Marina I. Jones Os Executivos Aventura Humana Tecnologia Mundo Rural Colaboradores

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ascenção e Queda de um Executivo - Série: Os Executivos - Cap. 6

Queridos leitores, como a continuação do capítulo anterior ainda se encontra em análise pelo departamento de censura, hoje vou escrever sobre mim, o que deve aplacar a ira dos leitores que se sentiram ultrajados, especialmente com o último capítulo.

Era uma vez um rapaz, estudante de engenharia, numa época em que este curso atraía e ao mesmo tempo aterrorizava qualquer cristão, dados os rigores a que eram submetidos os alunos. O Campus da Universidade, para vocês terem uma idéia, era chamado de arquipélago Gulag ou Auschivit. Foi sofrido, com durezas quase insuperáveis, mas foi melhor assim. Faço questão de frisar o nome da escola: UFU – Universidade Federal de Uberlândia, que naquela época possuía o mais talentoso quadro de professores que conheci.

Vocês devem estar se perguntando a razão do Marketing gratuito, mas eu explico. O curso de engenharia proporciona ao estudante uma capacidade de raciocínio lógico descomunal, e isto faz a diferença na vida de um executivo. Não que os outros cursos sejam menos importantes,absolutamente! Mas o raciocínio lógico é uma vantagem proporcionada pela engenharia, que definitivamente, não recomendo para qualquer um, pois vi diversos colegas simplesmente enlouquecerem, tentarem o suicídio ou o assassinato de um ou outro professor. E mesmo os melhores alunos (a UFU teve campeões nacionais), sabe-se lá se batem bem hoje. Mas não é só raciocínio lógico que a engenharia nos dá. Ela nos concede algo mais precioso, a visão espacial, e este foi meu trunfo, meu segredo para transformar em coisas simples e fáceis aquilo que parecia impossível. Toda vez que me apresentavam um problema na empresa, eu olhava aquilo por alguns segundos e dizia: easy (fácil). Fiquei conhecido como o Mr. Easy.

Bem até aqui amigos leitores (ainda tem algum?), vocês tem as dez primeiras dicas para seu sucesso profissional:



1 – Se quer ser um executivo, faça um curso que te ofereça disciplinas de cálculo, álgebra linear, geometria espacial, matrizes e, claro, estatística;



O leitor de humanas já deve estar sentindo os primeiros sintomas do choque anafilático iminente pela simples menção destas palavras, mas lembre-se, você não precisa estudar engenharia ou outro curso similar, faça disciplinas isoladas, uma especialização ou MBA que te proporcionem isto. Vale seu sacrifício pois é seu futuro que está em jogo.



2 – Ao visualizar um problema não tema, examine-o do alto, e não em duas dimensões, como uma formiga, pois neste caso você será sempre um executor de projetos, função importantíssima, mas uma função sem o charme de um cargo executivo.



3 – O mais importante é aparentar que sabe e não propriamente saber.



Se você adquiriu o raciocínio lógico e espacial nos seus tempos de estudante, você saberá responder a questões sobre assuntos ainda desconhecidos para você, claro, desde que estejam dentro do escopo das tecnologias com as quais você está lidando no seu trabalho. Os diretores e até mesmo a presidência da empresa que trabalhei, sempre me ligavam quando tomavam conhecimento de uma novíssima tecnologia (cutting edge é o termo em inglês). Eles me diziam as siglas e os termos obscuros delas, eu pensava 2 segundos e mandava ver, com uma segurança de profundo conhecedor no assunto. Terminada a ligação, eu procurava desesperadamente o que era aquilo na internet, e para minha surpresa, minha resposta era sempre correta ou muito próxima da realidade. Isto meninos, não tem preço!

Vou saltar a parte relacionada ao meu início na organização pois está resumida no Capítulo 3 desta mini série.

