidade de estar ou não juntos. E a solidão está entre nós há milhões de anos, tanto é que os hindus acreditam, através de sua mitologia que o mundo foi criado porque o Ser Original se sentia solitário.
    E recentemente conhecemos uma célebre frase de Jean-Jacques Rousseau: "A solidão é meu grande medo. Eu temo o aborrecimento de ficar sozinho comigo"
    Acho que a grande questão é não temer os riscos de nossa aventura nesta vida; o medo faz não viver, que faz a solidão, que faz sofrer.
    Agora, eis a questão: eu penso que deveria ser assim, mas ainda não encontrei a ponte que me leva ao paraíso de não ter medo, infelizmente.

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  8. Edith

    As vezes a solidão é boa,desde que dure pouquinho neh. Mas, não há como ser humano algum neste mundo deixar de experimentá-la. Beijo

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