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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A Solidão nos Corredores dos Hospitais (by Maria Edith F. A. Rufino)

Maria Edith Rufino
Do que quero falar hoje, tem sido discutido exaustivamente em Universidades, trabalhos científicos e etc, como pude constatar. Existem "n" artigos e até livros sobre o assunto. Mas o que pude perceber como testemunha no convívio diário por meses nos corredores de um hospital, é que a realidade de muitos nada tem a ver com as teorias ou trabalhos práticos vindo de organizações e/ou governos.

Estamos em época de política, e para variar, ninguém ou uma minoria conhece as intenções de cada um desses que querem governar o país, porque a sujeira é tanta, que passam o tempo todo, se defendendo, e o pior, num horário nobre, nunca aproveitado em prol de alguma coisa útil para este país. E o que é mais pobre ainda, é perceber que na maioria das discussões políticas, poucos realmente conhecem o que estão dizendo. Política neste país, infelizmente está a venda, e leva quem tem maior poder de compra. Mas se é um povo que faz a nação, com certeza, temos a nação que merecemos.

Gostaria muitissimo de ver tanta gente unida, verdadeiramente, pelos problemas que as pessoas enfrentam diariamente e que com um pouco de bom senso, poderiam amenizar.


Neste convivio de corredores de hospitais, acaba acontecendo, como um pedido de socorro mudo, uma solidariedade e uma intimidade que talvez seja, no momento o que mais os ajuda, tão somente isto, e muito de vez em quando uma conversa com a psicóloga.

Este universo, na maioria feminino padecem para se ajustarem as novas realidades que lhe são impostas, porque estas mulheres são filhas, mães, avós. Mães dos filhos ali em recuperaçao ou a espera de um doador, no caso de transplantes, ou de um milagre em outros casos, mas tambem são mães dos que ficaram em cidades distantes, e são esposas e são filhas de mães muitas vezes já em idade avançada e que também precisam de cuidados. É uma roda viva e de vidas, é preciso ter muita estrutura para não se sucumbir nesta roda.

Percebi que no início há uma solidariedade da família, dos maridos, sogros... que, com o decorrer do tempo vão se distanciando, pois passado o primeiro impacto, entre vida e morte, tudo tende a cair na rotina, as pessoas voltam o que lhe é normal, e o acompanhante do doente continua vivendo um dia de cada vez, no corredor de um hospital.

Estas pessoas geralmente encontram forças pra seguir em frente, na maioria das vezes, da própria vontade de vencer a doença, de vencer os obstaculos do momento. De ver a pessoa amada curada, voltar pra casa e restabelecer o convívio com a família.
Porém, muitas quando voltam já não possuem mais esta família, tudo está desestruturado, as finanças, o amor, as amizades, o emprego e por ai vai.

Há os que recomeçam felizes porque apesar de tudo, podem fazê-lo ao lado do que venceu a doença, mas outros tem que recomeçar do nada, inclusive do vazio infinito da perda. Como bem disse minha amiga de Natal/RN.

Mediante tantas separações de casais, quando mais deveriam estar unidos, pergunto-me o quanto as emoções podem interferir ou estar conectadas entre a mente e o corpo, porque as substâncias químicas que travam a guerra em corpos e também entre a razão e a emoção dão vazão a erros incompreensíveis em situações tão efêmeras.

Escrevo aqui no feminino, porque elas são a maioria, mas existe o contrário, homens que ficaram e mulheres que abandonaram. Porém neste universo, a mulher, a mãe é predominante, ela não abandona a cria, ela perde tudo, mas continua ali, incansável até quando precisarem delas.

Quem não conhece, e se não conhecem, deveriam, saber das lutas diárias das Mães de UTI, por exemplo, mulheres que estão anos vivendo em um hospital. E muitas delas e de muitas outras, como mães de filhos com deficiência, abandonadas pelo marido, como se eles não fossem pais.

As separações entre casais são tão somente entre os casais,ou deveriam, mas na maioria, separam dos filhos tambem. Graças a Deus, que pelo menos nisto, este índice é bem menor nos ultimos 10 anos.

Por outro lado é muito gratificante saber que ja existem bons exemplos espalhados pelo Brasil, como o que li recentemente: um hospital em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, humanizou o seu espaço, com desenhos cobrindo as paredes e brinquedos estão por toda a parte, inclusive com aquário, trazendo tranqüilidade aos que ali vivem, pos esta é a palavra, ali vivem, mãe e filho.

É preciso que haja em todos os estados iniciativas de humanização, que ocupem mais o horário nobre em prol de algum assunto que realmente seja nobre, e que mais insituições abracem estas mulheres e abracem também estes homens, e os ensine que o respeito a Deus e a família, devem estar em primeiro lugar. Tudo o mais pode esperar.
Que mais psicólogos, terapeutas ocupacionais, e etc, sejam contratados e andem, como todos, nos corredores ouvindo estas pessoas, elas precisam disto! É fortalecendo estas mulheres que elas terão mais energia para passarem para seus filhos.

Não tenham dúvida, o que está acontecendo por detrás dos consultórios médicos, merece uma atenção toda especial por parte dos nossos governantes. E que mais instituições como o Instituto Abrace http://www.institutoabrace.org.br/ sejam criados neste pais.

2 comentários:

  1. Mãe,

    Creio que ninguém nunca entenderá de verdade esta dor se não passar por esta experiência.

    Antes de você passar por esta dor muitas pessoas já passavam e nós como família ficávamos tristes quando sabíamos de um caso, mas nada fazíamos, pois infelizmente somente passando por esta dor vamos entender o tanto que as pessoas precisam de ajuda....e ao passar dos anos as pessoas tendem a esquecer a dor, caímos na nossa própria rotina.

    Antes nós achavamos que tudo era problema, ate passar por um problema de verdade...
    Quando vc diz da família que se distancia, pq a família por mais que sofra não entende a sua dor ou a dor da Kelly, pois não saímos de nossa rotina, ainda estamos aqui acordando, indo para nosso serviço, seguindo com a vida, imaginando nossos problemas e reclamando de coisas pequenas....o que fica no parente distante é a preocupação e quando o perigo vai passando ela vai diminuindo e por isto o afastamento, mas os pacientes e pais e mães que os acompanham ficam ai todos os dias passando pelos mesmos problemas e dores....

    Se esta dor pode ser superada por aqueles que passaram por ela so o tempo dirá...

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  2. Meu nenen Karen,

    A solidariedade, o amor ao próximo, sem dúvida é fortificado quando testemunhamos ou vivemos o fato. Porém, não é preciso vive-lo para entender e pelo menos tentar fazer uma pequena diferença.
    O que tento em meus desabafos escritos é que mais pessoas também tenham a mesma inciativa.
    Nossa família não teve falhas com a estória que estamos vivendo, mas nem por isso posso fechar os olhos para os que estão perto de mim.
    Sem dúvida, tudo isso hoje, é muito mais forte, mas quando dou este grito, é para que outras pessoas não esperem a dor, façam desde já alguma coisa. Conto com você nesta solidariedade e em muitas outras campanhas que poderemos fazer em prol destas pessoas.
    Te amo muito, incondicionalmente.

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