Após deixar o status de perigoso e ser promovido a executivo perigoso, principalmente por sempre gerar negócios lucrativos para a organização, comecei minha fase mais frenética, a busca incessante por lucro. Trabalhava para a empresa como se ela fosse minha, da mesma forma que hoje trabalho pela minha fazenda, mas já cheguei à conclusão que isto é uma barreira intransponível para a maioria das pessoas, pois consideram a empresa do patrão e o trabalho dos funcionários. É a herança do feudalismo, que se perpetua nos genes de cada um de nós. Se você é capaz de superar esta sina, você tem futuro. Leia Crime e Castigo de Dostoyevsky, e talvez isto o ajude. Ah, mais uma regra:



4 – Leia muitos livros, o máximo possível;



A leitura diferencia as pessoas, mas, por favor, nada de livros de auto-ajuda ou Paulo Coelhos. Se você não conhece bem os clássicos, clique no link Frases acima de meu perfil que tem uma quantidade razoável de autores, e algumas de suas frases geniais. É difícil explicar, mas o potencial que a boa leitura te dará em recompensa é algo assustador. Mas, todo executivo perigoso comete seus erros. Meu primeiro erro, do qual nunca mais esqueci, foi que logo que implantei o negócio de comunicação de dados na empresa, fomos convidados para uma apresentação sobre o assunto. O assunto era demasiadamente novo para mim, e mesmo assim assumi o risco e fui, e claro foi um fiasco, tudo deu errado, áudio-visual, etc.



5- Não se embriague com seu sucesso momentâneo;



Um homem deve conhecer suas limitações (A man got to know his limitations). Fuja dos riscos desnecessários. Após minha mancada inicial, fui posto por uns meses na geladeira, e vi avatares sobrevoando o meu caminho. Mas como Fênix, um executivo perigoso renasce das próprias cinzas, e logo, novas idéias me permitiram saltar para a pole position novamente. E fui promovido de Executivo perigoso para muito perigoso.
Esta é a melhor fase de nossas carreiras, quando você já tem uma história e o respeito, principalmente dos funcionários da organização. Foi nesta época que realizei meu sonho de estudante, morar na América, e isto devo, claro aos meus resultados, mas principalmente à confiança e desprendimento da organização que me empregava e de algumas pessoas que me ajudaram neste sentido.



6- Tenha sempre 1 (um) sonho, que será a meta a ser perseguida durante sua carreira;



Dois anos nos EUA, na sua fase de ouro, a era Clinton, com propostas de emprego muito boas pipocando em telefonemas para minha casa, com valores bem acima do que eu ganhava em minha empresa, e decido voltar para o Brasil. Vocês podem dizer, balela, ninguém largaria propostas assim. Explico: o primeiro o motivo não foi um excessivo amor à organização, pois ninguém é escravo de ninguém. Foi muito simples, a mãe de minha esposa, simplesmente não aceitava viajar de avião. Então ficou aquela situação, tive que escolher ou a esposa ou os Estados Unidos. Mas eu fiz inúmeras tentativas de mandar a sogra para os EUA, sugeri o Fedex, ônibus, navio cargueiro e outras que não me lembro mais. Nada feito, a sogra era irredutível. Outra coisa que me preocupava era o boom das empresas de tecnologia, e o pipocar de IPO´s destas empresas contínuo em Wall Street. Lembro-me que certa vez estava em San Jose, Califórnia, com o board de minha empresa, e fiquei meditando ao ver a apresentação da empresa que estávamos visitando, US$ 12 Bilhões de receita/ano e valor de mercado de mais de US$ 200 bilhões. Bem, a regra dizia que uma empresa vale até 5 vezes o valor de sua receita anual. Claro, para quem estava ali vivendo aquele momento, não foi muito difícil de prever o inevitável, que a bolha, a ciranda maluca estava com os dias contados. E aí a volta para o Brasil, foi muito menos indigesta. Como eu disse no capítulo 3, sempre fui um visionário, embora sempre errando nas datas. Não deu outra, com a entrada de George Bush, a bolha explodiu e a maioria das empresas virou pó, deixando milhares de desempregados na rua.
Das empresas que me convidaram para entrevistas, apenas a gigante Pacific Bell (a que pagava pior) ainda existe, mas foi adquirida pela AT&T. Ou seja, muito provavelmente retornaria ao Brasil, um ano depois, possivelmente deportado. De volta ao Brasil, foi minha fase Midas, criando negócios que geraram muito dinheiro para a organização. E fui coroado Executivo no Grau super-perigoso. Este é definitivamente, o grau máximo de risco para um executivo, pois neste momento ele está acima dos mortais comuns, e ele se torna um rebelde, não mais seguindo a cartilha política da organização. Ele se julga acima da lei. No meu caso, há um complicador, eu já estava muito envolvido com a fazenda, pois julgava o Agribusiness, o futuro do Brasil e ainda acho.



