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domingo, 3 de outubro de 2010

Caçador de Sensações (by Rogerio Rufino)

Todas as pessoas felizes se parecem entre si: as infelizes são infelizes cada uma a sua maneira.” Esta é uma adaptação livre de uma frase de Tolstoi em Ana Karenina. Ela me marcou profundamente em certa época de minha vida. 

Baseado nesta simples observação, pude melhor identificar as mulheres com quem me relacionei durante toda a minha vida, antes do casamento. Como um cirurgião, eu as ia analisando em minuciosas intervenções exploratórias, buscando extrair do interior de cada uma, um pouco dos mistérios insondáveis de cada ser humano.

Às vezes, desconsertado, eu descobria uma estranha e desconcertante melancolia. Bem lá no fundo de suas almas, se esgueirando como uma sombra fugidia. Havia alguma coisa muito triste, quem sabe o fruto de uma sucessão de batalhas perdidas, de frustrações, de erros e quem sabe do inescrutável vazio que as pessoas vão se mergulhando, às vezes lentamente, sem querer e sem poder resistir.

Não raro eu vi lágrimas rolarem lentamente, quando eu olhava nos olhos destas mulheres e citava uma frase de Melville:

“Todas as coisas nobres têm um toque de melancolia.”

E não raro lembrava de Racine sobre Nero:

“J’aimais jusq’a seus pleurs, que je faisais couler! ( Eu amava até suas lágrimas que eu fazia correrem.)”

Mas era só exagero poético. Não as fazia sofrer, apenas fazia com que suas emoções jorrassem incontidas, do fundo de suas almas e elas se sentiam, por segundos, completamente livres.

A reação era sempre a mesma. Elas talvez soubessem que, eu havia chegado, de alguma forma, próximo ao segredo dos seus sofrimentos e isto nos deixava pobres de palavras, não eram mais necessárias. Sentia, nestes momentos, um carinho muito grande, pois havia alguém ali, completamente exposto nas suas mais recônditas emoções, como se eu pudesse de alguma forma, suavizar ou fazer desaparecer aquela dor. Mas, frequentemente, fracassava. Sentia muito, mas podia muito pouco, em minha condição de ser limitado no tempo e no espaço.

Mas logo a vida retornava ao normal. Aprendi que o ser humano não pode se fragilizar, exceto, talvez, por segundos ou minutos, e depois todos nós reassumimos nossos papeis, que cada um escolhe meticulosamente, inconscientemente ou não, da forma que ele acha melhor se apresentar ao mundo.

Foram experiências em que pude sentir todo o transbordar das profundas emoções que cada um de nós escondemos em algum lugar dentro de nós.  Em algumas pessoas, as solitárias, permanecem  escondidas para sempre.

Pessoas como eu que, buscam as emoções milimétricas presentes em cada ser humano, tem hábitos parecidos, eu percebi. O primeiro beijo é sempre feito de olhos abertos, pois ali são observadas detalhadamente, todas as pequenas alterações que vão se processando no corpo da outra pessoa e elas vão acontecendo compassadamente, como que seguindo um ritual, até que, o corpo não pode mais conter todas as emoções e elas então jorram intempestivamente.

Mas, às vezes, a surpresa:

“I Have Been Caught” (Fui pego)

Enquanto eu iniciava mais uma análise exploratória, meus olhos se deparavam com outros olhos perscrutando minhas emoções, minha alma e se quedavam como que paralisados, pois ambos havíamos descobertos e isto nos tornava pobres de emoções. Sim, nós conhecíamos um ao outro. O momento mudava, a magia se dissipava e passava por nós. No principio surpreendidos, depois desconsertados, sabíamos que, não havia mais nada a fazer.

Mas, às vezes também havia esperanças, encontrava mulheres com uma paixão irresistível pela vida, uma vontade de triunfar, de fazer algo, de deixar alguma coisa de bom nesta vida, o que talvez seja o segredos das pessoas felizes.

A felicidade requer basicamente algumas coisas: sonhos, objetivos  de vida, paixão, amor e alguém que você não pode viver sem. 

Até meu casamento, agia como um explorador português do século 16, época em Portugal era uma das potências mundiais, com, talvez, os mais destemidos desbravadores já conhecidos, ao se aventurarem em mares nunca dantes navegados, sem jamais terem a certeza da chegada. Certo, minha vida não tem nada do heroísmo pulsante dos bravos portugueses, mas me perdoem esta licença poética, como que para relembrar os feitos destes homens que não podemos nos comparar.

Vivia de irrefletidas ambições, numa confusão anelante de sensações e sentimentos, experimentando teclas, buscando novos acordes. Foram períodos de felicidade intensa, mas também de durezas quase insuportáveis. Nesta época da vida, em geral, experimentamos o sofrimento de estarmos descontentes conosco e com todos. As vezes somos tristes e superficiais, mas vamos nos especializando, estruturando nossas emoções, desenvolvendo nossa capacidade de análise e aos poucos vamos construindo o mundo ao nosso redor. E então um determinado dia, lightning struck.

Estava namorando minha esposa havia seis meses. Estávamos na estrada, e de repente algo aconteceu. Eu nunca havia pensado em me casar, em constituir uma família, mas aconteceu. Foi sereno calmo, mas irresistível. Foi como se alguma coisa mais forte que eu falasse por mim e pronto, em minutos, meu destino estava definitivamente selado e nos casamos uma semana depois, pois eu nunca soube esperar. Mas esta é outra história.
To be continued!
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3 comentários:

  1. Roger, mais uma vez lhe digo amigo, nossas semelhanças às vezes me assustam... num bom sentido é claro. Algumas partes de seu texto parecem que estavam aqui redigidas mentalmente. Bom demais compartilhar estas coisas com alguém quem mantemos tamanha sintonia. E tudo fica mais claro, estou sendo egoísta amigo! O meu elogio à vc, invariavelmente é um elogio a mim! kkkkkkkkkkkk Obrigado por se dedicar de maneira tão especial às sua matérias, enriquecendo e reforçando questões tão belas, curiosas e importantes. abração!!! 1234

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  2. Caro beto, fico feliz de você gostar de ler meus textos, afinal escrever para mim é um prazer que redescobri há uns 4 meses apenas, mas sem leitores, já teria desistido. Vaidade amigo, vaidade. Abraçao and have a nice day!

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  3. Nesse texto, dá uma maior representatividade do seu lado pessoal, no qual dá maior dimensão d a sua sensibilidade poética. Você navega pelas próprias emoções, com a maestria de um capitão... Análise exploratória? É muito mais do que isso!! Você não é um visionário da alma humana, é a meu ver um desbravador que coloca Cristóvão Colombo no chinelo. rsrsr

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