7- Respeite a política da organização, mesmo que algumas coisas você considere improdutivas, e não focalize apenas lucro, mesmo que isto seja bom para a organização.



8- Não se pode servir a dois senhores;



Se você já estiver demasiadamente envolvido em um empreendimento próprio, seja o mais discreto possível, pois do contrário a empresa saberá que está ali apenas de passagem e ninguém gosta disto, nem eu com meus funcionários. Em plena fase de ouro, surgem nuvens negras no meu horizonte, o grupo contrata um executivo de Marketing saído dos quadros de um político reconhecidamente corrupro, que vem a ser meu chefe imediato. Não deu outra, em menos de dois anos já não havia sinergia entre os dois, estilos muito diferentes. E aí o grupo contrata uma daquelas consultorias, tipo refazendo a organização. E aqui uma regra importantíssima. A consultoria avaliou toda a empresa, incluindo claro, o departamento que eu comandava. Apesar de ter sido o único departamento elogiado, ela encontrou um problema, estávamos desenvolvendo um projeto baseado numa tecnologia em obsolescência. E aí o mais curioso: fizemos isto para reduzi os prejuizos da empresas, pois um certo executivo do tipo avatar (dissimulado e pegajoso - capitulo 3), comprou a tecnologia na surdina sem o prévio conhecimento da área de Marketing. Após seu feito, ele nos enviou um email comunicando seu negocinho obscuro: pagamos uma pechincha, apenas 1 milhão de dólares por esta tecnologia. Bem, fizemos o melhor para a empresa: tentamos encontrar uma soluçao que permitisse a empresa recuperar o dinheiro perdido, ou pelo menos parte dele. Nosso erro foi não esclarecer a direção, a gravidade da atitude isolada e impensada do avatar de plantão.



9- Se alguém errar e te envolver, não procure acobertar o erro, aí
você erra junto também;



Este foi o início do fim. Curiosamente, o tal executivo do político corrupto, convidou o avatar da compra na moita para meu posto, e fui classificado então como Executivo Bin Laden, o tipo mais perigoso. Foi uma perseguição cruel de 2 anos, pois eu relutava e continuava produzindo, e o que é pior, me tornei o rebelde mor. Neste momento, o vice-presidente tentava a venda do principal negócio da empresa, o qual vou chamar de a galinha dos ovos de ouro, e eu, voz dissonante no deserto, me manifestei contra, para o espanto geral de todo quadro de executivos, produzindo emails contrários à venda, o quais eu enviava para todos executivos da organização. E para piorar, o presidente que também era contrário a venda, me solicitou num telefonema, que buscasse possíveis parceiros de capital no mercado internacional. E assim o fiz, e enviei a resposta de um grupo para o presidente que repassou para seu vice-presidente. Pronto estava armado o barraco. O vice-presidente, um homem vaidoso, ficou furioso com meu atrevimento e também com a minha indisciplica, pois exorbitei de minhas responsabilidades, indo além de minhas atribuições. Pronto: De Bin Laden a Homem Bomba. No final, a galinha dos ovos de ouro permaneceu na organização, mas o vice-presidente claro, pediu minha cabeça. Fui promovido mais uma vez, de Homem Bomba a João Batista.



10- Nunca contrarie as diretrizes da organização, mesmo que você esteja certo e nunca, mas nunca mesmo, vá além de suas atribuições, pois ai já é anarquia, é a desordem geral.



Minha demissão foi correta, pois existem certos limites que você não pode transpor. Mais uma vez:. A man got to know his limitations.



Ps.: O tal executivo saido dos quadros do politico corrupto, foi demitido, exatamente um ano depois, por surrupiar a organização. Não tenho noticias do executivo avatar, mas como era pau mandado, pode estar ainda por lá, perseguindo mais alguem, pois esta é a função principal de um avatar.



No próximo Capítulo: O RH - continuação.

6 comentários:

  1. Esta é uma historia veritica, que infelismente não deram valor a pessoa certa, os grandes homens que dirigem as empresas, ficam atrás das mesas e não sabem o que se passa e nem dão valor aos seus homens contribuidores e que a maioria , são eles que talves escrevem as palestras para o seu chefe, que depois tiram o seu tapete sem dó e nem piedade, mas o mundo e redondo, volta e cai na sua cabeça.

    ResponderExcluir
  2. Oi Fatinha, obrigado pelas palavras, mas as empresas são comandas por pessoas como todos nós, com defeitos e virtudes, e nos somos pagos para dar lucro e respeitar nossas limitações de responsabilidades. Se você ultrapassa suas limitações de responsabilidades a empresa tem o direito sim de demiti-lo, mesmo que isto não pareça muito justo, pois você estava defendendo os interesses dela. Mas, se você conhece suas responasabilidades e as ultrapassa, o erro é seu. Beijos e fico feliz por você ter lido meu blog.

    ResponderExcluir
  3. 3 – O mais importante é aparentar que sabe e não propriamente saber.

    Isso é realmente necessário, mas muito difícil para mim, tem que ter uma auto-estima e segurança muito grande (ou sem falsa modéstia "falsidade).
    Hoje ainda me sinto inferior porque não sei tudo, ou melhor não sei quase nada, só sei que posso aprender tudo... Mas sinceramente não entendo porque todo mundo tem que fingir que sabe (quando falo sabe é saber mesmo), sendo que todo mundo sabe que pode até ter alguém que realmente saiba, mas é por acaso.
    :/

    obs: Quando pede para escolher um perfil, o que devo colocar, nunca sei.

    ResponderExcluir
  4. Olha, fui no seu link de frases e achei uma que diz mais ou menos o que eu quiz expressar acima: “O que é necessário não é a vontade de acreditar, mas o desejo de descobrir, que é justamente o oposto.”
    Acho que vou por na minha dissertação de mestrado!

    ResponderExcluir
  5. Sweet Jackie!

    “Hoje em dia, todo mundo está se especializando. É um erro.. Várias espécies biológicas se extinguiram porque se superespecializaram.

    “Cultura é essencialmente a capacidade de manter duas ideias na cabeça e ainda assim tomar posição.”

    “Às vezes na vida é preciso saber lutar não apenas sem medo, mas também sem esperança.

    ResponderExcluir
  6. Jackie. O que nos faz prosseguir e vencer é extamente a dúvida, pois Quando não temos certeza, estamos vivos.”
    Não confundir segurança com falsidade: você pode não saber, mas se tem a capacidade intelectual de visulizar, isto definitivamente mais importante do que saber, pois o conhecimento ou a experiencia, so são uteis olhando-se para trás. É muito comum um figurão desabar quando lhe é apresentado algo que sai de sua esfera de conhecimento. O melhor mesmo é ter esta capacidade intelectual de superação.

    ResponderExcluir

Países Visitantes desde 23/agôsto/2010
info tráfico
contador visitas blog

Image by Cool Text: Free Graphics Generator - Edit Image